Atacou o MP por investigar o “zero-um”. “Está havendo um estardalhaço com o objetivo de promover desgastes à minha família”, reclamou
Jair Bolsonaro voltou a ameaçar o Ministério Público (MP) do Rio de Janeiro, no sábado (21), acusando o órgão de “abuso” por estar investigando o envolvimento de seu filho mais velho, Flávio Bolsonaro, chamado por ele de “zero-um”, nos crimes de peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
Ele já tinha reagido agressivamente na véspera, quando foi questionado sobre o assunto e sobre o suposto empréstimo de R$ 40 mil feito por ele a Fabrício Queiroz, assessor de Flávio, que seria a justificativa dos R$ 24 mil depositados por Queiroz na conta de sua mulher, Michelle Bolsonaro.
BUSCA E APREENSÃO
Queiroz teve seus endereços e os de seus familiares, todos lotados no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro, revistados na sexta-feira pela força tarefa do MP/RJ.
“Pergunta para a sua mãe”, disse o presidente ao repórter que participava da entrevista na sexta-feira (20) e que perguntou se havia algum comprovante do empréstimo a Queiroz, já que a suspeita é que este era o operador do esquema de lavagem. Destemperado, Bolsonaro disse isso, depois de agredir o MP/RJ, o governador do Rio e o juiz responsável pelas investigações.
Ele afirmou, sem nenhuma comprovação, que o governador Wilson Witzel está por trás das investigações sobre as atividades de seu filho.
Questionado no sábado sobre as agressões do dia anterior, Bolsonaro voltou a culpar os investigadores. Disse que está havendo um “estardalhaço” com o objetivo de promover desgastes. “Agora, se eu não tiver a cabeça no lugar, eu alopro”, acrescentou.
VAZAMENTOS SELETIVOS
Como fazem quase todos os corruptos e criminosos do colarinho branco, Bolsonaro reclamou de “vazamentos seletivos”. “Os caras vazam e julgam”, comentou.
Na sexta-feira (20) ele tentou justificar os crimes do filho dizendo que todos os deputados do Rio fazem a mesma coisa, ou seja, lavagem de dinheiro e contratação de funcionários fantasmas. Como se isso retirasse o caráter criminoso da lavagem de dinheiro e do uso de funcionários fantasmas.
No caso de Flávio a contratação de fantasmas é ainda mais grave porque entre esses fantasmas de seu gabinete estavam a mãe e a mulher de Adriano Nóbrega, miliciano foragido, chefe do Escritório do Crime, uma espécie de central de assassinos de aluguel das milícias do Rio.
A mãe do miliciano foragido, Raimunda Veras Magalhães, permaneceu no gabinete de Flávio até final de 2018. Ligações interceptadas de Adriano para sua mulher, Daniele Mendonça, onde o criminoso fala de valores recebidos por ela através do gabinete, fizeram o MP suspeitar de que a organização criminosa chefiada por Flávio pode ter como uma de suas práticas criminosas a lavagem do dinheiro para as milícias.
Na quarta-feira (18), a polícia, a pedido do MP/RJ e com autorização judicial, cumpriu uma série de mandados de busca e apreensão, ao dar andamento nas investigações sobre lavagem de dinheiro, peculato e organização criminosa, envolvendo Flávio e Queiroz.
LAVAGEM DE DINHEIRO
A suspeita é de que havia um esquema de lavagem de dinheiro através de funcionários fantasmas em seu gabinete, ou seja, apropriação ilegal pelo parlamentar de parte do salário dos assessores – uma parte dos quais era “fantasma”, ou seja, não trabalhava.
O clã Bolsonaro tinha conseguido que o ministro Dias Toffoli, do STF, suspendesse as investigações por mais de seis meses, através de uma liminar pedida pela defesa de Flávio. Em novembro o plenário do STF derrubou a liminar e as investigações foram retomadas.
