“Ele é amigo dos filhos do Trump e fala inglês”, alegou
Bolsonaro afirmou, na quinta-feira (11), que o novo embaixador do seu governo nos EUA, se depender dele, será o filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).
Segundo Bolsonaro, a nomeação depende apenas do próprio Eduardo, que é presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara. Conforme declarou, da parte dele, “decidiria agora”.
Ele deu essa declaração em uma entrevista coletiva ao final da solenidade de posse do novo diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem.
“Ele é amigo dos filhos do Trump, fala inglês, fala espanhol, tem vivência muito grande de mundo. No meu entender, poderia ser uma pessoa adequada e daria conta do recado perfeitamente em Washington”, assinalou.
“Já foi cogitado no passado, levamos em conta custo e benefício. Como seria compreendido naquele país. Fiquei pensando: imagina se tivesse no Brasil aqui o filho do Macri [presidente da Argentina] como embaixador da Argentina. Obviamente que o tratamento a ele seria diferente de outro embaixador, normal”, admitiu aos jornalistas.
Eduardo Bolsonaro disse que vai “cumprir da melhor maneira” a missão que receber do “presidente”, “onde quer que for”.
“Se o presidente Jair Bolsonaro me confiar essa missão, eu estaria disposto a renunciar ao mandato”, afirmou.
Eduardo Bolsonaro é deputado federal e presidente do PSL de São Paulo. “Falo inglês, falo espanhol, sou o deputado mais votado da história do Brasil, sou presidente da CREDN [Comissão de Relações Exteriores da Câmara]. Eu acredito que as credenciais me dão uma certa qualificação”, gabou-se.
Para alguns especialistas, a nomeação do filho poderia configurar nepotismo.
A Súmula Vinculante 13, estabelecida pelo Supremo Tribunal Federal (STF), caracteriza como nepotismo a nomeação de “parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica investido em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de confiança ou, ainda, de função gratificada na administração pública direta e indireta em qualquer dos poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, compreendido o ajuste mediante designações recíprocas, viola a Constituição Federal”.
O ministro Marco Aurélio de Mello criticou a possível nomeação e disse ver nepotismo no ato. “Essa é a minha leitura da Constituição Federal. Minha impressão [sobre a possível indicação] é péssima, só pode ser péssima, porque contrária, a indicação, se houver, sob a minha ótica, à Constituição Federal”, declarou.
Contudo, Marco Aurélio ressalvou que a maioria dos ministros do STF entende não haver nepotismo em casos assim.
Realmente, o principal problema do candidato de Bolsonaro a embaixador nos EUA é sua inabalável mediocridade – e sua submissão rasteira a Trump e ao que existe de pior naquele país. A ponto de colocar um boné pela reeleição de Trump, com aquela alegria inconfundível do lacaio ao bajular o patrão (v. foto acima). Será – ou seria -, portanto, um representante de Trump junto ao próprio Trump. Nisso, aliás, é muito parecido com o pai.
Quanto aos interesses nacionais… (estamos falando dos interesses nacionais do Brasil, leitor).
Porém, exatamente aí está o nepotismo: a única razão (?) para que Eduardo Bolsonaro seja nomeado embaixador nos EUA é ser filho de Jair Bolsonaro. Fora essa, não existe qualquer credencial que possa justificar sua nomeação.
Muito menos a que o próprio candidato a embaixador apresentou, na sexta-feira: “já fritei hambúrguer lá nos EUA”.
Para ser confirmado embaixador após a indicação, Eduardo Bolsonaro terá que ser sabatinado na Comissão de Relações Exteriores do Senado (CRE). Aprovado na comissão, ele precisará ser ratificado pelo plenário. As votações são secretas e a aprovação é por maioria simples.
O líder da Oposição no Senado e integrante da comissão, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), considerou a nomeação uma afronta e disse que entrará com uma ação no STF caso Bolsonaro confirme sua intenção. “É um escândalo total. Tenha certeza que o governo Bolsonaro terá o primeiro caso de rejeição de embaixador. É um caso flagrante de nepotismo que não pode ser aceito”, declarou.
Outro senador integrante da comissão, Marcos do Val (Cidadania-ES) questionou: “É a família que está no comando do governo federal?”. “Não sou favorável [à indicação]. Há profissionais que dedicam sua carreira a isso. Não vejo de forma nem um pouco positiva. Os filhos [de Bolsonaro] não podem ter este protagonismo que estão tendo porque você confunde”, afirmou.
Para o senador Angelo Coronel (PSD-BA), “será uma indicação terrível”. Contudo, ele quer sabatinar Eduardo Bolsonaro para aferir sua qualificação. “A relação familiar e falar a língua do país não significa que a pessoa tenha todos os predicados para a função”, disse Coronel.
Dentro do Itamaraty a pretensão de Bolsonaro, segundo fontes ouvidas, causou muita polêmica. Para os diplomatas, Eduardo Bolsonaro se tornaria um “bedel” dos diplomatas brasileiros nos EUA. Outros consideram que o filho de Bolsonaro transformará a diplomacia brasileira em Washington como “subdivisão do Departamento de Estado”, tal é a bajulação da família Bolsonaro a Trump.
Muitos diplomatas trataram a indicação como chacota e outros, surpresos, acharam inacreditável a indicação.