Bolsonaro rapidamente jogou nas costas de Gustavo Bebianno, ministro da Secretaria-Geral da Presidência, o caso das candidaturas-laranjas do seu partido, o PSL. Aproveitou o caso para “fritar”, porque não dizer torrar, seu ministro e esconder as denúncias (também de laranjal) contra seu filho Flávio Bolsonaro e o ex-motorista deste, Fabrício Queiroz, na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).
Afirmou que se Bebianno “estiver envolvido, logicamente, e responsabilizado, lamentavelmente o destino não pode ser outro a não ser voltar às suas origens”.
“Determinei ao Sérgio Moro que, dentro da sua esfera de atribuição, se fosse possível investigar, isso está sendo investigado. Essa é a resposta que dou para todos aqueles que tentam praticar corrupção no Brasil”, declarou Bolsonaro.
A atitude de Bolsonaro ante as denúncias contra seu filho Flávio Bolsonaro foi outra bem diferente da que está tendo agora com seu chefe da Secretaria-Geral. O que Bolsonaro fez foi abafá-las.
O ex-motorista de Flávio Bolsonaro, quando era deputado estadual no Rio de Janeiro, foi pego pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) com uma movimentação financeira suspeita na sua conta de R$ 1,2 milhão em um ano, incompatível com sua renda. Em três anos a movimentação foi de R$ 7 milhões.
O Coaf identificou uma movimentação financeira suspeita na própria conta de Flávio Bolsonaro. Foram 48 depósitos de R$ 2 mil, totalizando R$ 96 mil, num curto espaço de tempo e nada disso foi explicado satisfatoriamente até agora.
Convenhamos que tais quantias superam em muito os R$ 650 mil que Bebianno movimentou com as candidatas laranjas em Pernambuco (Maria de Lourdes Paixão – candidata a deputada federal, e Érika Siqueira – candidata a deputada estadual).
Até agora a família Bolsonaro não explicou nada sobre esses depósitos suspeitos.
A atitude de Bolsonaro foi de desacreditar o caso Flávio. Atacou o Coaf, acusando-o de quebrar o sigilo de seu filho, sem que o órgão tenha feito. Disse que Flávio, “o garoto” (Flávio tem 37 anos), como ele mesmo disse, estava sendo perseguido para atingi-lo.
Por seu lado, o ministro Gustavo Bebianno disse que não mentiu e que não vai pedir demissão por causa do desgaste. “Não tenho essa intenção porque não fiz nada de errado”, disse o ministro. “Não sou moleque, e o presidente sabe. O presidente está com medo de receber algum respingo”, disse o ministro.
Sobre voltar às origens, disse Bebianno: “Todos nós voltaremos às nossas origens. As nossas origens estão no cemitério. O presidente não morrerá presidente. Muitas pessoas que se elegeram agora, eu não quero citar nomes, que também estão aí sob foco de investigações. Vamos ver, está certo? Eu sou homem, não sou moleque”, afirmou em entrevista à revista Crusoé.
Bebianno foi acusado de liberar R$ 400 mil do fundo partidário eleitoral para uma candidata-laranja de Pernambuco, quando ainda era presidente do PSL. A candidata recebeu apenas 274 votos, claramente uma candidatura de fachada. A gráfica que recebeu R$ 380 mil para confeccionar os materiais também está irregular. No endereço indicado não havia nada que indicasse que ela produziu os materiais. Depois se descobriu ainda que ele liberou mais R$ 250 mil de verba pública para a campanha de uma ex-assessora do PSL, Érika Siqueira Santos, que foi candidata a deputada estadual em Pernambuco. E que ela trabalhou diretamente com o ministro até agosto e teve somente 1.315 votos.
O caso ficou ainda mais complicado com a revelação de que sete candidatos a deputado estadual e federal do PSL em Pernambuco repassaram R$ 1,2 milhão para uma gráfica que pertence a um dirigente do partido. Dos sete, apenas um deles foi eleito: o próprio presidente nacional do PSL, o deputado federal Luciano Bivar, apesar do valor declarado com impressão de materiais gráficos, o triplo do que foi gasto por Jair Bolsonaro com o serviço.
A empresa é a Vidal Assessoria e Gráfica Ltda., de Luis Alfredo Vidal, que é vogal (dirigente com direito a voto) do PSL de Pernambuco. Vidal já posou em fotos com Bolsonaro e com o filho, Flávio.
