“O Secretário de Assuntos Fundiários do Ministério da Agricultura odeia os indígenas”, diz o general
A exoneração do general Franklimberg Ribeiro de Freitas da presidência da Fundação Nacional do Índio (Funai) por pressão do miliciano licenciado da UDR, Luiz Antonio Nabhan Garcia, atual Secretário de Assuntos Fundiários do Ministério da Agricultura (Mapa), é ilustrativo de como Bolsonaro pretende tratar as comunidades indígenas do país.
Nabhan, defensor do armamento de latifundiários, da invasão de terras indígenas e da eliminação de camponeses sem terra, reclamou com Bolsonaro que o general não estava atuando para facilitar as ações, quando os temas envolviam terras indígenas.
O general declarou que a Funai vem sendo alvo de interesses sem nenhuma relação com a causa indígena e que estes, mais uma vez, prevalecem no caminho da autarquia, mesmo estando ligada ao Ministério da Justiça (MJ).
“A realidade é que, infelizmente, assessores do presidente da República, que pensam que conhecem a vida e a realidade dos povos indígenas, têm assessorado muito mal o presidente da República”, disse Franklimberg.
“A informação que recebi é que, na quinta-feira, quando a Funai volta para o Ministério da Justiça, já não estarei aqui”, disse. O governo não conseguiu manter a Funai debaixo de Nabhan, mas, mesmo passando para a Justiça, o miliciano conseguiu demitir o general. Sérgio Moro assinou sua demissão.
“Há vetores externos sobre a Funai que, em seu histórico, sempre estão prevalecendo sobre as políticas indígenas”, advertiu o general. “Não fiz nada de errado. Procurei cumprir com todas as missões institucionais e as políticas do governo. Hoje o futuro da Funai é incerto. Não há como definir o amanhã”, enfatizou o general Franklimberg.
Em um discurso de despedida para servidores da Funai, feito na tarde da terça-feira (11/06), Franklimberg criticou duramente a atuação de Nabhan contra sua permanência no cargo e disse que o Secretário de Assuntos Fundiários do Ministério da Agricultura “odeia os indígenas”.
O ruralista vinha exercendo fortes pressões contra a atuação de Franklimberg. A intenção de abater o general ficou evidente quando Nabhan tentou emplacar a nomeação de 58 comparsas em cargos comissionados na Funai e o general impediu, informando que o limite para isso eram 26 cargos.
Nabhan Garcia também ordenou a Franklimberg que passasse a fazer publicações de processos de terras indígenas apenas quando estes fossem homologados pelo presidente da República, e não quando cumprissem etapas preliminares.
Franklimberg declarou que as publicações eram obrigatórias, o que também incomodou o ruralista, que é muito ligado a Jair Bolsonaro.
Presidente licenciado da União Democrática Ruralista (UDR), ele passou a ser o principal articulador das mudanças na demarcação de terras indígenas e licenciamento ambiental envolvendo essas áreas.
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