Fazendo eco ao incitamento criminoso de seu guru golpista, ele repetiu, sem apresentar nenhuma prova, que “houve fraude na eleição americana”
Governantes do mundo inteiro repudiaram a violência dos fascistas que invadiram o Congresso dos EUA na quarta-feira (6) para tentar impedir a proclamação do resultado das eleições.
Só uma pessoa apoiou o vandalismo trumpista. Essa pessoa foi Jair Bolsonaro, que declarou sua simpatia aos atos de selvageria vistos em Washington na quarta-feira.
Fazendo eco ao incitamento criminoso do derrotado presidente dos EUA, ele repetiu, também sem apresentar nenhuma prova, que “houve muita fraude na eleição americana”.
No vídeo gravado na porta do Palácio do Alvorada, Bolsonaro conversa com seguidores e é questionado sobre a situação nos EUA. “Acompanhei tudo. Você sabe que eu sou ligado ao Trump, né?”, respondeu ele. “[Existe] Muita denúncia de fraude. Quando eu falo isso, a imprensa diz: ‘Sem provas, presidente Bolsonaro diz que eleição foi fraudada’. Eu acredito que sim, eu acredito que foi [fraudada] descaradamente”, continuou.
Ou seja, Bolsonaro confessou que “está intimamente ligado a Trump” e que, por conta disso, tem que apoiar tudo o que seu guru faça ou pense. Mesmo que o que ele faça seja uma idiotice como esta de tentar um golpe fracassado para se aferrar ao poder.
Com o cinismo de praxe e, mais uma vez, sem apresentar qualquer prova, Bolsonaro insistiu que teria havido também fraude na eleição de 2018 no Brasil.
“A minha foi fraudada. Eu tenho indício de fraude na minha eleição. Era pra ter ganho no primeiro turno. Ninguém reclamou que votar foi no 13 e que a maquininha não respondia. Mas o contrario sim: quem votava no 17 aparecia [o número 13 nas urnas], mas o contrário, ninguém que votava no 13 aparecia [o número 17] (…) Tinha uma colinha lá no numero 7. O pessoal fraudou as maquininhas, sabotou. Mas ninguém botou cola no number 13”, disse ele.
A fala de Bolsonaro mostra que, apesar do vexame do seu padrinho, ele segue aferrado ao trumpismo agonizante. Bolsonaro insiste em não ver que Trump se acabou e que não conta mais nem com o apoio de seu próprio partido.
Sem levar em conta nada disso, ele aponta a seus seguidores como eles devem se comportar diante da derrota eleitoral nas eleições de 2022.
“Se nós não tivermos o voto impresso em 22, uma maneira de auditar o voto, nós vamos ter problema pior que os Estados Unidos”, ameaçou Bolsonaro, na entrada do Palácio da Alvorada.
Diante das claras ameaças do presidente, o país reage de forma contundente. Por meio de nota, o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), que também é vice-presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), alertou nesta quinta-feira (7), que “a violência cometida contra o Congresso norte-americano deve colocar em alerta a democracia brasileira”.
“Em outubro de 2022 o Brasil irá às urnas nas eleições presidenciais. Eleições periódicas de acordo com as regras estabelecidas na Constituição e uma Justiça Eleitoral combatendo a desinformação são imprescindíveis para a democracia e para o respeito dos direitos das gerações futuras. Quem desestabiliza a renovação do poder ou que falsamente confronte a integridade das eleições deve ser responsabilizado em um processo público e transparente. A democracia não tem lugar para os que dela abusam”, anotou Fachin.
O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Luís Roberto Barroso, já havia alertado no mesmo dia que acontecia a invasão do Capitólio, para a gravidade do que ocorreu nos EUA e disse esperar uma reação forte da sociedade e das autoridades daquele país. “No triste episódio nos EUA, apoiadores do fascismo mostraram sua verdadeira face: antidemocrática e truculenta. Pessoas de bem, independentemente de ideologia, não apoiam a barbárie. Espero que a sociedade e as instituições americanas reajam com vigor a essa ameaça à democracia”, completou.
O repúdio ao fascismo por parte das principais lideranças políticas do país, entre elas os presidentes da Câmara e do Senado, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e David Alcolumbre (DEM-AP), respectivamente, de governadores e parlamentares de quase todos os partidos, além das fortes advertências dos ministros do STF e a mobilização permanente a sociedade, são a garantia de que o Brasil não permitirá aventuras golpistas como a que ocorreu nos EUA.
O repúdio e as críticas ao apoio de Bolsonaro a Trump é o caminho para barrar o fanatismo lunático tupiniquim, caso ele pense em se aventurar na imitação no Brasil do que fizeram os fascistas americanos nesta quarta-feira (6) em Washington. Criminalizar o incitamento de Bolsonaro agora, certamente, é o melhor caminho para impedir as aventuras no futuro.
S. C.