O deputado, que é investigado, se junta a Augusto Aras e ao Planalto na cruzada bolsonarista pró-corrupção
Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo Bolsonaro na Câmara dos Deputados, atacou a Lava Jato na sexta-feira (11), em entrevista ao site Uol.
O deputado, que já serviu a FHC, a Lula e à Dilma, que foi ministro de Temer e agora é substituto do deputado Major Vitor Hugo, do (PSL), na liderança de Bolsonaro na Câmara, disse que a força-tarefa da Lava Jato não respeitou as leis. Acrescentou também que ela praticou ativismo judiciário e teria agido para tirar Lula da eleição.
Ricardo Barros não gostar das investigações da Justiça e atacar a Lava jato é perfeitamente compreensível. Afinal, ele tem uma extensa ficha corrida. No ano passado, foi denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF) por atos de improbidade administrativa na época em que foi ministro da Saúde. Uma investigação iniciada em 2017 apontou irregularidades na condução dos processos de aquisição dos medicamentos para tratamento de doenças raras.
Segundo o MPF, o desabastecimento de remédios provocado pelas fraudes acarretou na morte de pelo menos 14 pacientes. Entre os denunciados no processo estava Tiago Pontes Queiroz, o indicado de Barros para o Ministério do Desenvolvimento Regional.
Barros foi também condenado a ressarcir os cofres públicos por fraude na venda de maquinário público durante o período em que foi prefeito de Maringá, o primeiro cargo eletivo que ocupou entre 1989 e 1993. Anos mais tarde, em 2016, o deputado apareceu na lista da Odebrecht como um beneficiário do esquema de propinas pagas pela empreiteira a políticos.
Seu discurso tem como objetivo desqualificar seus algozes, mas, também está sintonizado com a armação em curso, envolvendo o Planalto, o Procurador-Geral da República, Augusto Aras, Gilmar Mendes e alguns setores da oposição, interessados em enfraquecer a Lava Jato e o combate à corrupção.
Bolsonaro, por exemplo, já vem intervindo desde o início de seu governo em órgãos como o COAF (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), que denunciou seu filho, como a Receita Federal, para livrar amigos, e, por último a tentativa escancarada de aparelhar a própria Polícia Federal, como denunciou Sérgio Moro e, segundo ele próprio, para proteger sua família.
Os ataques à Lava jato estão sendo orquestrados. Augusto Aras fala em excessos e que tem que acabar com o “lavajatismo”. Bolsonaro por outro lado põe seu líder, Ricardo Barros, para dizer que houve ativismo judiciário. O mesmo Aras exige que dados sigilosos de investigações da Lava Jato sejam mandados para ele, e, por conseguinte, para o próprio Bolsonaro.
Esse era o plano. Com esses dados na mão, o Planalto poderia proteger amigos e familiares e chantagear os desafetos. Mas, os procuradores recorreram ao STF e Edson Fachin acabou com a festa. O Supremo proibiu que os dados chegassem às mãos de Aras.
Paralelo a tudo isso, a segunda turma do Supremo Tribunal Federal (STF), sob o comando de Gilmar Mendes, aproveitando-se da ausência de Celso de Mello, está revisando uma após outra, com apenas dois votos, diversas sentenças dadas pelos juízes da Lava Jato.
A afirmação de Barros, de que a Lava Jato tirou Lula das eleições, é reveladora das intenções do governo Bolsonaro. Ele manda seu líder dizer isso porque tem a pretensão de escalar quem serão os seus adversários nas próximas eleições. E não é difícil saber qual é a sua preferência.
E mais. O líder de Bolsonaro dizer que a Lava Jato tirou Lula das eleições é mais uma afronta bolsonarista à Justiça Brasileira. Afinal, para se atingir esse suposto objetivo, levantado por Barros, os integrantes da primeira instância da Justiça teriam que manipular a segunda e a terceira instâncias, afinal todas elas confirmaram as suas sentenças.