Jair Bolsonaro foi alvo de protestos durante evento em Campinas (SP) na tarde da última sexta-feira (8). Ao iniciar seu discurso, ele foi interrompido por um grupo de mulheres citando a marca de 600 mil mortes por Covid-19, atingida na mesma sexta, o corte no orçamento de Ciência e Tecnologia e o veto ao projeto de seguridade menstrual. Elas também gritaram Fora Bolsonaro.
O ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações, Marcos Pontes, se levantou e pediu para o grupo se sentar, ao que Bolsonaro interrompeu: “Calma lá. Não vamos chegar ao nível deles não, por favor. Eu sairei daqui imediatamente se ela que me responder quanto é, quanto são 7 x 8, raiz quadrada de 4, saio agora daqui”, reagiu histérico.
Em outra fala durante o discurso, Bolsonaro afirmou ter havido “uma potencialização, uma politização” da pandemia e das 600 mil mortes de brasileiros.
“Em parte dá certo o nosso governo — não vou falar que é tudo 100% —, apesar da tal da pandemia, que houve uma potencialização, em que pesem as mortes. Lamentamos todas as mortes, mas houve uma politização enorme…”
Bolsonaro esteve em São Paulo, nesta sexta, onde participou da cerimônia de abertura da 1ª Feira Brasileira do Nióbio. O minério era um dos assuntos mais comentados por Bolsonaro quando era deputado federal e também foi tema recorrente na campanha eleitoral de 2018. Na Presidência da República, porém, Bolsonaro o menciona em raras ocasiões.
O Brasil é o maior produtor de nióbio do mundo, responsável por abastecer cerca de 90% do mercado mundial. O material serve principalmente como elemento de liga nos aços de alta resistência e baixa liga, usados na fabricação de automóveis, e na construção civil, como pontes e edifícios.
O evento ocorreu um dia após decisão do Ministério da Economia de retirar 92% dos recursos que seriam destinados a vários projetos científicos, inclusive a bolsas e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Dos R$ 690 milhões já previstos para projetos de ciência e tecnologia em 2022, sobraram apenas R$ 55 milhões (8% do total inicial).
Em discurso, Marcos Pontes pediu mais dinheiro para a área. “Ontem não foi um dia muito bom, com relação a orçamento, falando no ministério. Mas a vida da gente é assim: tem um dia bom, outro dia ruim. E eu tenho certeza que, com o apoio do presidente Bolsonaro, nós vamos conseguir recuperar o orçamento do ministério e aumentar esse orçamento. Porque é através desse investimento é que vamos construir o Brasil”, afirmou Pontes.
Na sequência, Bolsonaro debochou do ministro dizendo que ele o “perturba” bastante, mas disse não haver briga entre eles. “Ele me perturba bastante, e eu cobro bastante dele também, mas na harmonia, não existe briga.”
Corte afronta a ciência
Em nota enviada ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), a Iniciativa para a Ciência e Tecnologia no Parlamento (ICTP.br) apontou críticas à mudança.
“O argumento utilizado pelo Ministério da Economia afronta a comunidade científica e tecnológica: afirma que os recursos já transferidos para o MCTI não estão sendo utilizados”, disse. “Dá se com uma mão, para retirar com a outra. Nesse processo, agoniza a ciência nacional.”
Composta pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e a Associação Brasileira de Ciências, entre oito entidades, a ICTP.br enviou uma carta para que Rodrigo Pacheco reverta a decisão.
“O PLN 16 destinava 690 milhões de reais para o MCTI, alimentando em particular as bolsas e o Edital Universal do CNPq, mas, em cima da hora, por força de um ofício enviado pelo Ministério de Economia na véspera da reunião da CMO, mais de 90% desses recursos foram transferidos para outros ministérios, restando apenas R$ 55,2 milhões de reais, destinados ao atendimento de despesas relacionadas aos radiofármacos”, denunciam.
Segundo as entidades, o argumento de Guedes de que os recursos já transferidos para Ciência e Tecnologia não estão sendo utilizados é uma afronta. “Já nos manifestamos anteriormente sobre a estratégia perversa de alocar 50% do total dos recursos do FNDCT para crédito reembolsável, o qual, uma vez não utilizado, será recolhido ao Tesouro no final do ano. Dá-se com uma mão, para retirar com a outra. Nesse processo, agoniza a ciência nacional”.
Leia a seguir a carta assinada pela oito entidades que compõem a Iniciativa para a Ciência e Tecnologia no Parlamento (ICTP.br) – Associação Brasileira de Ciências (ABC), Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap), Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (Conif), Conselho Nacional das Fundações de Apoio às Instituições de Ensino Superior e de Pesquisa Científica e Tecnológica (Confies), Conselho Nacional de Secretários para Assuntos de Ciência Tecnologia e Inovação (Consecti), Instituto Brasileiro de Cidades Inteligentes, Humanas e Sustentáveis (IBCHIS) e Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).
MANOBRA DO MINISTÉRIO DA ECONOMIA AFRONTA A CIÊNCIA NACIONAL
A modificação do PLN 16, feita na última hora, no dia de hoje, pela Comissão Mista do Orçamento do Congresso Nacional, atendendo a ofício enviado ontem pelo Ministro da Economia, subtrai os recursos destinados a bolsas e apoio à pesquisa do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações e impossibilita projetos já agendados pelo CNPq. É um golpe duro na ciência e na inovação, que prejudica o desenvolvimento nacional. E que caminha na direção contrária da Lei 177/2021, aprovada por ampla maioria pelo Congresso Nacional.
O PLN 16 destinava 690 milhões de reais para o MCTI, alimentando em particular as bolsas e o Edital Universal do CNPq, mas, em cima da hora, por força de um ofício enviado pelo Ministério de Economia na véspera da reunião da CMO, mais de 90% desses recursos foram transferidos para outros ministérios, restando apenas R$ 55,2 milhões de reais, destinados ao atendimento de despesas relacionadas aos radiofármacos.
O argumento utilizado pelo Ministério da Economia afronta a comunidade científica e tecnológica: afirma que os recursos já transferidos para o MCTI não estão sendo utilizados. Cabe lembrar que esses recursos são para crédito, são reembolsáveis, e não interessam à indústria. Já nos manifestamos anteriormente sobre a estratégia perversa de alocar 50% do total dos recursos do FNDCT para crédito reembolsável, o qual, uma vez não utilizado, será recolhido ao Tesouro no final do ano. Dá-se com uma mão, para retirar com a outra. Nesse processo, agoniza a ciência nacional.
Fazemos um apelo aos parlamentares para que revertam essa decisão, com todos os meios disponíveis para repor os recursos destinados ao MCTI e ao CNPq. Está em questão a sobrevivência da ciência e da inovação no país.
Esse é só mais um motivo para se vaiar o “governo” deste… deste… (não consigo encontrar uma palavra publicável…). deste “infeliz”. Há centenas de outros. Este talvez seja um dos mais graves.