Preferiu ir ao Dia Nacional do Futebol
Bolsonaro ignorou a comemoração do 146º Aniversário de Nascimento de Alberto Santos Dumont, realizado na Base Aérea de Brasília, na manhã de sexta-feira (19). Em vez disso, preferiu comparecer à cerimônia do Dia Nacional do Futebol, também realizada em Brasília.
No evento, dirigido pelo comandante da Aeronáutica, tenente-brigadeiro Antonio Carlos Moretti Bermudez, foram condecoradas com a Ordem do Mérito Santos Dumont várias autoridades e personalidades, civis e militares.
“Nesta cerimônia”, disse o tenente-brigadeiro Bermudez, “reverenciamos este brasileiro que deu asas à humanidade, ao voar com o mais pesado que o ar, o 14 bis. A este gênio brasileiro, as nossas homenagens, que, ao longo da vida, teve princípios e valores que são fundamentais e que procuramos enaltecê-los na formação de nossos militares, como disciplina, profissionalismo, integridade, comprometimento e patriotismo”.
A ausência de Bolsonaro no evento da FAB foi comentada e apontada por Nelson Düring, editor-chefe do site DefesaNet, especializado em questões militares e de defesa: “Gol Contra – O presidente Jair Bolsonaro trocou a cerimônia do Comando da Aeronáutica pelo nascimento de Santos Dumont pela homenagem ao Dia Nacional do Futebol. Reflexos do caso Sevilha?”, postou o site, em seu Twitter.
“Gol Contra 2 – O Planalto mandou clara mensagem ao meio militar. O vice-presidente General Mourão não participou dos dois eventos. Coube ao General Heleno representar o Presidente na cerimônia militar”, disse o editor do DefesaNet.
Nos comentários, os internautas apontaram:
“Ele acredita nos irmãos Wright [norte-americanos]”, disse o internauta identificado como “Dan1911”.
“Só pode!! Ainda vai bater testa com o cientista e astrofísico diretor do INPE…kkk @JairMBolsonaro2 tá viajando na maionese azeda!!”, completou outro, chamado “Erik”.
Quanto aos Wright, que a casta norte-americana diz ter inventado o avião, provavelmente o internauta que apontou a crença de Bolsonaro tem razão. Se Bolsonaro acredita que Trump é um grande estadista, por que não acreditaria que os Wright inventaram o avião?
O “caso Sevilha” é uma referência à prisão do segundo-sargento da FAB Silva Rodrigues, membro da comitiva de Bolsonaro, no dia 25 de junho, no aeroporto de Sevilha (Espanha), com 39 quilos de cocaína em sua bagagem de mão.
Na época, o governo tentou jogar o caso sobre a Aeronáutica, embora a responsabilidade pela segurança do presidente seja do Gabinete da Segurança Institucional (GSI), chefiado por Augusto Heleno, que ainda não deu explicações satisfatórias para o ocorrido (v. seu depoimento na Câmara: Heleno diz que recebia dinheiro de Nuzman, mas sente vergonha é de seu salário no Exército).
O vice Hamilton Mourão também não foi ao aniversário de Santos Dumont, patrono da Aeronáutica.
O ministro da Defesa, general Fernando Azevedo, e o comandante do Exército, general Edson Leal Pujol, também não estiveram presentes, mas se justificaram: o general Azevedo estava se recuperando de uma cirurgia de catarata e Pujol estava em viagem ao Japão.
O ato de Bolsonaro – ou, melhor, a falta de Bolsonaro na solenidade em comemoração ao aniversário de um dos maiores brasileiros da História, um gênio, como disse o Comandante da Aeronáutica, reconhecido universalmente – causou incômodo entre os oficiais da FAB.
Na segunda-feira (22) Bolsonaro tentou remediar a afronta, comparecendo a um encontro com os oficiais-generais da Aeronáutica. Mas o resultado da desfeita estava estampado na fisionomia carregada dos oficiais presentes, com um Bolsonaro mostrando um sorriso quadrado, como informa o DefesaNet.
O texto do editor do DefesaNet classifica como “72 horas de tensão” o período em que Bolsonaro disparou sandices contra tudo e contra todos, a partir da sexta-feira, em café com jornalistas.
Mesmo dia em que a FAB comemorou o aniversário de Santos Dumont.
Mas Bolsonaro não compareceu.
A.S.
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