Disse que só aceita o resultado das eleições se forem limpas. Mas só serão limpas se ele assim decidir. Apresentou-se, cinicamente, como paladino das vacinas. Sobre a fome de 33 milhões, disse que a culpa é da seca, da guerra e de quem cuidou da saúde dos brasileiros na pandemia
Jair Bolsonaro fez no Jornal Nacional desta segunda-feira (2) a única coisa que ele sabe fazer. Mentiu cinicamente durante toda a entrevista. Logo no início, acusou William Bonner de fake news, pois o jornalista teria afirmado que ele xingou ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
ATAQUES A MINISTROS DO STF
Confrontado com uma frase sua, apresentada entre aspas, chamando o ministro Alexandre de Moraes de “canalha”, ele se justificou dizendo que Moraes fez canalhices com ele. E emendou afirmando que não foram “os juízes” que ele xingou, mas apenas um deles, ou seja, Alexandre de Moraes. Justificou o ataque a Moraes dizendo que ele vem sendo perseguido o tempo todo pelo ministro com “inquéritos ilegais”.
Bolsonaro foi acusado de estimular fake news, ataques e ameaças aos ministros do STF e de organizar manifestações golpistas que pregavam o fechamento do Supremo Tribunal Federal, do Congresso Nacional, da imprensa e de outras instituições democráticas. Precisamente esse inquérito Bolsonaro considera ilegal. Novamente, repetiu que quem vai decidir sobre a lisura das eleições são as Forças Armadas. Nesse ponto, foi corrigido com a informação de que é a Justiça Eleitoral quem cuida das eleições pela Constituição brasileira.
Em seguida, voltou a confessar que cometeu um crime ao divulgar informações de um inquérito sobre um hacker que tentou invadir o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que corre em segredo de Justiça, durante uma live, e insistiu no crime ao citar, novamente, na entrevista, as informações sigilosas desse mesmo inquérito. Tudo para repetir o seu discurso golpista – e não comprovado, com insinuações de que houve fraude nas eleições de 2014 e 2018.
DEFENDER GOLPE É NORMAL
Depois, defendeu a “liberdade” de seus apoiadores pregarem um golpe de Estado, a volta do AI-5, o fechamento do Congresso Nacional e do próprio STF. Insinuou que o artigo 142 da Constituição daria a seus seguidores o direito de apregoar um “golpe antidemocrático” que estaria na Constituição. Ou seja, afirmou que defender o golpe “faz parte da democracia”.
Quando instado a respeitar claramente o resultado das urnas, insistiu na ressalva de que só aceitará “se for limpa”. Repetiu que, em 2014, o PSDB teria contestado as eleições e que foi concluído que as eleições com as urnas eletrônicas não eram auditáveis. Ou seja, deixou a porta aberta para suas provocações, antes, durante e depois das eleições.
Sobre a pandemia, o mentiroso se apresentou como o paladino no combate ao vírus. Não se arrependeu de ter imitado pessoas morrendo com falta de ar. Chegou a dizer que o Brasil, que teve o segundo maior número absoluto de mortes no mundo, teve um dos melhores resultados do planeta. Mentiu que mandou oxigênio para Manaus em 48 horas. Confrontado com a informação oficial de que o oxigênio só chegou a Manaus 9 dias depois do início da crise, cinicamente disse que era mentira.
PALADINO DAS VACINAS
Sobre sua sabotagem às vacinas, que todo o Brasil acompanhou, tentou tirar o corpo fora ao dizer, por exemplo, que quando falou que quem tomasse a vacina poderia “virar jacaré” referiu-se a uma brincadeira, uma “figura de linguagem”. Como se a tragédia que matou milhares de pessoas pudesse ser enfrentada com brincadeiras.
E mais: chegou a associar a vacina à Aids, algo pelo qual responde na Justiça. Disse que as medidas sanitárias de combate ao vírus só serviram para atrapalhar a economia. Afirmou, também, contra toda a medicina e a ciência, que as pessoas se infectaram porque ficaram em casa. Mentiu ainda sobre o papel dos governadores e prefeitos. Disse que eles não ajudaram nada no combate à pandemia e chamou a CPI do Senado de circo político.
Voltou a repetir a ladainha do desmoralizado “tratamento precoce”, uma charlatanice com o uso da cloroquina que causou muito mal à população. Falou também na compra de 500 milhões de doses de vacinas, como se isso tivesse sido iniciativa dele. O país inteiro pressionou, e até uma CPI foi necessária para obrigar o governo a comprar as vacinas. Se dependesse só de Bolsonaro, ele implantaria a tese genocida, que defendeu com unhas e dentes, da imunidade de rebanho. Mas, mesmo com 682 mil mortos, disse que foram raros os países que se saíram melhor que o Brasil na pandemia.
Na economia, o delírio foi total. Todos os índices negativos, como inflação, juros altos e preço do dólar, que em seu governo saíram do controle, agravando a crise e trazendo a fome para 33 milhões de pessoas, foram creditados à pandemia, à seca e à guerra. Tirou qualquer responsabilidade do governo pelo desmonte do país e os milhões de desempregados. Ele, que largou o país à deriva, e só passeou, disse que fez tudo o que tinha que fazer, afirmando que o país está uma maravilha comparado a outros países.
DEFENSOR DOS CRIMES AMBIENTAIS
Sobre o meio ambiente, também tentou se apresentar como paladino em sua defesa, mas foi de cara desmoralizado pelos repórteres com a leitura de trechos de frases suas defendendo que os equipamentos usados para crimes ambientais não podiam ser destruídos. Ele não conseguiu justificar porque devolveu os equipamentos para os criminosos. Chegou ao cúmulo de acusar os ribeirinhos da Amazônia pelas queimadas.
Em suma, Bolsonaro se apresentou exatamente como ele é. Um mentiroso, um cínico e um fariseu que desrespeita a tudo e a todos. Ao ser questionado, por exemplo, por ter acusado o Centrão de corrupção e, agora, estar com eles, voltou a mentir de que não há corrupção em seu governo e disse que os repórteres estavam incentivando ele a ser um ditador ao não aceitarem o respeito ao Centrão.
Confrontado com o escândalo do MEC e a demissão do ministro por cobrança de propina por dois pastores ligados a ele, disse que não viu nada de mais nesse episódio. Ou seja, a corrupção está correndo solta em seu governo, são escândalos se multiplicando, como a orgia do Orçamento Secreto em véspera de eleição, por exemplo, mas o atual ocupante do Planalto finge que não é com ele, insistindo na mentira de que não há um só caso de corrupção em seu governo. Tem que ganhar o prêmio Pinóquio no Ano.