“Queiroz precisa dizer de onde saiu esse dinheiro”, declara Mourão
Bolsonaro negou, no sábado (08/12), qualquer irregularidade na transferência de R$ 24 mil reais, que Fabrício Queiroz, motorista de seu filho, Flávio Bolsonaro, fez para a conta de sua esposa, Michelle Bolsonaro, revelada em relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).
Pela segunda vez desde que foi divulgado esse relatório – em que foi registrado que o motorista movimentou R$ 1.236.838,00 em uma conta no Banco Itaú, inclusive o depósito de R$ 24 mil para a esposa de Bolsonaro – ele disse que o depósito foi pagamento de uma dívida que Fabrício Queiroz tinha com ele.
“Não botei na minha conta”, explicou Bolsonaro, “por questão de… eu tenho dificuldade para ir em banco, andar na rua. Deixei para minha esposa. Lamento o constrangimento que ela está passando no tocante a isso, mas ninguém recebe ou dá dinheiro sujo com cheque nominal, meu Deus do céu”.
Porém, como lembraram alguns jornalistas, esse dinheiro também não apareceu em sua declaração de Imposto de Renda. Bolsonaro explicou que o empréstimo para Fabrício Queiroz “foi se avolumando” ao longo dos anos, mas “se eu errei, eu arco com as minhas responsabilidades perante o Fisco”.
No relatório do Coaf, oito funcionários do gabinete do deputado estadual Flávio Bolsonaro repassaram dinheiro para a conta de Fabrício Queiroz. Bolsonaro explicou que “é normal entre aqueles funcionários um ajudar o outro, e não foi diferente na Assembleia Legislativa. Eles se socorrem de gente que está ao seu lado e não de terceiros”.
No entanto, a movimentação de mais de R$ 1,2 milhão é incompatível com a renda conhecida do motorista.
O relatório do Coaf faz parte da Operação Furna da Onça, que resultou na prisão de 10 deputados e em 75 funcionários da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) investigados por movimentação financeira suspeita.
No caso do motorista de Flávio Bolsonaro, diz o Coaf:
“Fabrício José Carlos de Queiroz está cadastrado como Servidor Público da ALERJ, com renda de R$ 23.000,00/mês. (…) Fabrício também possui vínculo com a Polícia Militar do Rio de Janeiro desde 1987, sem informação sobre término do vínculo.
“Ele foi objeto de comunicação de operação suspeita referente à sua conta (…) no Banco Itaú, na cidade do Rio de Janeiro.
“Ele movimentou nessa conta o total de R$ 1.236.838,00, entre 01/01/2016 e 31/01/2017.”
O filho de Bolsonaro empregou, em seu gabinete na Alerj, além de Fabrício Queiroz, a mulher, Márcia Aguiar, e as duas filhas do assessor, Nathália e Evelyn.
À imprensa, Flávio Bolsonaro declarou que as nomeações saíram no Diário Oficial, portanto, “não há nada a esconder”.
SUSPEITA
O relatório do Coaf aponta que Fabrício Queiroz fez 176 saques em dinheiro na sua conta, durante o ano de 2016 – ou seja, mais de um saque em dinheiro por cada dois dias úteis.
Em alguns dias houve até cinco saques em dinheiro da conta de Fabrício Queiroz.
O Coaf considerou suspeita a “concentração de saques em espécie nos guichês com indícios de fracionamento devido valores diluídos abaixo do limite diário”.
VICE
O vice-presidente de Bolsonaro, Hamilton Mourão, declarou, no sábado, que Queiroz “precisa dizer de onde saiu esse dinheiro. O Coaf rastreia tudo. Algo tem, aí precisa explicar a transação, tem que dizer”.
Quanto a Bolsonaro, “ele colocou a justificativa dele. Ele já disse que foi um empréstimo. O Queiroz precisa explicar agora”, declarou Mourão.
Sobre o coordenador da transição, e futuro ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, que abandonou uma entrevista, na sexta-feira, quando foi indagado sobre o problema, segundo Mourão, “ele tá estressado. Quando responde daquele jeito, parece que tem culpa no cartório. Quando me perguntam, eu respondo claramente, com tranquilidade. Temos que falar”.
Mourão considera que há uma diferença entre o caso de Bolsonaro, cuja mulher recebeu R$ 24 mil do motorista do filho de seu marido, e o do próprio Lorenzoni, que recebeu R$ 300 mil da JBS:
“É diferente. No caso do Onyx, o dinheiro foi na conta dele. Bolsonaro já explicou o motivo pelo qual foi para a conta de Michelle”.
C.L.
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