O PSL terá, no próximo ano, somados os fundos partidário e eleitoral, R$ 350 milhões – e isso é a estimativa mínima. Algumas outras vão a bem mais que isso.
A briga de Bolsonaro com o PSL é para embolsar esse dinheiro – e colocá-lo aonde lhes aprouver.
Por isso, Bolsonaro tentou derrubar o líder do partido na Câmara para colocar, em seu lugar, o zero-alguma coisa, quer dizer, seu filho, Eduardo Bolsonaro.
Somos obrigados, aqui, antes de continuar, leitores, a uma consideração: escrever sobre certos assuntos é difícil – e não porque esses assuntos sejam difíceis, mas porque os personagens e acontecimentos são muito mesquinhos, muito pequenos, em verdade, de estatura bacteriana (no máximo).
Não é normal fazer uma declaração dessas em um artigo para jornal, mas… que outra coisa se pode fazer?
Por exemplo, o líder do PSL, Delegado Waldir, depois do furdunço de quinta-feira (17/10), declarou: “Nós somos Bolsonaro. Somos que nem mulher traída, apanha, mesmo assim volta ao aconchego”.
Esse é o mesmo sujeito que foi gravado, poucas horas antes, dizendo: “eu vou implodir o presidente. Aí eu mostro a gravação dele, eu tenho a gravação. Não tem conversa, eu implodo o presidente, cabô, cara. Eu sou o cara mais fiel a esse vagabundo, cara. Eu votei nessa porra, eu andei no sol 246 cidades, no sol gritando o nome desse vagabundo”.
Segundo o deputado, isso foi dito em “um momento de sentimentos”.
Enquanto isso, Bolsonaro declarou que não aceita a “mulher traída” de volta: “tenho certeza que a maioria do partido continua comigo caso eu venha a sair do partido. A maioria honra o compromisso de campanha. Infelizmente uma minoria não, já se enveredou por outro caminho”.
“Compromisso de campanha”? “Outro caminho”?
Que compromisso de campanha? Bolsonaro foi para o PSL porque achou que esse grupo era o melhor hospedeiro para sua campanha.
Os que se agregaram em torno dele, o fizeram porque queriam aproveitar a candidatura de Bolsonaro para se elegerem.
Portanto, foi, e ainda é, um conúbio de oportunistas, aquela espécie de conluio para se dar bem na vida – e nada mais que isso.
A briga atual é a maior prova disso. O povo brasileiro nunca esteve em pior situação, devido, precisamente, a eles, Bolsonaro e seu entorno de marginais. Mas essa canalha (as duas) não tem outra coisa a fazer na vida do que ficar disputando o dinheiro do fundo partidário e do fundo eleitoral.
Para quê? Para ganhar dinheiro e para continuar acabando com o país, pois essa gente não tem outro jeito de ganhar dinheiro que não seja destruindo o país, colocando idosos na cova e matando crianças de fome.
Porém, alto lá! Diz a deputada bolsonarista Bia Kicis: “a gente não faz questão do fundo, saímos sem ele, mas também não queremos deixar esse valor nas mãos do PSL, não queremos que seja utilizado por quem não tem seguido regras de transparência”.
Claro, claro, é tudo uma questão de zelo pelo dinheiro público. Por isso, Bolsonaro está disputando o dinheiro dos fundos do PSL: pelo amor à transparência. Veja-se o caso do Flávio Bolsonaro e do Queiroz…
Já o zero-não-sei-das-quantas, o deputado Eduardo Bolsonaro, resolveu esculhambar com sua colega Joice Hasselmann, demitida da liderança do governo por seu pai, colocando seu retrato em uma nota de três dólares (o zero é sempre um sujeito original), na Internet.
Resposta da deputada: “Olha só mais um ‘presentinho’ da milícia digital para mim. Anota aí: NÃO TENHO MEDO DA MILÍCIA, NEM DE ROBÔS! Meus seguidores são DE VERDADE, orgânicos. E não se esqueçam que eu sei quem vocês são e o que fizeram no verão passado” (maiúsculas no original).
Se sabe, devia dizer. Mas como o interesse público é o que menos importa…
Quanto ao PSL, mostrou que é o partido mais instantâneo que já houve, mais instantâneo que o antigo Leite Glória, aquele que dissolvia sem bater.
Apenas algumas horas após os acontecimentos de quinta-feira em torno da liderança do partido na Câmara, o PSL realizou uma Convenção Extraordinária.
Nessa Convenção, foi ampliado em 52 membros (+51%) o número de delegados com direito a voto para escolher a direção do partido; ao mesmo tempo, foram suspensos cinco deputados bolsonaristas, que não podem mais assinar listas pedindo a substituição do líder: “suspensão de todos os direitos, de qualquer manifestação em plenário, suspensão do direito de colocar nome em listas representando o PSL de escolha do líder do partido”, informou o líder, deputado Delegado Waldir.
Os deputados suspensos são os bolsonaristas Carla Zambelli (SP), Bibo Nunes (RS), Carlos Jordy (RJ), Alê Silva (MG) e Aline Sleutjes (PR).
O senador Major Olímpio declarou, ao final da Convenção, que o próximo passo é destituir os presidentes dos diretórios do Rio de Janeiro e de São Paulo, que se chamam, respectivamente, Flávio Bolsonaro e Eduardo Bolsonaro.
Foi uma Convenção mais relâmpago que as blitzkrieg dos nazistas. Com direito a um momento de quase sinceridade, quando o deputado Delegado Waldir responsabilizou pela crise do PSL “a conduta do Presidente da República, pela busca da chave do cofre do partido”.
É verdade. E os outros também.
Nenhum deles quer ficar com a chave do cofre para fazer alguma coisa que preste para o país e para o povo.
Por fim: Bolsonaro quer que a Advocacia Geral da União processe Delegado Waldir por tê-lo chamado de “vagabundo”.
O resultado é que o deputado, até então ansioso por fazer o papel de “mulher traída, que apanha e mesmo assim volta ao aconchego” (Deus!), resolveu confirmar que Bolsonaro é um vagabundo.
C.L.