“CPF Cancelado” é a senha das milícias para anunciar mais uma execução. Apresentador bolsonarista, que também aparece na foto, faz dancinhas sempre que mais um é eliminado pelo esquadrão da morte local
Qualquer brasileiro de bom senso acharia normal que, neste momento de tantas angústias e sofrimentos causados pelo coronavírus, o presidente da República estaria, ou deveria estar, debruçado na busca de solucionar os problemas que impedem a aquisição rápida das vacinas em número suficiente para interromper a circulação do vírus mortal.
No entanto, não é isso o que está acontecendo. Jair Bolsonaro participou na sexta-feira (23) do programa do apresentador Sikêra Jr., da TV “A Crítica”, de Manaus, capital do Amazonas. Não falou uma palavra sobre os mortos da Covid-19. E ainda por cima reclamou que “é impressionante, só se fala em vacina nesse país”. Ou seja, não só não se preocupa com os mais de 385 mil mortos pela Covid-19, como ainda reclama de quem se preocupa com a tragédia.
Pior: Bolsonaro pousou ao lado do apresentador, com um sorriso cínico no rosto, para uma foto segurando uma placa representando um grande CPF e uma faixa por cima onde se lê a palavra “Cancelado”. Esse “CPF cancelado” que o presidente está segurando é nada menos do que o símbolo adotado pelos grupos de extermínio do estado do Amazonas. Ou seja, Bolsonaro resolveu fazer propaganda dos grupos de assassinos profissionais.
A apologia que Bolsonaro faz das milícias e dos esquadrões não é de hoje. Em 2003, então deputado federal, fez um louvor aos membros dos grupos de extermínio da Bahia: “Quero dizer aos companheiros da Bahia — há pouco ouvi um parlamentar criticar os grupos de extermínio — que enquanto o país não tiver coragem de adotar a pena de morte, o crime de extermínio, no meu entender, será muito bem-vindo. Se não houver espaço para ele na Bahia, pode ir para o Rio de Janeiro. Se depender de mim, terão todo o meu apoio… Na Bahia, pelas informações que tenho — lógico que são grupos ilegais —, a marginalidade tem decrescido. Meus parabéns!”
Em outra oportunidade, Bolsonaro também discursou em defesa do ex-capitão da PM, Adriano da Nóbrega, assassino profissional, mandachuva de uma das milícias mais perigosas da cidade do Rio de Janeiro e chefe do Escritório do Crime, uma central geral de crimes encomendados pela milícia, que esteve envolvida no assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes. Esse discurso foi em 2005, poucos meses depois que seu filho, Flávio Bolsonaro, homenageou o miliciano assassino com a Medalha Tiradentes, a maior honraria do Rio de Janeiro.
No pronunciamento (abaixo), Bolsonaro pede ajuda da então deputada federal Denise Frossard, ex-juíza criminal, para reverter a condenação de Adriano. O presidente criticou um coronel da PM, responsável por uma sindicância contra o miliciano, que depôs como testemunha de acusação, sem considerar, nas palavras de Bolsonaro, “o fato de ele ter sido um brilhante oficial”.
Discurso de Bolsonaro em 2005 defendendo o miliciano Adriano da Nóbrega
“Um dos coronéis mais antigos do Rio de Janeiro compareceu fardado, ao lado da Promotoria, e disse o que quis e o que não quis contra o tenente, acusando-o de tudo que foi possível, esquecendo-se até do fato de ele sempre ter sido um brilhante oficial e, se não me engano, o primeiro da Academia da Polícia Militar”, afirmou, segundo os arquivos taquigráficos da Câmara dos Deputados. Depois desse pronunciamento, não é de se estranhar, portanto, que Bolsonaro apareça agora fazendo propaganda dos grupos de extermínio do Amazonas.
A cada pessoa que é executada por essas milícias armadas no estado do Amazonas, o apresentador de TV bolsonarista aparece comemorando com um desses cartazes. Sikera Jr. é conhecido por comemorar dançando diante das notícias sobre as execuções desses grupos.
Recentemente, vieram a público notícias de que o irmão do ex-ministro e, agora, assessor palaciano de Bolsonaro, Eduardo Pazuello, Alberto Pazuello, é ligado a um desses grupos de extermínio do Amazonas chamado de “A Firma”. Aberto Pazuello chagou a ser preso por porte de drogas e de armas, estupro, atentado violento ao pudor e cárcere privado.
Durante sua participação no programa, Bolsonaro voltou a fazer ameaças à democracia em caso de agravamento da crise social causada pela Covid-19. Disse que já conversou com outros ministros sobre suas atitudes “se o caos generalizado se implantar no Brasil pela fome, pela maneira covarde como alguns querem impor certas medidas restritivas para o povo ficar dentro de casa”. Insistiu nos ataques às medidas de isolamento preconizadas pelas autoridades sanitárias como forma de diminuir os efeitos mortais da pandemia. Com isso, mais uma vez, ele mostra que está totalmente ao lado do vírus e contra o país.
Ao lado de Bolsonaro estavam os ministros da Saúde, da Educação e do Turismo, Marcelo Queiroga, Milton Ribeiro e Gilson Machado, respectivamente – todos fazendo apologia de milícias e dos esquadrões da morte.
ROBERTO FREIRE: “LAMENTÁVEL MINISTRO DA EDUCAÇÃO POSAR DE PAPAGAIO DE MILICIANO”
O presidente nacional do Cidadania, o ex-deputado Roberto Freire, compartilhou uma mensagem em suas redes sociais criticando duramente o episódio. “Nesta triste foto é lamentável ver o Ministro da Educação sorrindo com o culto a morte do “CPF Cancelado”. O Ministro deveria apresentar um projeto para Educação do Brasil e não posar de papagaio de miliciano”, diz a postagem.
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Esse homenageador de milicianos e seus ministros que mais parecem capangas, deveriam ter vergonha de participarem de programa de TV parabenizando grupo de extermínio, pergunto não é crime esse tipo de atitude?