O PSL se dividiu em duas facções que disputam o controle do partido com ostensivo desprezo pela decência e o decoro parlamentar.
Qualquer semelhança com milícias disputando territórios no Rio de Janeiro ou traficantes se matando por pontos de venda de drogas não é mera coincidência.
Ainda não saiu tiro, mas é só questão de tempo.
A virulência do “fogo amigo” atingiu o presidente da República, qualificado pelo Delegado Waldir de “vagabundo”, e já trata a Sra. Joice Hasselmann, ex-líder do governo no Congresso, como “porca” e o filho predileto do presidente, Carlos Bolsonaro, como “Lassie”.
Aliás, a respeito desse filho problemático, Bolsonaro fica devendo uma explicação sobre o que quis dizer quando afirmou: “Prefiro que um filho meu morra num acidente do que apareça com um bigodudo por aí. Para mim ele vai ter morrido mesmo”.
Talvez não tenha querido dizer nada. Foi só uma afirmação como outras com a qual não tem compromisso algum, mas que acredita ser capaz de lhe render votos em certos redutos. Exemplo: “Deus acima de todos”, a “santidade da família tradicional”, a “infalibilidade da Bíblia”, o “combate intransigente à corrupção” etc.
Mas também pode ser que ele tenha procurado comunicar algo que precisaríamos recorrer a Freud para captar o significado. Fica o registro, é coisa que escapa ao âmbito deste artigo.
Voltando ao litígio: é notório, pois no PSL ninguém faz questão de guardar segredo, que mais do que o controle do partido o alvo da cobiça das facções é o controle do dinheiro do partido.
No ano de 2020 o PSL receberá R$ 350 milhões dos cofres públicos – uma bolada para Queiroz nenhum botar defeito.
Os recursos equivalem à soma do fundo partidário com o fundo eleitoral, ambos proporcionais à quantidade de votos para deputado federal obtidos pelo partido na eleição de 2018. Esse é um dos resultados da criminosa reforma eleitoral de 2017, através da qual os gênios do PT pretenderam estabelecer para si o monopólio da representação parlamentar da “esquerda”, tirando dos partidos menores tempo de TV, acesso a recursos financeiros, coligações eleitorais e representações na Câmara e Senado.
O bolsonarismo histórico (cáspite!), isto é, a famiglia, quer concentrar esses recursos no que lhes parecer mais útil para a reeleição do papai Bolsonaro e seu delírio de tornar-se o valete preferencial de Trump. Mas os bolsonaristas de ocasião, que saíram do anonimato na sua aba, numa onda cujos sinais de esgotamento já são visíveis, querem usar os milhões em seu próprio proveito.
Presidente do PSL desde a sua fundação (1998), Luciano Bivar, que detém a chave do cofre que dá acesso aos milhões do partido, é dessa corrente que acredita que agora a vez de “molhar o bico” é da facção que se agrupa em torno dele.
A favor de Bolsonaro conta o fato de que por ora é o dono dos votos. Os bolsonaristas de ocasião, salvo exceções que confirmam a regra, não têm passado político nem votação própria, foram eleitos parasitando os votos do mito.
Porém, uma estrutura do tipo milícia, que é o máximo que os bolsonaristas conseguem conceber e criar em matéria de organização, tem mais semelhança com um governo feudal do que com uma monarquia absoluta.
Luís 14 dizia: “O Estado sou eu”. O rei feudal, no entanto, precisava ser mais modesto e flexível, sua vontade devia ser temperada pela dos senhores feudais.
Desequilibrado como é, Bolsonaro não aceita e jamais aceitará essa condição. Vai sovar Bivar até que ele morra ou se renda, isto é, transfira a chave do cofre para a famiglia.
O vale tudo que tomou conta do PSL expressa essa contradição. E a chapa apenas começou a esquentar.
(SÉRGIO RUBENS)