“Bolsonaro é essencialmente um mentiroso”, diz Carlos Fernando dos Santos Lima
O ex-procurador da República, Carlos Fernando dos Santos Lima, que, até 2018, foi um dos líderes da força-tarefa da Operação Lava Jato, em Curitiba, avalia que Jair Bolsonaro é a pior pessoa para presidir o país neste momento.
Segundo Carlos Fernando, o presidente “está numa política que é genocida” em relação ao enfrentamento da pandemia de Covid-19 e também vem adotando uma postura que contraria a Constituição Federal. Para o ex-procurador, “Bolsonaro é essencialmente um mentiroso”.
“Bolsonaro é incapaz de assumir o preço de governar. Nesse atual momento de pandemia, governar é tentar salvar vidas humanas. Ele quer transformar esse fato da natureza numa questão política, jogar o custo dela em cima de governadores e prefeitos. Falta para ele qualquer capacidade mínima para liderar um país num momento difícil”, afirmou, em entrevista ao jornal “Folha de S. Paulo”, na segunda-feira (8).
Sobre a conduta habitual do presidente de não respeitar as regras de saúde em plena pandemia, o advogado observou que Bolsonaro não segue as orientações do seu próprio governo e sabota as tentativas que outros gestores estão adotando no sentido de fazer o mínimo para diminuir o custo dessa pandemia.
O ex-procurador considerou que o atual chefe do executivo tem adotado uma política que contraria a Constituição e também comete crimes de responsabilidade. “Eu acho que a solução em relação a Bolsonaro é o impeachment. Para mim ele já cometeu crimes de responsabilidade muito maiores e mais graves que a Dilma”, disse.
“Bolsonaro é essencialmente um mentiroso, mas um mentiroso que mente de forma tão convictamente que ele acredita na própria mentira até o momento em que a desdiz”, frisou. Para o ex-líder da força-tarefa da Lava Jato, o presidente “surfou na onda anticorrupção” para vencer as eleições de 2018, fazendo um discurso “que ele mesmo sabia que ele não iria cumprir”.
Carlos Fernando criticou ainda a obsessão de Bolsonaro em incentivar o armamento da população. “Ele também incentiva atitudes como armar a população. Imagine nessa situação em que temos dificuldade de controlar pessoas que se acham no direito de fazer valer as suas opiniões de forma violenta, se nós armássemos a população? Nós teríamos milícias enfrentando milícias. O que também viola qualquer pacto constitucional”, observou.
O ex-procurador considerou que a integração do ex-juiz Sergio Moro ao governo contaminou a Operação Lava Jato com uma discussão política desnecessária. Antes de aceitar o convite para assumir o Ministério da Justiça, o então magistrado era o responsável pelas ações decorrentes da operação na primeira instância da Justiça Federal.
Porém, ele aponta o PT como principal responsável pela ascensão de Bolsonaro. “Se há alguém responsável pelo fenômeno Bolsonaro, chama-se Luiz Inácio Lula da Silva. Por dois motivos. Porque vendeu a esperança que o povo depositou no Partido dos Trabalhadores em troca da manutenção do poder através da utilização sistêmica da corrupção política. E elegeu o Bolsonaro quando o escolheu como adversário ideal. Uma polarização que eliminou o centro democrático”, pontuou.