Bolsonaro e a “prova viva” da ignorância

Bolsonaro em Belém do Pará (Foto: reprodução de vídeo)

Ele repetiu em Belém do Pará, nesta quinta-feira (13), que estar vivo “é a prova da eficácia da cloroquina”

Há no atual governo quem jure que a terra é plana e que todos os planetas giram em torno dela. Nem as imagens do cosmonauta russo, Iuri Gagarin, ou da própria Nasa os convenceram de que nós vivemos numa bola e de que todos giramos em torno do sol.

A ciência, para eles, foi um grande mal que assolou a Humanidade e desarrumou a cabeça de todos ao destronar suas crendices milenares.

“A ciência, para eles, foi um grande mal que assolou a Humanidade e desarrumou a cabeça de todos ao destronar suas crendices milenares”

Pessoas com essa mentalidade são imunes a qualquer argumentação científica sobre a eficácia ou não do uso da cloroquina contra a atual epidemia do Sars Cov-2.

Bolsonaro disse, nesta quinta-feira (13), em Belém do Pará, que ele estar bem após se infectar com o coronavírus é a “prova viva” de que a cloroquina funciona.

Assim como também devem ser “provas vivas”, idênticas a ele, as pessoas que usaram a Ozonioterapia VR, recomendada pelo prefeito de Itajaí, no interior de Santa Catarina.

Todos os trabalhos científicos feitos até agora concluíram pela ineficácia da cloroquina e hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19, assim como todas as observações científicas dos últimos séculos apontam que a Terra é redonda e que os planetas giram em torno do sol.

Mas, tanto os charlatões dos remédios milagrosos para doenças que se curam sozinhas, como os terraplanistas e geocentristas não levam nada disso em consideração.

“Todos os trabalhos científicos feitos até agora concluíram pela ineficácia da cloroquina e hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19”

As doenças sem tratamento, que são agudas e autolimitadas, como é o caso da Covid-19, em sua maioria desaparecem sozinhas, mesmo que, no caminho, algumas pessoas não a suportem e sucumbam.

Ou seja, o agente causador da doença, na maioria dos casos, é eliminado pelo próprio sistema imunológico da pessoa. Mas, em alguns deles, os hospedeiros não suportam a reação inflamatória provocada pela doença e vão a óbito.

Este é o caso que ocorre na Covid-19. Cerca de 98% das pessoas infectadas pelo vírus Sars Cov-2 se curam sozinhas, e um percentual pequeno morre da doença.

Se o número de infectados é muito alto, por falha das autoridades em agir rapidamente nas medidas de interrupção da disseminação do vírus, o número absoluto de mortes é alto. Este é o caso do Brasil. Já passamos de 100 mil mortes. Somos o segundo no mundo em número absoluto de mortes, atrás apenas dos EUA.

Bolsonaro interveio no Ministério da Saúde, demitiu dois ministros em plena pandemia, esvaziou o órgão de técnicos da área e impediu que fossem tomadas as medidas coordenadas de vigilância epidemiológica.

Sabotou o isolamento social, detonou o uso de máscaras e reteve o quanto pode o apoio financeiro para que as pessoas pudessem se isolar. E, por fim, estimulou de todas as formas que as pessoas se infectassem.

“Bolsonaro sabotou o isolamento social, detonou o uso de máscaras e reteve o quanto pode o apoio financeiro para que as pessoas pudessem se isolar”

O resultado foi esse verdadeiro genocídio que está assolando o Brasil. Ele poderia ter sido evitado, ou pelo menos minimizado, se o governo não fosse irresponsável. Se Bolsonaro liderasse uma atuação coordenada de combate à pandemia, o resultado seria outro.

Se o governo se mobilizasse para garantir os insumos para o diagnóstico, os equipamentos para a proteção individual, os recursos para as ações sociais de isolamento e os leitos e equipamentos para o tratamento dos doentes, o Brasil estaria em outra situação. Se o governo liberasse os recursos para a mobilização do “exército” de agentes de saúde, que são mais de 300 mil no país, para rastrear os contatos e localizar e isolar os infectados, todo esse sofrimento poderia ter sido evitado.

Mas, ao invés de fazer isso, Bolsonaro ficou o tempo todo desdenhando da pandemia, retendo dinheiro, estimulando as pessoas a se infectarem e atacando os governadores, os prefeitos, a ciência, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e os médicos.

Para fugir de sua responsabilidade pela tragédia, Bolsonaro preferiu a charlatanice de apregoar a cloroquina como um remédio milagroso, assim como poderia ter sido o ozônio de Itajaí, a Ivermectina ou outra coisa qualquer. O resultado seria o mesmo. Muitos se curariam sozinhos, como efetivamente se curaram, e uma parte das pessoas infectadas morreria.

Por isso, ao contrário do que Bolsonaro diz, ele é a prova viva não de uma suposta eficácia da cloroquina. Ele é prova viva da irresponsabilidade, da prepotência e da ignorância que imperam em seu governo.

Ele deveria ter tomado outras medidas, essas, sim ,eficazes, para combater a pandemia, em vez de ficar papagueando e repetindo as besteiras de Trump com sua propaganda enganosa da cloroquina.

Mas, tentar convencê-lo disso é o mesmo que tentar convencer um terraplanista de que a terra é redonda. Você mostra o trabalho científico contestando a droga e ele diz que é mentira. Você mostra a foto da Terra feita pela Nasa, e ele diz que é montagem. Você fala das mortes e ele responde “E daí?”. Enquanto isso, a tragédia segue e mais de mil brasileiros seguem morrendo todos os dias.

SÉRGIO CRUZ

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