“Alguns preferem morrer de fome do que derrubar uma árvore, é opção dele, mas não pode ser para o resto do nosso país”, disse Bolsonaro, em reunião do agro. Não falou uma palavra sobre os 33 milhões de brasileiros que passam fome
Ao discursar na abertura da Global Agribusiness Fórum 2022, na Zona Sul da capital paulista, nesta terça-feira (25), Jair Bolsonaro defendeu, diante de um setor que busca mudar sua imagem em relação ao meio ambiente, que tem que derrubar árvores mesmo.
“Questões ambientais… alguns preferem morrer de fome do que derrubar uma árvore, é opção dele, mas não pode ser para o resto do nosso país”, disse ele na contramão de todos os setores que defendem uma agricultura forte, que abasteça o país e exporte o excedente, sendo cada vez mais sustentável.
DESMATAMENTO RECORDE
Adeclaração, claramente agressiva ao meio ambiente, e bem ao estilo do “abrir as porteiras”, de seu ex-ministro, defensor de contrabandistas de madeira, não foi bem recebida. Até porque não é essa a imagem que o setor quer passar para a sociedade brasileira e nem para o mundo.
Ninguém em sã consciência – e isso Bolsonaro não tem – aprova o ritmo de derrubada das florestas que atingiu o país depois da chegada deste governo ao Planalto.
Em 2022, a Amazônia registra o pior índice de desmatamento dos últimos 15 anos, segundo o instituto Imazon, que monitora o nível de desmatamento. Somente nos cinco primeiros meses do ano, a região amazônica perdeu 3.360 km² em apenas 151 dias. A área supera mais de 2 mil campos de futebol por dia de mata nativa e é a maior devastação dos últimos 15 anos para o período.
Não é por acaso que importantes setores do agronegócio fazem um movimento significativo em direção à oposição brasileira. O setor produtivo, em sua grande parte, não vê em Bolsonaro uma opção séria e capaz de enfrentar os desafios do país. Por isso mesmo, empresários já articulam uma manifesto nacional, que já tem mais de 6 mil assinaturas e será divulgado em breve, contra os planos continuístas e golpistas de Bolsonaro e seu séquito de milicianos.
AGRO MAIS PRÓXIMO DA OPOSIÇÃO
Nesta mesma direção, há algumas semanas o ex-presidente Lula, candidato da oposição, fechou apoio à candidatura ao Senado do deputado Neri Geller (PP-MT), vice-presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), em uma negociação que envolveu também o senador Carlos Fávaro (PSD-MT) – ambos ligados ao agronegócio. O apoio acompanha o envolvimento de Geller e Fávaro em um movimento que está levando setores do agronegócio a se aproximar da oposição, em um claro sinal de insatisfação com a política de Bolsonaro.
Não há falas de Bolsonaro em que a verdade seja dita ou respeitada, ou que os interesses do país estejam no centro das atenções. São sempre mentiras, ofensas ou interesses menores que comandam os seus discursos. Isso quando não são flagrantemente golpistas e antidemocráticos.
No caso, por exemplo, do que ele disse sobre os fertilizantes, não há nenhum respeito pela verdade, quando se trata da situação real do país neste setor. “Quando se fala em fertilizantes, nós temos tudo aqui no Brasil, mas também o que tem de gente pra atrapalhar não está no gibi”, afirmou o capitão “motosserra”.
Mas é o próprio Bolsonaro que cria obstáculo à produção interna ao não garantir nenhum grande investimento. Foi o seu governo que não deu continuidade às fábricas de fertilizantes UFN III, IV e V, da Petrobrás, iniciadas em anos anteriores. O Brasil poderia ser autossuficiente em fertilizantes com as três fábricas em 2020. O fato é que essas três fábricas foram abandonadas no seu governo. A UFN III, no Mato Grosso do Sul, foi interrompida com 81% de realização física.
BRASIL PODERIA ABASTECER O PAÍS E EXPORTAR FERTILIZANTES
O governo está vendendo como sucata o material que tinha sido comprado para a construção dessas empresas. No entanto, Bolsonaro não tem compromisso nenhum com estas verdades. Só fala para culpar os outros e nunca tem nada a ver com os problemas. Aliás, ele não governa. Passa o tempo todo em passeios e motociatas.
O Brasil, com o gás que possui, e não explora, poderia ser até exportador de fertilizantes. Mas, fruto do desgoverno Bolsonaro, da falta de investimentos públicos, cerca de 70% do insumo usado na agricultura vem do exterior. Aí ele comemora a chegada de navios da Rússia trazendo fertilizantes com sendo um grande feito seu.
O Brasil está altamente dependente e à mercê das crises internacionais. Não é aconselhável manter essa dependência. Mas, ao invés de retomar as obras, ele preferiu seguir fatiando a Petrobrás, vendendo a companhia em pedaços. Não iniciou nenhum grande projeto.
Em seu governo. os investimentos públicos atingiram os níveis mais baixos de toda a história. Mas ele, com sua insignificância e incapacidade de enxergar as potencialidades do Brasil, se gaba de ter conseguido importar fertilizantes da Rússia.
A distância entre Bolsonaro e os problemas reais do Brasil é muito grande. Ele não está nem um pouco preocupado, por exemplo, com o que está comendo, ou se está comendo, o povo brasileiro. Prefere fazer demagogia eleitoreira.
Afirmou que o país alimenta o mundo, enquanto 33 milhões de brasileiros estão passando fome agudamente.
“A diretora-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), (Ngozi Okonjo-Iweala), me disse que o mundo passa fome sem o Brasil”, afirmou ele, comemorando a situação. Durante seu governo foram destruídos os estoques reguladores de alimentos e a inflação está torturando a população mais pobre do país. Os preços sobem e a renda cai sem parar.
CIFRA ASSUTADORA DE INSEGURANÇA ALIMENTAR
Para o representante da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO/ONU) no Brasil, Rafael Zavala, o país deixou de priorizar o combate à fome em nível nacional nos últimos anos, levando a uma “cifra assustadora” de insegurança alimentar em todo seu território. Segundo o mexicano, que ocupa o posto máximo da FAO/ONU no Brasil desde o final de 2018, o problema do Brasil não é de escassez de alimentos como outras partes do mundo, mas sim de desigualdade.
Numa prova de que as discussões sérias sobre a produção agrícola e abastecimento do país não interessam a Bolsonaro, usou a máquina pública, sua assessoria do Planalto, para dar cotoveladas e impedir que um dos debatedores, convidados pelos organizadores do evento, participasse de uma mesa de discussão. Tudo para impedir o debate de propostas e priorizar sua campanha e a de Tarcísio Freitas, o carioca paraquedista que ele impôs como candidato ao governo de São Paulo.
DESRESPEITO COM SÃO PAULO
Além disso, o mandatário cometeu a indelicadeza absurda, mais uma vez, em desrespeito a São Paulo e ao seu povo, assim como fez antes ao atacar o Instituto Butantan, durante a pandemia, ao impedir que um secretário de Estado de São Paulo, convidado a falar no evento, pudesse discursar. Affonso Massot, secretário-executivo de Relações Internacionais do estado foi impedido pelos bolsonaristas de falar no encontro do agronegócio que transcorria. A participação do secretário do governador Rodrigo Garcia estava prevista na programação oficial de debates do Global Agribusiness Fórum 2022, mas só ficou sabendo do veto ao chegar ao local.