Cresce em todo o país número de brasileiros que só recebem R$ 450 por mês
Com o desemprego recorde, queda na renda e o avanço da carestia com a alta dos alimentos, energia elétrica e gás de cozinha, a pobreza cresce no país e atinge cerca de 30% da população. Um crescimento de 25,2% no primeiro trimestre de 2019 para 29,5% em janeiro de 2021, segundo estudo do economista Daniel Duque, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).
O estudo considera a classificação de pobreza do Banco Mundial, renda per capita de até US$ 5,50 por dia, ou cerca de R$ 450 por mês, de acordo com a taxa de câmbio pela paridade do poder de compra. O aumento da pobreza ocorreu em 24 das 27 unidades da federação.
Acre (46,4%), Pará (45,9%) e Tocantins (35,7%) foram os três estados que não tiveram expansão da pobreza, mas já registravam participação acima de 30% dos pobres na população geral.
Em São Paulo, a parcela de população pobre subiu de 13,8% em 2019 para 19,7% em 2021. No Rio de Janeiro, ultrapassou um quinto da população, passando de 16,9% para 23,8%.
“A pobreza aumentou na maioria dos Estados e teve altas bastante elevadas em grandes centros urbanos, no Sudeste e no Nordeste. As economias dos centros urbanos são muito focadas em serviços, como alimentação, alojamento e entretenimento, que foram mais atingidos pelas características desta crise”, declarou Daniel Duque ao Valor Econômico.
POBREZA EXTREMA
A pobreza extrema também cresceu no período, em 18 das 27 unidades da federação. No Brasil, a fatia dos brasileiros em pobreza extrema passou de 6,1% no primeiro trimestre de 2019 para 9,6% em janeiro de 2021. São os que vivem com cerca de US$ 1,90 por dia ou cerca de R$ 160 reais por mês, insuficiente para pagar um botijão de gás que Bolsonaro diz que “tá barato”.
Durante a pandemia, graças às pressões da sociedade junto ao Congresso Nacional, o auxílio emergencial de R$ 600 conseguiu amenizar o aumento mais acelerado da pobreza no país, diante da crise econômica agravada pela Covid-19. Porém, o governo Bolsonaro, mesmo diante do auge da crise sanitária, reduziu o auxílio nos últimos meses de 2020 e suspendeu o programa entre janeiro e março.
A suspensão do programa e o retorno só em abril, para um número bem menor de pessoas e com o valor também bastante reduzido, entre R$ 150 e R$ 375, lançou milhões de brasileiros na mais pura miséria.
A pobreza, apesar do auxílio emergencial, “vai se estabilizar numa situação pior que antes da pandemia”, avalia Daniel Duque. “O mercado de trabalho segue fragilizado e a inflação também tem contribuído para puxar os rendimentos para baixo”.
O economista aponta ainda que “a renda é afetada pela inflação, especialmente dos alimentos, que têm peso maior no orçamento dos mais pobres”.
Os cálculos foram feitos a partir de dados de renda da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua e da Pnad Covid-19, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).