Cresce o isolamento político de Bolsonaro e, ao mesmo tempo, o esfacelamento do PSL, partido que abrigou as falanges bolsonaristas, os laranjas e todo o tipo de oportunistas em 2018.
Desde o escândalo Fabrício Queiroz, que atingiu em cheio integrantes da família do presidente, até o laranjal de Minas e Pernambuco, passando pela debandada de parlamentares, o bate-cabeça no PSL não para de avançar. Agora foi o “mito” que resolveu atacar o partido.
Movendo-se nos bastidores – e também fora dele – na tentativa de livrar o filho, Flávio, das investigações de lavagem de dinheiro e associação criminosa, conduzidas pela Polícia Federal e o Ministério Público do Rio, Bolsonaro resolveu partir para cima do PSL e jogar nas costas do partido todo o desgaste provocado pelos escândalos de corrupção que não param de emergir.
Na saída do Palácio do Alvorada, na manhã de terça-feira (08), um homem se apresentou a Bolsonaro como pré-candidato no Recife pelo PSL. Bolsonaro, então, cochichou em seu ouvido: “Esquece o PSL”. Ainda assim, o rapaz gravou um vídeo junto ao presidente em que diz: “Eu, Bolsonaro e Bivar juntos por um novo Recife”. Bolsonaro então pediu para que ele não divulgasse a gravação.
“Ô cara, não divulga isso, não. O cara, Bivar, está queimado para caramba lá. Vai queimar o meu filme também. Esquece esse cara, esquece o partido”, recomendou. A conversa foi gravada por um dos apoiadores e publicada no canal do Youtube “Cafezinho com pimenta”. Assim que o presidente repreendeu o rapaz, ele respondeu que iria esquecer o PSL e gravou um novo vídeo suprimindo o nome do partido e do dirigente. “Viva o Recife, eu e Bolsonaro”.
A disputa para saber quem está com o filme mais torrado, se o partido ou o “mito”, não é fácil. O PSL, realmente é um amontoado de nulidades e de laranjas que se aproveitaram da onda obscurantista de 2018 para se eleger, mas Jair Messias Bolsonaro, assim que começou seu desgoverno, já no carnaval, era vaiado e xingado por quase todos os blocos de foliões.
Antes “mito”, Bolsonaro passou a ter dificuldades para frequentar até estádios de futebol sem ouvir estrondosas vaias e, agora, nos dois últimos fins de semana, foi vaiado novamente – e orientado a fazer algumas outras coisas – em todos os shows do Rock In Rio, que reuniu cerca de 700 mil pessoas.
O desgaste já é grande e as pesquisas de opinião confirmam a sua queda. Elas já mostram que regiões antes bolsonaristas, como a região Sul do país, não apoiam mais o governo como faziam antes.
É certo que o PSL é desgastado apenas dentro do país, enquanto Bolsonaro já é repudiado em praticamente todo o planeta. Seu desgaste internacional é fruto de sua ridícula adulação a Donald Trump e seus ataques às florestas, aos índios, à ciência e aos direitos humanos.
Seu “diálogo com fanáticos” na ONU, como classificou a sua fala na Assembléia Geral do órgão um professor da UNB, ampliou seu desgaste no mundo. Muitos dirigentes passaram a perceber que a decepção com o fiasco petista abriu espaço para o fascismo e o capachismo no Brasil.
Bolsonaro chegou ao extremo de esperar num corredor da ONU durante mais de uma hora para cercar Trump e dizer-lhe: “I love you”, e obter como resposta de seu guru apenas um “que bom te ver de novo”.
Seu pronunciamento nas Nações Unidas foi um vexame tão impressionante que o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), líder da oposição no Senado, classificou de “vergonhoso! “Não tem outra palavra para expressar o discurso do Sr. Jair Bolsonaro na ONU”, disse Randolfe.
“Adulterou dados e tentou convencer o mundo que sua desastrosa política ambiental não está causando danos à Amazônia. Para Randolfe, o que ele fez foi “atacar a Amazônia e o povos indígenas”. “Defendeu a ditadura. Fala grosso com os povos da floresta e fino com desmatadores”, denunciou o senador pelo Amapá. Ele considerou várias frases, ditas por Bolsonaro na ONU, como “asneiras ideológicas”.
Líderes políticos como Jandira Feghalli (PCdoB-RJ), líder da Minoria na Câmara, Alessandro Molon (PSB-RJ), líder da oposição na Câmara, o próprio Randolfe Rodrigues (Rede-AP), líder da oposição no Senado, Roberto Feire, presidente do Cidadania, Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, a grande maioria dos governadores, Ciro Gomes (PDT) ex-candidato a presidente, militares, como o general Santos Cruz, demitido da Secretaria de Governo e o general João Carlos de Jesus Corrêa, que ocupava a presidência do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), o ex-presidente Fernando Henrique (PSDB) e muitos outros, vêm criticando o comportamento retrógrado de Jair Boslonaro.
Recentemente até ex-aliados como o governador de São Paulo, João Dória (PSDB) e o senador Major Olimpio (PSL-SP), líder da bancada do PSL, demonstraram descontentamento com o que vem ocorrendo no governo. O senador por São Paulo ficou particularmente irritado com as interferências dos filhos do presidente. “Flávio Bolsonaro para mim acabou, não existe”, disse o senador. Em entrevista para o sistema Broadcast de notícias em tempo real do Grupo Estado, o senador criticou a atuação do filho protegido de Bolsonaro.
A principal rede de TV brasileira, a Rede Globo, o jornal Folha de S. Paulo e outros veículos da imprensa brasileira também já perceberam a tragédia que Bolsonaro significa para o Brasil e para o seu povo. Falta só esses órgãos deixarem de apoiar seu programa econômico desastroso.
Portanto, a disputa de quem está mais torrado é dura. O PSL se afunda em laranjais e se divide no Congresso. Mas, Bolsonaro não fica atrás. Se desmascara como paladino do combate à corrupção ao desmontar um a um os órgãos de combate à roubalheira, como o Coaf, a PF e a Receita Federal, visando defender o filho criminoso. Cada vez menos brasileiros estão acreditando em sua demagogia. Quem vai se estatelar primeiro, o mito ou o PSL, portanto, segue ainda como uma incógnita.
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