Bolsonaro e o governador do Amazonas fizeram um trágico laboratório do vírus, diz o vice

O vice-governador do Amazonas, Carlos Almeida. Foto: Agência Senado
Segundo Carlos Almeida, Wilson Lima e Bolsonaro tentaram fazer um teste pela “imunidade de rebanho”. “O que se mostra é que o tiro saiu pela culatra, ocorreu a gestão de uma cepa mais contundente”, diz o vice-governador, rompido com Wilson

O vice-governador do Amazonas, Carlos Almeida Filho (sem partido), disse que Jair Bolsonaro combinou com o governador do Estado, Wilson Lima (PSC), de fazer Manaus um teste para a “imunidade de rebanho”.

“A estratégia foi mostrar alinhamento [com Bolsonaro]. Uma coisa era clara, a política era de afirmar que se tinha uma imunidade de rebanho”, disse Carlos Almeida ao jornal Folha de S.Paulo.

“O que acabou acontecendo foi um laboratório, a P1 [variante do coronavírus] encontrou um ambiente adequado”, completou o vice-governador, que está rompido com Wilson Lima.

Além do surgimento da P1, que é uma variante mais contagiosa e mortal do coronavírus, Manaus sofreu com a morte de mais de 100 habitantes por cerca de 20 dias por conta do negacionismo do governador, que não determinou medidas restritivas. Durante esse período, faltou oxigênio medicinal nos hospitais e internados morreram asfixiados.

A tese da “imunidade de rebanho” é defendida pelo governo Bolsonaro. Trata-se de fazer com que a população se infecte o mais rápido possível, e mate quem tiver que matar, para que os sobreviventes tenham imunidade e a região não tenha que fazer restrições de circulação. A tese já foi refutada por cientistas de todo o mundo porque implica na lotação de hospitais e mortes que poderiam ser evitadas.

“Quando o ministro [Eduardo Pazuello] chegou para resolver o problema, ele já estava criado. Mas que problema é esse? A política de contaminação para ter imunidade de rebanho. Era dito no Amazonas que o convívio e contaminação geraria isso. Essa era a política anunciada pelo próprio governo federal. Mas nesse ponto, o que se mostra é que o tiro saiu pela culatra, ocorreu a gestão de uma cepa mais contundente. Isso é por inação do governo estadual, mas também por causa de uma política do governo federal”, afirmou Carlos Almeida Filho.

O vice-governador citou as operações da Polícia Federal para investigar a compra de respiradores pelo governo do Amazonas, que o governador Wilson Lima respondeu tentando se aproximar de Bolsonaro.

“Quando houve envolvimento do governador na operação [da PF] em junho, com muita contundência, com pedido de prisão, a estratégia dele [Wilson Lima] explícita foi mostrar alinhamento com as políticas de combate à pandemia do governo federal”, contou o vice.

“Para isso, contrariamente às medidas sanitárias que deveriam ser aplicadas, o Amazonas deixou de tomar as medidas e deixou a P1 ser gerada. Quem diz isso são os especialistas, a P1 foi gestada entre outubro e novembro, quando se cobrava do governador medidas de contenção”, acrescentou Carlos.

O vice-governador disse que rompeu com Wilson Lima porque “não concordava com nenhuma medida de irregularidade”.

Carlos Almeida Filho disse ainda que a responsabilidade sobre a falta de oxigênio medicinal é do governador, uma vez que a empresa White Martins, que faz o abastecimento, avisou com antecedência que iria faltar o insumo na cidade.

Esse é um dos temas investigados pela CPI da Covid. Ele diz que está à disposição da comissão e que se for chamado prestará esclarecimentos.

Almeida Filho também foi investigado no caso da compra de respiradores no Estado. A PF não indiciou o vice sob a alegação de falta de provas, mas a Procuradoria-Geral da República o denunciou por organização criminosa.

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