O ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sérgio Moro afirmou que não teve apoio do governo no combate à corrupção enquanto esteve à frente da pasta.
Em uma entrevista à agência de notícias AFP, o ex-juiz da Operação Lava Jato, que atuou nos processos na primeira instância da Justiça Federal no Paraná, disse que “conseguimos avançar no combate ao crime violento e ao crime organizado, mas não muito em relação à corrupção, e um dos problemas – com todo o respeito – foi a falta de mais apoio do Palácio do Planalto”.
Moro comentou na entrevista que Lula e Bolsonaro representam “dois extremos a se evitar” no Brasil. “Ambos têm um caráter um tanto populista na formulação de políticas públicas. A diferença é que o presidente Bolsonaro seria um populista de direita e o presidente Lula um populista de esquerda. De certa forma, são dois extremos, com o devido respeito, isso deve ser evitado”, avaliou.
Moro, de 47 anos, renunciou à magistratura em 2019, para se tornar ministro de Bolsonaro. Em abril, deixou o governo, acusando o presidente de tentar interferir em investigações da Polícia Federal. Na entrevista, o ex-ministro disse que a ideia de uma entrevista coletiva na sua despedida não era para prejudicar o governo, mas sim esclarecer o motivo da sua saída.
“Após o início da pandemia, houve uma crise de credibilidade do governo e crescente tensão com os outros poderes, o Supremo Tribunal Federal e o Congresso. Minha demissão se enquadra nesse contexto, mas é apenas uma parte, não me sinto responsável [pela crise]”, afirmou.
Sobre o seu futuro político, ele evitou fazer previsões ou se colocar como candidato. “Com o novo coronavírus, os desafios de 2020 são grandes demais para pensarmos em 2022. É um cenário absolutamente imprevisível”, disse.
Moro citou o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, como outro especulado que, assim como ele, não deve estar pensando na próxima eleição presidencial no momento.
“Durante a pandemia, [Mandetta] cresceu muito porque ele adotou uma política que transmitia uma sensação de calma à população, principalmente através da transparência, ele tinha uma maneira de fazer as pessoas se sentirem confortáveis. Mas eu acho que nenhum de nós estamos pensando seriamente em 2022”, completou.
No momento, o ex-ministro garante que quer retomar a sua vida profissional e acadêmica. “Vou mirar o setor privado, tenho bons contatos na área acadêmica. Eu era professor antes de me tornar juiz. Minha tarefa no momento é me reintegrar em 2020 e não pensar em 2022”, concluiu.