Já sabia do crescimento de 22% no desmatamento entre agosto de 2020 e julho de 2021 e não quis levar essa informação à COP 26
A Amazônia brasileira perdeu 13.235 quilômetros quadrados de árvores em um ano, de acordo com o último balanço anual, divulgado nesta quinta-feira (18) pelo governo de Jair Bolsonaro. A cifra indica um aumento de 22% no desmatamento ilegal entre agosto de 2020 e julho de 2021.
A informação já era de conhecimento do governo desde último dia 27 de outubro, portanto antes do início da cúpula do clima COP26. Bolsonaro, além de não comparecer ao encontro do clima, além de atacá-lo durante viagem ao Oriente Médio, escondeu dos brasileiros e do mundo que a situação da Amazônia se agravou.
Este avanço do desmatamento criminoso é o maior registrado nos últimos 15 anos. O balanço anual, elaborado com medições de satélite do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), é o mais esperado por todos os envolvidos na proteção e preservação da maior floresta tropical do mundo. É como uma prova final, a medida do sucesso ou do fracasso. Os dados do PRODES desmentem os discursos falaciosos de Bolsonaro feitos recentemente, inclusive na Assembleia Geral da ONU.
O projeto PRODES realiza o monitoramento por satélites do desmatamento por corte raso na Amazônia Legal e produz, desde 1988, as taxas anuais de desmatamento na região, que são usadas pelo governo brasileiro para o estabelecimento de políticas públicas. O PRODES utiliza imagens de satélites da classe LANDSAT (20 a 30 metros de resolução espacial e taxa de revisita de 16 dias) numa combinação que busca minimizar o problema da cobertura de nuvens e garantir critérios de interoperabilidade.
O desmatamento acelerado da Amazônia representa uma ameaça para o futuro do Brasil e do planeta. À medida que a área arborizada da Amazônia diminui de tamanho, a floresta perde biodiversidade e a capacidade de refrescar o planeta e desacelerar o aquecimento global. O sistema contabiliza áreas desmatadas de mais de 6,25 hectares, o que o torna o mais preciso entre os utilizados pelo Brasil.
Especialistas e ambientalistas acusaram o governo de ter ocultado as informações de que dispunha durante as negociações nas quais o Brasil se comprometeu a eliminar completamente o desmatamento até 2028. Também acusam as autoridades brasileiras de terem enganado o restante dos participantes da cúpula ao apresentar os resultados de outra medição, a dos alertas do sistema Deter, que é menos precisa e rendeu dados muito mais positivos.
O Observatório do Clima afirma que esses 13.235 quilômetros quadrados desmatados ilegalmente em um ano revelam “o triunfo do projeto ecocida de Bolsonaro”. Desde que a extrema direita e os negacionistas da ciência chegaram ao poder, em 2019, o crescimento da área devastada da Amazônia se acelerou, impulsionado por vários fatores, entre eles a impunidade e a conivência do Planalto.
A política ambiental do governo tem consistido em enfraquecer as estruturas de fiscalização e vigilância, além de dar asas a quem explora a floresta contornando as leis. Bolsonaro demitiu ambientalistas veteranos de seus cargos para substituí-los por policiais militares encarregados dos órgãos responsáveis pela proteção do meio ambiente, dos povos indígenas e da biodiversidade.