EUA pagou cerca de US$ 20 pelas doses da Pfizer, o dobro do valor que foi recusado pelo governo brasileiro durante vários meses em 2020
A sabotagem de Bolsonaro à compra de vacinas não causou apenas mais mortes e muito sofrimento às famílias brasileiras. Trouxe também grandes prejuízos financeiros aos cofres públicos do país. Hoje sabe-se que o capitão cloroquina e seu ministro Pazuello recusaram a oferta da Pfizer, feita em 2020, de 70 milhões de doses de vacinas a um custo US$ 10 a dose, ou seja, metade do preço pago pelos EUA e por países da Europa.
Mas precisamente, EUA e Reino Unido pagaram cerca de US$ 20 pelas doses da Pfizer, o dobro do valor recusado pelo Brasil durante vários meses em 2020. Na União Europeia, as doses do laboratório norte-americano custaram US$ 18,60.
Essas 70 milhões de doses de vacinas oferecidas pela Pfizer, por US$ 10, poderiam ter sido entregues a partir de dezembro do ano passado. Mas, Pazuello e Bolsonaro recusaram a proposta, considero-a muita “agressiva”. Os dois apontaram “entraves” em cláusulas do contrato e passaram cinco meses sem dar nenhuma resposta à empresa americana. Bolsonaro chegou a dizer à época que quem tomasse a vacina poderia se transformar num jacaré e não teria a quem reclamar, por conta de cláusulas do contrato.
O vice-presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), afirmou, na última sexta-feira (4), que o governo federal ignorou 53 e-mails da farmacêutica Pfizer ofertando doses de vacinas contra Covid-19 ao Brasil. Isso causou um grande atraso na vacinação da população brasileira. O retardo na imunização, a falta de uma coordenação nacional de combate á Covid-19 e as atitudes de Bolsonaro contra o distanciamento social levaram o Brasil a ocupar o segundo lugar no mundo em número absoluto de mortes, perdendo apenas para os EUA.
Já são mais de 470 mil mortos e a vacinação está em ritmo muito lento. Mais a falta de vacinas faz com que menos de 11% da população tenha sido imunizada até agora com as duas doses. O Brasil é o 66º no ranking mundial de vacinação em relação à população. Especialistas apontam que é necessário que pelo menos 75% da população esteja vacinada para que os números da pandemia comecem a baixar.
Nesta época, em que Bolsonaro recusou comprar a vacina da Pfizer, ele também atacava a CoronaVac, vacina desenvolvida pelo Instituto Butantan, em parceria com a empresa chinesa Sinovac. Disse publicamente que a vacina poderia causar doenças, deformidades e até a morte. Chegou a desautorizar publicamente o seu próprio ministro da Saúde, depois que ele anunciou a intenção de compra de 46 milhões de doses de vacinas do Instituto Butantan.
Não fosse a pressão exercida pelos governadores, em especial o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), pela aprovação pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e o início da vacinação com a CoronaVac, até hoje o país não teria dado início à imunização de sua população. Agora vieram a público os vídeos mostrando que os “antivacinas” montaram um “gabinete das sombras” e se reuniam, sob o comando de Bolsonaro, dentro do próprio Palácio do Planalto.
Além do prejuízo financeiro causado aos cofres públicos pela demora na compra a um preço mais baixo, a demora trouxe um grande prejuízo também para a economia e para os empregos. Segundo especialistas, na economia, essa atitude negacionista de Bolsonaro trava principalmente o setor de serviços, responsável por 70% do PIB e dos empregos. O colapso no setor levou a série histórica de desemprego do IBGE a um recorde: 14,7%, com 14,8 milhões de desocupados.
A reportagem da Folha de S. Paulo revelou que obteve os preços oferecidos ao Brasil através de contratos públicos do Ministério da Saúde e declarações de autoridades na CPI da Covid. Parte dos valores também foi divulgada pelos fornecedores — como da Fiocruz — ou obtidos por meio de outros documentos da pasta.
A Pfizer diz que trabalha com “abordagem de preços diferenciados” para garantir que países tenham acesso ao imunizante. A farmacêutica diz manter o mesmo posicionamento desde as primeiras negociações. “Aqueles com menor capacidade de pagar pela vacina pagarão um preço mais baixo, de acordo com os recursos de seu governo, enquanto os que podem pagar mais deverão fazê-lo”. O executivo da empresa repetiu essas informações em seu depoimento à CPI.