
“As ações clandestinas, portanto, tinham seus produtos delituosos destinados ao interesse deste núcleo com ataques direcionados a adversários e ao sistema eleitoral, dentre outros”, diz relatório da polícia, tornado público pelo STF
A Polícia Federal afirmou em relatório que o ex-presidente Jair Bolsonaro era membro e principal favorecido pela organização criminosa que utilizou a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para espionagem ilegal contra opositores do antigo governo.
Na quarta-feira (18) o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), retirou o sigilo do relatório da PF que indicia 36 pessoas, entre elas Carlos Bolsonaro, pelo esquema de espionagem ilegal na agência. A PF viu “materialidade” e “indícios” da participação de Bolsonaro no esquema ilegal, mas não o colocou na lista de indiciados por já tê-lo feito no inquérito do golpe de Estado.
O principal objetivo do grupo era sua “manutenção no poder, inclusive pelo rompimento do Estado Democrático”, apontam os investigadores. A Polícia Federal indiciou 36 pessoas, incluindo seu filho Carlos Bolsonaro e outros aliados.
A PF identificou mais de 60 mil consultas ilegais feita pela ‘Abin paralela’ entre 2019 e 2021.
“Jair Messias Bolsonaro figura como o principal destinatário do produto das ações clandestinas e da instrumentalização da Abin”, destaca a PF.
“Os eventos destacados ao longo da investigação, ainda, demonstram que as ações eram realizadas para obtenção de vantagens precipuamente do núcleo político. As ações clandestinas, portanto, tinham seus produtos delituosos destinados ao interesse deste núcleo com ataques direcionados a adversários e ao sistema eleitoral, dentre outros”, dizem os investigadores em outro trecho.
Jair Bolsonaro montou, com auxílio de Alexandre Ramagem, seu indicado para chefiar a Abin, um esquema de espionagem “paralela” e ilegal. Com funcionários da Agência, o grupo conseguiu utilizar ferramentas para monitorar adversários políticos, servidores públicos, membros do Judiciário e do Legislativo e outros.
Uma dessas ferramentas era o programa espião israelense First Mile, que consegue indicar a localização de qualquer aparelho celular a partir das antenas de sinal telefônico.
De acordo com a PF, a organização criminosa contava com “figuras de alto escalão do governo à época, incluindo potencialmente o então presidente da República Jair Messias Bolsonaro e seu filho, vereador Carlos Nantes Bolsonaro”.
“Este núcleo [político] foi o responsável por definir as diretrizes estratégicas da ORCRIM [organização criminosa], determinar os alvos das ações clandestinas (opositores, instituições, sistema eleitoral) e se beneficiar politicamente das operações”.
Já o “núcleo da estrutura paralela” era chefiado por Alexandre Ramagem, que contava com servidores de sua confiança, a maioria de policiais federais cedidos e oficiais de inteligência cooptados”.
“Este núcleo utilizava a estrutura física, tecnológica (First Mile, sistemas de consulta) e orçamentária da Abin para executar as ações clandestinas determinadas pelo Núcleo Político”, descreve a PF.