NOTA
O ministro divulgou uma nota se explicando e negando ter patrocinado as candidaturas-laranjas. Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, disse que a responsabilidade sobre a distribuição cabe aos diretórios estaduais. “A responsabilidade cível e criminal é bem dividida. É dos diretórios regionais. A mim competiu trabalhar para eleição do presidente. Para eleição dos deputados estaduais, federais, senadores e governadores, cada diretório montou sua chapa e conduziu”, disse.
Mas a ata de uma reunião da Executiva Nacional do PSL realizada em 11 de julho de 2018 o contradiz. Segundo a ata, numa votação por unanimidade, ficou decidido que caberia “ao presidente da Comissão Executiva Nacional do PSL decidir sobre a distribuição dos recursos”.
O documento descreve ainda os critérios a serem seguidos, “levando em consideração a prioridade de reeleição dos atuais mandatários, a probabilidade de êxito das candidaturas, bem como a estratégia político-eleitoral do partido em âmbito nacional, no tocante ao crescimento de suas bancadas na Câmara dos Deputados e no Senado Federal”.
“MENTIRA ABSOLUTA”
Noticiou-se que o caso gerou uma crise entre Bebianno e Bolsonaro. O ministro disse que não havia crise e que tinha falado com Bolsonaro três vezes na terça-feira (12). “Não existe crise nenhuma. Só hoje falei três vezes com o presidente”, disse Bebianno.
Mas na quarta-feira (13) o filho de Bolsonaro, Carlos, postou uma mensagem no Twitter em que atacou o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, chamando-o de “mentiroso”. “Ontem estive 24h do dia ao lado do meu pai e afirmo: É uma mentira absoluta de Gustavo Bebbiano que ontem teria falado 3 vezes com Jair Bolsonaro para tratar do assunto citado pelo Globo e retransmitido pelo Antagonista”.
Bebianno disse a pessoas próximas que está triste, magoado, decepcionado e sem palavras diante das declarações de Bolsonaro, pois ele foi um dos primeiros a abraçar a campanha eleitoral, que nem mesmo Bolsonaro acreditava nela.
APOIOS
Alguns políticos saíram em socorro de Bebianno e criticaram o comportamento de Bolsonaro e seu filho. Um deles foi o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ). “A impressão que dá é que o presidente está usando o filho para pedir para o Bebianno sair. E ele é presidente da República, não é? Não é mais um deputado, ele não é presidente da associação dos militares”, declarou Maia.
“Então, se ele está com algum problema, ele tem que comandar a solução, e não pode, do meu ponto de vista, misturar família com isso porque acaba gerando insegurança, uma sinalização política de insegurança para todos”, afirmou o presidente da Câmara.
Para a deputada federal Joice Hasselman (PSL-SP), “filho do presidente não pode escrever mensagem para criar crise no governo. Quem tem que falar com ministro é o presidente”. Para ela, a atitude de Carlos Bolsonaro é fruto de “imaturidade ou meninice”. Ou simplesmente fruto de obediência a seu pai.
Já o líder do PSL no Senado, Major Olímpio (SP), disse que Bebianno é de “absoluta confiança” de Bolsonaro e acredita que a crise no governo será contornada. “Vejo total possibilidade de (a situação) ser contornada até porque tenho certeza que no momento em que Bebianno conversar pessoalmente com o presidente, tudo ficará esclarecido”, afirmou Olímpio. “(Bebianno) É da absoluta confiança do presidente, uma escolha pessoal”, frisou.
Por falar em conversa pessoal, Bolsonaro recebeu em audiência pelo menos três ministros após obter alta da sua cirurgia e voltar ao Planalto. Mas fugiu de qualquer conversa com Bebianno.
Por seu lado, o vice-presidente Hamilton Mourão quer que todo o barulho fique em segredo. “Eu acho que não é bom essa exposição. Não é boa. Não faz bem. […] Não é questão de ficar triste, né? É uma questão de que não é bom uma discussão dessas em público”, declarou.
O vice-presidente foi criticado em público por Bolsonaro. Na entrevista à TV Record, em que ratificou que Bebianno mentiu, ele disse que seu vice dá “escorregadas” ao falar com a imprensa.
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