Simone disse que Bolsonaro devia ter coragem de perguntar diretamente as coisas e não usar outros candidatos. Tática do “bateu levou” do líder nas pesquisas provocou vários direitos de resposta. Ciro priorizou críticas a Lula
Logo no início do debate da TV Globo ficou claro que Bolsonaro iria usar o falso padre “Kelmon”, do PTB, como laranja para seus ataques a Lula.
Já na primeira pergunta do falso padre a Bolsonaro, a figura medieval, que se diz sacerdote, elogiou o governo e perguntou quais eram os perigos da volta de um governo progressista no Brasil.
O objetivo era levantar a bola para o “mito”. “Nós não podemos voltar à fase que éramos há pouco tempo, onde era uma cleptocracia, a roubalheira imperava no nosso país. O governo Lula foi o chefe de uma grande quadrilha, dezenas de delatores devolveram R$ 6 bilhões para pegar uma pena menor. Não podemos continuar no país da roubalheira”, disse Bolsonaro.
Neste momento, Lula obteve direito de resposta e foi para o ataque. “Ele falar que eu montei quadrilha, com a quadrilha da rachadinha dele que ele decretou sigilo de 100 anos, com a rachadinha da família do Ministério da Educação com barras de ouro? Ele, falar de quadrilha comigo? Ele precisava se olhar no espelho e saber o que está acontecendo no governo dele. Saber o que foi a quadrilha da vacina, o oferecimento de US$ 1 por cada vacina importada. Isso não sou eu que disse, é a CPI que está dizendo”, disse o ex-presidente.
MUITOS DIREITOS DE RESPOSTA
Depois houve uma série de direitos de resposta para Lula e Bolsonaro. O fato truncou o debate e incomodou os demais candidatos. Lula, no entanto, aproveitou para afirmar que vai acabar com os decretos de sigilo de 100 anos. “Vou fazer um decreto acabando com o seu sigilo de 100 anos. Para saber o que tanto você quer esconder por 100 anos. Para saber o que esse homem esconde por 100 anos. E eu vou parar por aqui, porque quero que os outros participem do debate. O presidente, quando aparecer por aqui, por favor minta menos”, disse Lula.
Logo na sua pergunta a Simone, Bolsonaro questionou a candidata sobre o assassinato, em 2002, do ex-prefeito de Santo André Celso Daniel, que era do PT. Disse que Lula foi o “mentor do crime”. Tebet lamentou que esse tema tenha sido trazido ao debate, em vez de propostas para o país. “Eu acho que falta ao senhor coragem de perguntar isso ao candidato do PT, que, segundo o senhor é envolvido, que está aqui. Por que não pergunta para o candidato Lula sobre esse assunto? E vamos tratar do Brasil. Vamos tratar dos reais problemas”, criticou Tebet.
Diante da baixaria de Bolsonaro, Lula pediu e obteve direito de resposta. “Estou incomodado de pedir toda hora direito de resposta. Mas é que não é possível conviver com alguém com a cara de pau. Presidente, não é possível. Primeiro, o Celso Daniel era meu amigo. O Celso Daniel era o melhor gestor público que este país teve. Ele foi chamado da prefeitura para coordenar o meu programa de governo de 2002”, disse o ex-presidente.
CIRO PRIORIZOU CRÍTICAS A LULA
Ciro Gomes usou a estratégia de priorizar as críticas a Lula. Logo na primeira pergunta, Ciro Gomes disse a Lula que saiu do ministério do governo do petista “por conta das contradições graves de economia […] e, mais grave ainda, das contradições morais”. Mesmo no momento em que poderia ter apontado os problemas do governo Bolsonaro, Ciro preferiu concentrar as críticas ao candidato da oposição. Fez várias referências à corrupção nos governos do PT. Mais para o final do debate, Ciro e Lula tiveram uma troca de opiniões sobre meio ambiente em que houve um pouco mais de sintonia.
Ao falar do tema corrupção, Lula se defendeu e afirmou que foi nas gestões petistas que se criaram leis e dispositivos para combater irregularidades na administração pública. “Nós criamos a lei do acesso à informação, que qualquer pessoa poderia adentrar ao governo pedindo informação e saberia até a cor do papel higiênico do banheiro da Presidência da República. Depois, nós criamos a lei anticorrupção. Depois, nós criamos a lei contra o crime organizado. Depois, nós fizemos a nova lei contra lavagem de dinheiro. Depois, nós fizemos, colocamos a AGU [Advocacia-Geral da União] no combate à corrupção. Colocamos o Coaf na fiscalização de movimentação de bancária atípicas”, argumentou Lula.
Em determinado momento do debate, o pseudo padre escolheu Lula para fazer uma pergunta. Kelmon voltou a falar que houve corrupção nos governos do PT e acusou Lula de liderar supostos esquemas irregulares. “Eu acho que o candidato está um pouquinho desinformado ou só lê o que quer”, disse Lula.
Nesse momento, ele foi interrompido por Kelmon. William Bonner, alertou Kelmon que candidatos não podem interromper a fala um do outro. Lula tentou prosseguir a argumentação, mas Kelmon seguia fazendo interrupções. Foi pedido que Kelmon respeitasse as regras. Ele continuou falando, até a discussão ficar acalorada.
