O consumo de carne vermelha no Brasil atingiu o menor nível já registrado em 26 anos, apontam números da série histórica da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), com início em 1996. Com a previsão de inflação batendo dois dígitos e a economia perdendo cada vez mais tração, com mais 14,1 milhões de desempregados, neste ano, o consumo de carne bovina diminuiu em quase 14%, se comparado a 2019, antes da pandemia.
A carne vermelha acumula alta de 30,7% em 12 meses, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Neste quadro, as famílias estão procurando outros tipos de proteínas e alimentos que são menos nutricionais, como pé, pescoço e miolos de galinha e até massas miojos, nos quais os preços também figuram nas alturas puxados pelo alto custo da carne vermelha.
Segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães e Bolos Industrializados (Abimapi), o consumo de macarrão instantâneo movimentou R$ 3,2 bilhões em 2020, ante R$ 2,7 bilhões em 2019.
“Grande parte da população está consumindo [estes alimentos], não atingem os preceitos nutricionais adequados ou talvez a quantidade não seja adequada”, declarou a professora da faculdade de Engenharia de Alimentos da Universidade de Campinas, Glaucia Pastore, ao Valor Econômico. “A população tem mais possibilidades de adquirir doenças virais ou outras crônicas não transmissíveis, como diabetes, cardiopatias, câncer, que se prolongam por toda a vida, impossibilitando de trabalhar”, alertou a especialista.
Aumento de 85% no número de brasileiros com fome em dois anos
O drama aumentou para famílias mais carentes. Com inflação, desemprego elevado e sem renda, o país passou a registrar cenas dramáticas de famílias em filas para receber doações de ossos em açougues para alimentar seus filhos durante três dias na semana, como ocorreu em Cuiabá, ou disputando ossos no “caminhão de ossos” no Rio de Janeiro.
No ano passado, 19,1 milhões de pessoas estavam em situação de fome do Brasil – número que faz parte de um contingente de 116,8 milhões de indivíduos no país que convivam com algum grau de insegurança alimentar, segundo dados da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Penssan). Em relação a 2018 (10,3 milhões), são quase 9 milhões de pessoas a mais nessa condição.