Com as ações do MP/RJ e da polícia, o presidente voltou a ameaçar os procuradores dizendo que é necessário “um controle sobre o órgão”. “A questão do MP. Tá sendo um abuso. Todo poder tem que ter uma forma de sofrer um controle. Não é do Executivo, é um controle. Quando começa a perder o controle, busca pelo em ovo… Eu sou réu no Supremo, sofri muito processo os mais variados possíveis”, afirmou.
No dia anterior, ele insinuou, sem provas, que a filha do juiz Flávio Itabaiana, responsável pela quebra de sigilo de Flávio Bolsonaro, era funcionária fantasma do governo do Rio. Ele fez isso com clara intenção de tentar obstruir a ação da Justiça através de ameaças e chantagens.
BOLSONARO SABOTOU INVESTIGAÇÕES
Bolsonaro tentou de todas as formas parar as investigações sobre os crimes de Flávio.
Ele interveio na Polícia Federal do Rio, praticamente extinguiu o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), colocando o órgão que detectou movimentações financeiras suspeitas que chegaram a R$ 7 milhões na conta do ex- assessor de Flávio, no terceiro escalão do Banco Central, derrubou o chefe da Receita para impedir a quebra de sigilo fiscal do filho e de outros suspeitos, e, agora, jura de pés juntos que não está interferindo em nada. “Qual a interferência minha? Zero”, disse o presidente.
Quando falou do caso Marielle, Bolsonaro se complicou ainda mais. Ele disse que pegou os áudios das ligações realizadas entre a portaria e as casas do condomínio Vivendas da Barra antes que, segundo ele, os áudios fossem adulterados. Ele alegou isso, mas não especificou a data em que retirou os arquivos da portaria do condomínio.
Os áudios foram retirados por ele antes da polícia fazer a perícia no material. O porteiro havia dito em depoimento que Élcio de Queiroz, comparsa de Ronnie Lessa, assassino da vereadora, chegou ao condomínio Vivendas da Barra, onde residem, em casas vizinhas, Jair Bolsonaro e Ronnie Lessa, e pediu para ir na casa do presidente.
Processado pelo governo, o porteiro mudou a versão. Disse que Élcio foi direto para a casa de Ronnie Lessa e não para a casa de Bolsonaro.
Na sexta-feira, ao falar sobre as investigações, o presidente atacou um jornalista: “Você mesmo, tem uma cara de homossexual terrível”. Disse isso para fugir de perguntas sobre a lavagem de dinheiro e sobre as ligações de Fabrício Queiroz com as milícias.
A MULHER DO MILICIANO
O suposto ex-motorista aparece falando pelo zap com Danielle, mulher do miliciano Adriano Nóbrega e dizendo que precisava exonerá-la do cargo para não fazerem a ligação do gabinete de Flávio com as milícias.
Após a repercussão negativa das declarações agressivas de Bolsonaro, dadas na manhã de sexta, com editoriais em diversos jornais criticando o seu linguajar, ele tentou se retratar neste sábado (21): “Sim, eu erro, não deveria ter falado”, disse ele.
Só que as retratações de Bolsonaro já estão sendo encaradas apenas como teatros, já que elas vêm sempre junto com ataques ainda mais agressivos. Trata-se do “morde-e-sopra” pelo qual ficou notório desde a campanha eleitoral.
Não é por acaso que as pesquisas, como a do IBOPE, divulgada nesta sexta-feira (20), mostram Bolsonaro com 53% de pessoas desaprovando sua maneira de governar e 56% dizendo que não confiam no presidente.
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O MP deveria ser isento, mas o do RJ não é. Persegue Bolsonaro e família para viabilizar a candidatura do Witzel em 2022.
Sinceramente, leitor, o pessoal pode ser maluco, mas nem tanto. Esse é apenas o berro do Bolsonaro – o único que ele conseguiu arrumar.
o país não merece um delinquente desses na presidência e ainda ligado a milicianos – tem de ter um jeito de tirar esse babaca da presidência; o país está mal com tudo isso dessa família…