“É que candidato laranja não tem respeito por regra. Candidato laranja faz o que quer”, disse Lula. Kelmon insistiu em dizer que Lula chefiava esquema de corrupção. Lula o chamou de “mentiroso”. “O senhor deveria respeitar um padre”, argumentou Kelmon.”Eu sei que você não é padre, está fantasiado, rapaz”, rebateu Lula. “Você é um fariseu”, acrescentou o ex-presidente.
SORAYA PRESSIONOU BOLSONARO
Em sua fala, a candidata Soraya também criticou a corrupção e disse que ela continuou no governo Bolsonaro. Ela disse que, nos protestos de 2013, achou que o país fosse resolver esse problema. Porém, segundo Soraya, ela se decepcionou, porque a corrupção continua sendo, na opinião dela, um flagelo no país. “A minha coragem vem lá detrás, de 2013, quando eu me levantei da fila dos que reclamam e vim para a fila dos que fazem. Indignada com os escândalos de corrupção do governo PT, e ainda indignada com os escândalos de corrupção que existem”, disse Soraya.
Bolsonaro citou pedidos de cargos da senadora e disse que ela só se interessava por esses cargos. Disse também que ela foi eleita por causa dele. Soraya confirmou que pediu os cargos, mas disse que eles saíram porque não concordaram com as rachadinhas.
Soraya falou também da pandemia com o Padre Kelmon, citou o número de mortos pela Covid e disse que o governo de Bolsonaro atrasou a compra de doses de vacina. “O senhor sabia que de cada seis pessoas que morreram na pandemia, nós poderíamos ter salvado quatro pessoas, se não tivesse atrasado as vacinas, se não tivesse faltado oxigênio. O senhor não se arrepende de defender um governo que fez isso?”, questionou Soraya, chamando Kelmon de ‘padre de festa junina”.
O laranja de Bolsonaro criticou a candidata e defendeu a atuação de Bolsonaro. “Vocês falam tanto de Covid, Covid, Covid. Só se morre de Covid nesse país? Só se morre de Covid no mundo? São falácias, falácias e falácias, só o que vocês sabem fazer”, disse o candidato do PTB. O falso padre afirmou que todos ali eram de esquerda e só ele e Bolsonaro eram de direita.
Simone criticou a polarização ao se dirigir a Felipe D´Ávila. “Vamos falar do Brasil real, que ainda chora a morte dos seus filhos que morreram prematuramente por conta da incompetência de um governo que não colocou vacina na hora no braço de milhões de brasileiros. O Brasil está morrendo, não só de Covid. Temos uma fila interminável de exames, consultas e cirurgias atrasadas”, disse Tebet em pergunta para D’Ávila.
SIMONE TROCOU FIGURINHAS COM D´ÁVILA
O candidato do Novo defendeu privatizar tudo. Para ele, a principal medida é enfraquecer o Estado. “Nessa pandemia, algumas coisas interessantes aconteceram na Saúde: nós avançamos com a telemedicina, avançamos com o prontuário eletrônico. Precisamos ter essa digitalização na saúde que ela é fundamental. Principalmente na saúde primária. Porque é lá que vamos ter histórico das pessoas e passar e deixar de repetir exames que acontecem depois, sufocando a saúde terciária”, disse D’Ávila, defendendo a ampliação da iniciativa privada na Saúde.
Simone Tebet fez também críticas à gestão do governo Jair Bolsonaro na preservação do meio ambiente e no trabalho desenvolvido para evitar as mudanças climáticas. “Ao invés de proteger as florestas e cuidar da vida das pessoas, o seu governo cuidou e protegeu mineradores, invasores de áreas públicas e madeireiros. O senhor nesse aspecto foi o pior presidente da história do Brasil”.
Bolsonaro respondeu que dois terços das florestas do Brasil ainda não preservadas e citou o tamanho territorial da Amazônia para justificar o trabalho realizado na região nos últimos anos. “Ela [floresta amazônica] equivale a uma Europa Ocidental. Como tomar conta disso tudo? No corrente ano, não tivemos notícia de incêndios nem no seu Pantanal e nem na Floresta Amazônica, a não ser o que acontece quase corriqueiramente”, afirmou.
LULA FALOU DA FOME
Lula falou da fome com a candidata Soraya. Ele afirmou que, atualmente, o Brasil tem “31 milhões de pessoas passando fome” e disse que a gestão petista tinha “acabado com isso em 2012”. O ex-presidente, então, aproveitou para perguntar para Soraya Thronicke suas propostas para eliminar a fome no país. Soraya reconheceu que o “Brasil passa fome”, mas direcionou a resposta ao assunto da corrupção durante o governo do ex-presidente.
Em um dos blocos, Padre Kelmon perguntou a Ciro Gomes como evitar que as universidades públicas fossem ocupadas apenas por estudantes de alta renda e com boa “educação de base”. Ao longo da pergunta e da réplica, também disse que “as universidades públicas viraram fábricas de militantes”. Em resposta, Ciro disse que se compromete, se eleito, a “transformar a educação brasileira em todos os níveis em uma das 10 melhores do mundo em 15 anos”.
O candidato do PDT afirmou que quer retirar a desoneração de itens de luxo incluídos na cesta básica e, com o dinheiro, colocar “um milhão de crianças” em creches de tempo integral. E, além disso, expandir a rede de ensino médio profissionalizante em tempo integral.