Ele disse que exigir respeito às leis pelo Telegram é uma perseguição implacável contra sua campanha. Ação do STF é decisiva para impedir crimes eleitorais das milícias que se esbaldaram em 2018
Jair Bolsonaro saiu muito desgastado no episódio envolvendo a afronta do aplicativo de mensagens Telegram à Justiça brasileira. O fato do dono do Telegram ter se enquadrado, pedido desculpas por não ter atendido antes, e garantir que passará a respeitar as normas vigentes no Brasil, inclusive nomeando um representante do aplicativo no Brasil, desagradou profundamente o “mito”.
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), acertadamente, exigiu que os responsáveis pela plataforma passassem a respeitar a lei e a se enquadrar nas normas vigentes brasileiras, caso contrário, seriam impedidos de funcionar no Brasil. Todos os demais aplicativos já haviam se comprometido a respeitar as leis e impedir o seu uso ilegal nas próximas eleições.
Como Pavel Valerievitch Durov, dono do aplicativo Telegram, seguia desrespeitando as leis brasileiras e se recusava a designar um representante e a criar limites e controles contra os crimes eleitorais, o ministro Alexandre de Moraes mandou suspender o seu funcionamento em todo o país. Vendo que a coisa era séria, o dono do aplicativo resolveu obedecer.
Logo que soube das sanções do STF ao Telegram, Bolsonaro protestou contra a decisão e esbravejou dizendo que a medida tomada por Alexandre de Moraes era inaceitável e não tinha base na Constituição Federal e nem no marco civil da Internet.
A reação destemperada de Bolsonaro mostrou que ele confundiu a ação da Justiça para impedir crimes eleitorais com uma “perseguição implacável” a ele e suas milícias por parte do ministro Alexandre de Moraes.
As declarações reclamando das sanções foram feitas em entrevista à Jovem Pan na segunda-feira (21). “Sabemos da posição do Alexandre de Moraes. (…) É uma perseguição implacável para cima de mim”, disse.
A afirmação é praticamente uma confissão de que ele pretendia usar o Telegram para cometer crimes eleitorais.
“Acredite: eu até respondi a processos no TSE por abuso do poder econômico”, emendou o ‘mito’, acrescentando que as ações deveriam ter sido arquivadas. Sem apresentar provas, Bolsonaro acusou Moraes de tentar favorecer algumas candidaturas, em especial, a do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), líder nas pesquisas de intenção de voto.
Ele também tentou desgastar a decisão do ministro de revogar o bloqueio ao aplicativo depois que Pavel Durov se enquadrou. “Revogou a própria decisão dele”, disse Bolsonaro, sem mencionar que a revogação se deu exatamente porque o STF havia conseguido o que queria: obrigar o Telegram a obedecer as leis brasileiras.
As declarações de Bolsonaro não são gratuitas. A confusão é deliberada: o que o STF tem combatido é o uso desavergonhado dos aplicativos para propagar fake news, mentiras, ódios e ameaças à democracia, e o que Bolsonaro queria com a ação descontrolada do Telegram era um espaço para que sua horda pudesse seguir agindo ilegalmente.