“Os governadores que decretaram quarentena estão extrapolando”, disse ele, depois de prometer comprar 10 milhões de doses da cloroquina, remédio americano não indicado para a epidemia, que Trump anunciou na véspera
Jair Bolsonaro usou a Rede CNN de Televisão neste sábado (21) para se chocar abertamente com as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS), com os governadores dos estados e com o Ministério da Saúde de seu próprio governo sobre como enfrentar a pandemia do coronavírus.
Continua inventando inimigos fantasmas para justificar sua completa inação diante da crise.
“GOVERNADORES ESTÃO EXTRAPOLANDO”
Indiferente à gravidade da situação, ele radicalizou sua guerra contra os governadores e quer impedi-los de tomar as medidas que estão tomando para proteger suas populações da pandemia do coronavírus. “Os governadores que decretaram quarentena estão extrapolando e estão dando uma dose excessiva do remédio e o remédio em excesso se torna um veneno”, acusou o presidente.
Ele segue negando a ciência e achando que há exageros nas orientações dos médicos, dos governadores e dos pesquisadores no combate ao coronavírus.
Ninguém estava levando muito a sério as opiniões de Bolsonaro, de que a epidemia “não é tão grave assim”, e que os governadores estariam exagerando nas medidas de controle sanitário que estão tomando. A realidade de países da Europa, entre eles a Espanha e a Itália, é muito dramática para que a população brasileira não perceba o risco que está correndo. E os exemplos dos países asiáticos, que foram rigorosos nos cuidados, também são muito mais convincentes do que as idiotices de Bolsonaro.
Ele insiste em desorientar. No entanto, a esmagadora maioria da população está preocupada em obedecer as determinações das autoridades médicas de evitar sair de casa, lavar as mãos, evitar contatos próximos, etc. Essas medidas estão sendo consideradas essenciais para bloquear a epidemia e minorar a catástrofe que se aproxima se a disseminação acelerada do vírus não for contida.
SITUAÇÃO É GRAVE
Pelos estudos epidemiológicos e matemáticos, divulgados recentemente pelo Imperial College de Londres, se nada for feito, o número de pacientes graves será muito maior do que a capacidade de absorção do sistema de saúde do país. O sistema vai colapsar. Muitos brasileiros vão morrer se não agirmos rápido. É isso o que a população espera que o governo faça.
No entanto, as medidas tomadas por Bolsonaro na sexta-feira (20) foram no sentido contrário ao que se esperava. As críticas e proibições às atividades dos governadores e a entrevista deste sábado à CNN, agravam muito a já dramática situação.
Bolsonaro não quer resolver nada. Ele quer brigar com os governadores, quer brigar com a mídia – que, segundo ele, continua “a criar pânico sem necessidade” -, quer brigar com seus desafetos, com seus aliados, enfim, com todo mundo. Ou seja, o presidente não quer governar. Só quer se engalfinhar.
VENDEDOR DE ILUSÕES
Numa atitude extremamente irresponsável, Bolsonaro, mais uma vez, macaqueou Donald Trump, que havia defendido na véspera o uso em massa da hidroxicloroquina, uma droga usada em doenças autoimunes e em malária, sem nenhuma comprovação científica de que seja eficaz contra o coronavírus, e disse ao repórter da CNN que já encomendou 10 milhões de doses da medicação para distribuir por todo o Brasil.
Nenhum órgão médico ou científico defende essa iniciativa. Bolsonaro fez isso unicamente para imitar seu guru, Donald Trump. Mal sabe ele que o presidente americano foi duramente criticado pelos médicos e pela comunidade científica americana por essa iniciativa.
De acordo com o “Financial Times”, há apenas um laboratório que fabrica a droga nos EUA. E, em janeiro, quando os resultados começaram a aparecer, o preço do medicamento dobrou no país. Atualmente, custa US$ 7 a pílula de 250mg e US$ 20 a de 500mg. A farmacêutica Rising, de Nova Jersey, afirmou que foi coincidência.
“Existe a possibilidade, sim, de que o Reuquinol [cloriquina] seja eficaz para tratar os portadores da COVID-19”, disse Bolsonaro. Não se sabe de onde ele tirou isso. Um absurdo completo. Em nota, a própria Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) disse que a hidroxicloroquina e a cloroquina são registradas para o tratamento da artrite, lúpus eritematoso, doenças fotossensíveis e malária.
IMITAÇÃO DE TRUMP
Destacou também que, apesar de serem promissores para o novo coronavírus, “não existem estudos conclusivos” e, assim, “não há recomendação da Anvisa, no momento, para o uso em pacientes infectados ou mesmo como forma de prevenção à contaminação”. Por fim, ressaltou que a automedicação pode ser um grave risco à saúde.
Bolsonaro está vendendo ilusões para a população que não quer ilusões, mas sim leitos hospitalares, mais médicos, mais UTIs e recursos para enfrentar a epidemia. Mais do que isso, ela quer exemplos do governo. Medidas concretas, ajudas aos mais pobres, etc.
