Jair Bolsonaro riu e ironizou o afastamento por seis meses do governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), e a prisão do Pastor Everaldo, que o batizou, enquanto conversava com um apoiador.
O Pastor Everaldo está pagando por apoiar a candidatura e a gestão de Witzel no governo do Rio de Janeiro, por não ter se afastado do governador após o rompimento com Bolsonaro. Daí o ódio mortal do presidente contra o pastor que o levou até às águas do rio Jordão, em Israel, para um batismo em 2016.
Por sinal, o pastor já apadrinhou politicamente o próprio presidente da República, o que parece que acentuou a ira bolsonarista.
Na saída do Alvorada, na sexta-feira (28), Bolsonaro ouviu um apoiador falar do “Rio de Janeiro” e comentou rindo: “O Rio está pegando, o Rio está pegando hoje. Está sabendo do Rio hoje?”.
“O Governador já… Quem é teu governador?”, continuou.
“Meu governador? É o vice”, respondeu o apoiador.
“Está acompanhando aí”, completou Jair Bolsonaro, ainda em meio a risadas, revelando bem o seu estilo de pisar hoje na cabeça do aliado de ontem.
O Pastor Everaldo está entre os presos da operação da Polícia Federal deflagrada na manhã da sexta-feira. Foram cumpridas 17 ordens de prisão determinadas pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Membro da Assembleia de Deus e presidente do PSC, Everaldo foi um dos primeiros a incentivar a candidatura do então deputado federal Jair Bolsonaro à Presidência da República. O presidente foi do PSC de 2016 a 2018.
De acordo com testemunhos, Everaldo já estimulava a candidatura de Bolsonaro a presidente antes mesmo de se filiar ao PSC.
O pastor apresentou Bolsonaro a líderes evangélicos, entre eles, Silas Malafaia, hoje um dos principais apoiadores do governo Bolsonaro. Na pré-campanha, conduziu Bolsonaro em viagens pelas regiões Norte e Nordeste, organizando entrevistas em rádios locais.
E hoje o pastor colhe, em troca, como gratidão, o ódio típico de Bolsonaro devotado aos que lhe ajudaram.
Jair Bolsonaro não admite que ninguém no governo pense diferente dele sobre nenhum assunto. Ou está com ele, ou ele quer trucidar.
Pessoas que, de uma ou outra forma, se aproximaram deste governo, não se anularam ou divergiram do presidente, ou passaram a representar, em sua paranoia, uma ameaça à sua insignificância, foram hostilizados por ele de forma doentia e violenta.
Assim foi com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), com o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, com o ex-ministro-chefe da Secretaria de Governo da Presidência, general Santos Cruz e com o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro, só para citar alguns dos mais destacados desafetos do presidente.
Mandetta não se curvou ao obscurantismo, à ignorância, e à negação da pandemia impostas por Bolsonaro aos demais integrantes do governo.
Foi afastado e passou a ser atacado violentamente pelo presidente e por sua milícia digital. Em uma de suas lives, Bolsonaro afirmou que Mandetta “passou mais tempo com terror do que trabalhando”. Inventou que as medidas de proteção contra o coronavírus, como uso de máscaras, higiene das mãos e distanciamento social, preconizados por Mandetta, e por toda a comunidade científica brasileira e mundial, eram incentivos ao terrorismo.
O “ex-aliado” general Santos Cruz passou a ser xingado como traidor por Bolsonaro e por seus seguidores porque não concordou em entregar as verbas de comunicação do governo nas mãos dos membros do Gabinete do Ódio, comandado pelo filho do presidente, o vereador Carlos Bolsonaro.
Santos Cruz, que é um dos generais mais respeitados do país, um exemplo de competência, coragem e patriotismo, passou a ser enxovalhado nas redes sociais bolsonaristas. Tudo porque Bolsonaro e sua truculência não aceitaram a negativa do general em permitir que um grupo de fanáticos empalmasse a comunicação oficial do governo.
O caso do ex-ministro Sérgio Moro é ainda mais evidente de como Bolsonaro trata um aliado que diverge dele.
