O ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Silvinei Vasques, reuniu-se com Jair Bolsonaro e com o ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, no dia do segundo turno, logo depois colocar em prática o plano de atrapalhar as eleições com blitze ilegais.
Documentos do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) mostram que, no dia 30 de outubro de 2022, quando estava sendo realizado o segundo turno das eleições, Silvinei Vasques e Anderson Torres foram até o Palácio da Alvorada, onde Bolsonaro acompanharia a apuração.
Vasques e Torres chegaram ao local juntos, às 16h31. A saída de ambos também foi registrada às 17h20, cerca de 50 minutos depois.
Jair Bolsonaro já estava no Palácio desde às 15h30.
Naquele dia, a PRF realizava uma série de blitze com foco na região Nordeste, região onde Lula tem maior predomínio, atrapalhando a locomoção de eleitores.
Segundo a Polícia Federal, que prendeu Silvinei Vasques na quarta-feira (9), o plano era tentar diminuir a quantidade de votos que Lula teria, beneficiando Jair Bolsonaro.
Em suas redes sociais, Vasques fez uma publicação pedindo voto para Bolsonaro. “Vote 22. Bolsonaro presidente”, postou o então diretor-geral da PRF.
As blitze ilegais só foram interrompidas por determinação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), cujo presidente, Alexandre de Moraes, ameaçou de prisão Silvinei Vasques caso a ordem não fosse cumprida.
Silvinei Vasques teve que ir à sede do TSE para se explicar para Moraes. Logo em seguida, foi até o Palácio da Alvorada para se encontrar com Jair Bolsonaro.
A Polícia Federal encontrou provas de que a ação ilegal da PRF estava sendo planejada “desde o início de outubro”.
O ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, ordenou que a diretoria de Inteligência fizesse um mapeamento dos locais onde Lula obteve maior vantagem sobre Bolsonaro no primeiro turno.
Esse mesmo mapeamento foi encontrado no celular de policiais rodoviários que estavam nas blitze coordenadas por Silvinei Vasques.
Anderson Torres também tentou incluir a Polícia Federal no plano. Ele viajou até a Bahia e se reuniu com o superintendente regional da PF, Leandro Almada, que se recusou a participar do golpe contra as eleições.
PF OBTEVE PROVAS DOS CRIMES
Na representação da PF ao STF, na qual pediu autorização para prender Silvinei Vasques e para realizar operações de busca e apreensão, a corporação apresentou diversas provas de que o plano de Vasques era diminuir o eleitorado de Lula com as blitze.
A PF demonstra ainda a participação direta do Ministério da Justiça no planejamento do crime.
Nos dias 17 e 18 de outubro de 2023, a diretora de Inteligência do Ministério, Marília Alencar, armazenou em seu celular fotos de um “slide” e tabelas que traçavam os locais em que Lula obteve mais votos, proporcionalmente ao total, e a quantidade de equipes da PRF que atuavam na região.
Gráfico das fiscalizações a ônibus: Nordeste foi muito maior. Reprodução
As cidades mencionadas se encontram no Ceará, Bahia, Pernambuco, Paraíba, Maranhão e Amazonas.
Na tabela, há uma coluna chamada “qtd equipes”, “indicando o possível alcance de eleitores pelas equipes da PRF, abrangidos pelas suas bases/pontos fixos”, analisou a PF.
No dia 18, quando há uma mensagem de Marília a seu marido dizendo que estava “em reunião séria” no gabinete de Anderson Torres, que era ministro da Justiça.
Analisando os dados das operações da PRF, a Polícia Federal identificou que o efetivo “utilizado no Segundo Turno das Eleições 2022 foi muito maior na Região Nordeste do que nas demais regiões do Brasil”
“Da mesma forma, os pontos fixos de fiscalização foram muito maiores na Região Nordeste” do que no restante do país. “A quantidade de ônibus fiscalizados na Região Nordeste foi apenas de 221 (duzentos e vinte e um) a menos que a soma das demais regiões do Brasil, e a retenção de ônibus na referida região foi quase o dobro da soma dos retidos nas demais regiões”, continuou a PF.
Foto do slide apreendido no celular da delegada Marília Alencar. Reprodução
Há ainda mensagens trocadas entre agentes da PRF, como o ex-coordenador de Análise de Inteligência, Adiel Pereira Alcântara, e o ex-diretor de Inteligência, Luís Carlos Reischak Júnior, mencionando ações em “ônibus que levam passageiros de São Paulo para o Nordeste”.
Adiel, em conversa com outro agente ainda comentou que, durante uma reunião de gestão da PRF, Silvinei Vasques havia mencionado um “policiamento direcionado” a ser realizado no dia do segundo turno.