Essa atitude do presidente da República sobre a cloroquina é criminosa. Os médicos estão alertando para os perigos dos charlatões que estão se aproveitando da situação de epidemia para vender “soluções” milagrosas de todos os tipos. Bolsonaro se junta a eles quando apresenta esse tipo de solução mirabolante.
O uso indiscriminado de uma medicação como a cloroquina, que foi testada em apenas 20 pacientes na França, e que tem graves efeitos colaterais, é condenado por toda a comunidade científica do Brasil e do mundo. Mas, Bolsonaro não quer saber de nada de ciência. Para Bolsonaro, a ciência só atrapalha.
MAIS LEITOS DE UTI
O país inteiro está cobrando medidas urgentes como a ampliação de Kits de diagnóstico para que o Brasil possa repetir o que fizeram a China, Singapura e a Coreia do Sul, que testaram amplamente sua população para o vírus, e tiveram, com isso, um melhor resultado no controle da epidemia.
Os países que não fizeram os exames e não isolaram as pessoas a tempo, como o Irã, a Itália e a Espanha, estão vivendo uma situação de calamidade, com muitos mortos.
Todos sabem que é prioridade zero também ampliar imediatamente, enquanto é tempo, os leitos de UTI, que são insuficientes, e poderão, segundo o próprio ministro da Saúde, entrar em colapso em trinta dias. Estas são duas prioridades claras e que não estão sendo cumpridas pelo governo. Ao invés de buscá-las, Bolsonaro está preocupado em adquirir dos laboratórios uma medicação duvidosa, que não é recomendada por ninguém para esta virose.
Mais grave ainda é a guerra que Jair Bolsonaro resolveu comprar com os governadores que estão tomando medidas para combater a epidemia do Covid-19. Bolsonaro criticou os dois principais governadores do país, região onde a epidemia é mais grave. João Doria, governador de São Paulo, e Wilson Witzel, governador do Rio de Janeiro estariam “estrapolando de suas funções”, segundo Bolsonaro.
“O Doria é um lunático e está se aproveitando para crescer politicamente”, disse o presidente. “Esses governadores que me criticam, em especial o do Rio de Janeiro, e o de São Paulo, sempre me criticaram”, acrescentou.
A população assiste atônita a essas palavras estúpidas do presidente da República num momento tão grave como este. Não é à toa que já houve vários protestos na última semana contra o presidente. Foram panelaços que tomaram conta das principais cidades brasileiras.
NA CONTRAMÃO, BRASIL NÃO AUMENTA INVESTIMENTO PÚBLICO
Todos os países do mundo estão tomando medidas radicais contra a disseminação do vírus e para impedir que suas economias entrem em recessão. No Brasil, o governo faz o contrário. Aproveita da situação para propor cortes de servidores e para cortar salários dos trabalhadores. O ministro da Economia chantageia o Congresso Nacional para apressar as privatizações. Economistas e personalidades de todos os campos ideológicos cobram aumento urgentes dos investimentos públicos, principalmente numa crise dessas, e o que diz o presidente?
“Será uma irresponsabilidade furar o teto de gastos, como pedem alguns economistas”, disse ele na entrevista à CNN. Para Bolsonaro, “o Brasil precisa ter o limite para não voltar às dívidas do passado”. Literalmente, o presidente não está nem um pouco preocupado com a vida das pessoas e muito menos com os empregos.
Ao invés de tomar as medidas urgentes exigidas pela população para enfrentar o drama, ele segue considerando a epidemia como “uma gripezinha” – voltou a falar assim na entrevista da CNN – e acusa os governadores que estão agindo contra o vírus de serem os responsáveis pela crise.
“GOVERNADORES IRRESPONSÁVEIS”
“Minha preocupação é com a vida das pessoas e com o desemprego criado por esses governadores irresponsáveis”, disse Bolsonaro. Vários governadores estão reagindo às agressões do Planalto e criticaram a postura irresponsável de Bolsonaro.
Helder Barbalho afirmou que não vai ficar esperando o governo federal para proteger os paraenses. Wilson Witzel acusou o governo de agir na velocidade de uma tartaruga e que não vai deixar de agir em defesa do povo do Rio de Janeiro.
“Os governadores estão fazendo o que Bolsonaro não faz, liderar o processo”, criticou João Doria. E o governador do Maranhão, Flávio Dino, por sua vez, afirmou que “é hora de Bolsonaro brigar contra o vírus e não com os governadores”.
SÉRGIO CRUZ
Em todos os jornais têm materias opinando de como o governo deveria proceder acerca do coronavírus, no entanto, os jornalistas e outras categorias devem perceber urgentemente que não há governo e sim um desequilibrado atrapalhado e sem rumo, precipitado. Acorda Povo a democracia está diluindo.
Graças a Deus o Witzel foi na contramão do que o Bolsonaro queria. Esse presidente é de um despreparo sem tamanho, sua atuação diante dessa pandemia está ridícula.