O presidente tentou intervir na Polícia Federal para controlá-la. Queria impedir investigações sobre integrantes de sua família e de seus amigos. Mais do que isso, queira controlar a PF também para tentar jogá-la contra seus desafetos.
Moro, que angariou respeito exatamente por seu esforço no combate à corrupção, se contrapôs às intenções de Bolsonaro.
Bastou que isso ocorresse para que o ministro se tornasse, na visão de Bolsonaro, o maior inimigo do governo. Seus seguidores passaram a queimar retratos de Moro nas ruas. Bolsonaro se soma ao seu coro de fanáticos e destila ódio ao ex-ministro.
WITZEL
O senador Flávio Bolsonaro, filho “01” de Jair, atuou diretamente no apoio a Witzel nas eleições do Rio durante o segundo turno.
Enquanto Witzel lhe servia, Bolsonaro tratava o governador do Rio com todas as honras. Mas após se desentender com ele, na primeira curva, foi só truculência.
O mesmo acontece com outros ex-aliados, como o senador Major Olimpio (PSL-SP) e a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), que foi líder de Bolsonaro no Congresso Nacional.
Segundo a revista Veja, como condição para retornar ao PSL, o presidente da República pediu ao presidente do partido, Luciano Bivar, para expulsar oito deputados federais e um senador. Entre os deputados estão Joice Hasselmann, Julian Lemos e Junior Bozzella. O senador é Major Olimpio. Bivar respondeu que não poderia atender a reivindicação.
Os bolsonaristas também atacaram Witzel pelas redes sociais.
Um integrante da ala bolsonarista do governo fluminense, que rompeu com Witzel após a briga com Bolsonaro no ano passado, Filippe Poubel (PSL) disparou contra o ex-aliado: “Ser afastado do cargo de governador é o início de uma série de punições exemplares que esse assassino, que roubou não só o erário, mas roubou vidas durante a pandemia, irá sofrer até a sua prisão. O seu destino não será diferente do de [Sérgio] Cabral e [Luiz Fernando] Pezão”, disse.
Outro da ala bolsonarista do PSL, Anderson Moraes, se disse “mais um dos enganados por Witzel”. “Nós, eleitores, fomos às urnas, mas fomos enganados. Hoje, o governador e esse grupo de pessoas que sempre pensaram em roubar foram afastados do governo. Nós continuaremos lutando”, completou.
No começo da pandemia, Bolsonaro e Witzel já estavam afastados. Na reunião ministerial do dia 22 de abril, Jair Bolsonaro chamou o governador do Rio de Janeiro de “estrume”.
O STJ decidiu afastar Witzel do cargo após investigação feita pela Procuradoria-Geral da República (PGR) apontar o envolvimento dele em desvios de recursos públicos no governo do estado.
A decisão que afastou Witzel do cargo por seis meses foi tomada monocraticamente pelo ministro Benedito Gonçalves. O governador sequer foi ouvido e nem mesmo teve acesso aos autos.
A PGR, que é comandada por Augusto Aras, escolhido para o cargo por Bolsonaro fora da lista tríplice, de forma inédita, até pediu a prisão do governador, o que foi recusado pelo ministro do STJ.
Para Witzel, o que há é perseguição contra si por ter rompido com Bolsonaro.
“Lamentavelmente a decisão do sr. Benedito (Gonçalves, ministro responsável pela decisão), induzido pela procuradora na pessoa da dra. Lindôra (Araújo, subprocuradora-geral da República), está se especializando em perseguir governadores e desestabilizar os estados com investigações rasas, buscas e apreensão preocupantes”, declarou.
Sobre o afastamento do governador do Rio de Janeiro, é melhor que o mesmo seja afastado pelo período o quanto transcorrem as apurações, (06) os seis messes e com agravante do governador transcorrem uma apuração na Assembleia do Rio de Janeiro com Impeachment do mesmo.
Que tudo seja apurado e quanto mais tirar o mal pelas raízes da corrupção é bom para o Rio de Janeiro, bom para o poder judiciário e o Brasil.