“A aliança necessária hoje não é de partidos de esquerda. Defendo uma aliança ampla para blindar a democracia contra o autoritarismo”, disse o deputado
O deputado federal e ex-ministro do Esporte, Orlando Silva (PCdoB-SP), afirmou que “a aliança que eu defendo é em defesa da democracia, em que todos os democratas se unam para blindar as instituições e o regime democrático”.
“A aliança que eu acredito ser necessária hoje não é de partidos de esquerda. Nós temos que construir uma aliança ampla com um campo em defesa da democracia”, enfatizou.
“Porque nós temos o presidente da República, Jair Bolsonaro, flertando com abordagens autoritárias”. “[Jair Bolsonaro] não revela nenhum apreço à democracia e faz insinuações autoritárias, participa de atos políticos que pedem o fechamento do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Congresso Nacional”, disse Orlando em entrevista ao vivo no portal IG.
O parlamentar foi entrevistado por Ludmila, Caíque Alencar e Ricardo Galuppo.
Na entrevista, Orlando também falou sobre a sua pré-candidatura à Prefeitura de São Paulo. “Na eleição, a forma de traduzir essa perspectiva nacional é construir um campo de diálogo de várias candidaturas. Não vamos debater a democracia ou a política nacional, vamos debater os problemas da cidade. Mas a política nacional penetra em São Paulo porque seguramente Bolsonaro vai apresentar o seu candidato. Ele vai querer ampliar sua presença e força na cidade de São Paulo”, disse.
“O PCdoB vai ter candidatura porque precisa afirmar a sua perspectiva sobre como governar a cidade. O PCdoB precisa parar de ser sublegenda do PT, precisa ter sua identidade própria. Time que não joga não forma torcida. Nós temos que, com cara própria, nos apresentar para o eleitorado de São Paulo”.
“Temos experiência, eu próprio tenho experiência administrativa, eu conheço gestão pública, temos quadros capacitados, como Nádia Campeão (foi vice-prefeita de São Paulo), temos a capacidade de diálogo, de construir um governo que tenha viabilidade na cidade de São Paulo. Esse é o nosso objetivo, estipular um projeto popular para governar a cidade de São Paulo”, continuou.
“Isso também vai repercutir no plano eleitoral. Se você fica ao abrigo de outra legenda, as pessoas não sabem o que você pensa. Muita gente até hoje pensa que eu sou do PT, mas eu nunca fui do PT”.
Orlando disse que se inspira na gestão feita por Flávio Dino, também do PCdoB, no governo do Maranhão. “Ele é um dos principais governadores do Brasil e está revolucionando o Maranhão, pagando o salário dos professores que é o dobro do pago no estado de São Paulo, estimulando políticas de saúde no combate ao coronavírus. O Maranhão já estabilizou a situação da pandemia e reduziu o número de mortos”.
“Eu vou me inspirar muito na experiência do Flávio Dino, que é uma grande experiência de políticas públicas que valoriza quem mais precisa. É o que eu quero fazer em São Paulo, priorizar quem mais precisa”.
COVAS E DORIA
Para Orlando Silva, o combate ao coronavírus feito pela Prefeitura de São Paulo, tendo à frente Bruno Covas (PSDB), “tem sido marcado por acertos e erros. Ele acertou quando adotou medidas de restrição da circulação da cidade, quando estimulou o distanciamento na cidade”.
“Na minha opinião, tanto o Covas quanto o João Doria [governador de São Paulo] acertaram quando desalinharam do presidente da República e seguiram as orientações da Organização Mundial de Saúde. O distanciamento social é uma medida muito importante para evitar a sobrecarga do sistema público de saúde. O distanciamento não impede a propagação do vírus, mas reduz o ritmo, o que impede a saturação do sistema de saúde”.
“Essa orientação geral que foi dada pela prefeitura, na minha opinião, foi um acerto”.
“Houve uma lentidão na construção de hospitais de campanha na periferia. Houve um erro na introdução de um rodízio na cidade, isso sobrecarregou o sistema de transporte urbano, que aumenta o potencial de contaminação de mais trabalhadores”, comentou.
“Foi muito lenta a construção de hospitais de campanha na periferia e algumas regiões, como a zona leste, não tiveram hospitais de campanha à sua disposição, o que é um erro”, criticou.
“Importante ter no Anhembi, no Pacaembu, mas nós deveríamos ter descentralizado, chegado mais na borda da cidade. Até porque além dos casos confirmados, tem muitos não confirmados de coronavírus sob suspeita, sobretudo na borda da cidade”.
MINISTÉRIO DO ESPORTE
Durante a transmissão, Orlando comentou sua gestão no Ministério do Esporte. “Tenho orgulho da agenda que nós construímos no Ministério do Esporte. Estruturamos políticas públicas para garantir o esporte e o lazer por direito, que teve programas sociais, como o Programa Segundo Tempo, o Programa Esporte e Lazer da Cidade, uma ação forte”.
“Tivemos construção e reforma de equipamentos esportivos; cerca de 15 mil contratos de construção e reforma de equipamentos esportivos, como quadras, ginásios, pistas de atletismo, piscinas, praças”.
“A realização de grandes eventos esportivos, como a Copa do Mundo, as Olimpíadas, os Jogos Pan-Americanos, os Parapan-Americano. Tudo isso é muito importante, e teve uma relação paralela com a projeção do esporte em si, colaborando com a projeção do Brasil no mundo, gerando empregos. Eu acredito que foi uma agenda para a vida do país e para a minha vida pessoal. Nós não vamos abstrair e nem apagar o passado”, afirmou.
“O governo do PT teve muitos acertos e muitos erros. É preciso aprender com os erros e valorizar os acertos. Eu faria um debate frontal sobre cada agenda realizada, sobre a minha participação nesse governo sem me esquivar de criticar aquilo que eu considero equívoco e de valorizar aquilo que eu considero que tenha sido positivo”, concluiu.
Sobre investigações na sua pasta, o deputado afirmou que nunca foi convocado para depor. “Não deu em nada porque eram denúncias falsas e vazias que tentaram me atingir. Houve absoluta falta de provas. Não tinha um dado objetivo que me incriminasse. A intenção era apenas gerar um escândalo”, observou.
VIOLÊNCIA
Orlando comentou ainda a morte do adolescente Guilherme da Silva Guedes, de 15 anos, morto com dois tiros na cabeça na zona sul de São Paulo por maus policiais.
O deputado lembrou que nasceu no bairro de Lobato, no subúrbio de Salvador, e que também viu amigos sendo mortos e “sonhos serem destruídos”. “Todo dia morre um ‘ George Floyd ‘ em São Paulo, como é o caso de Guilherme “, disse, referindo-se ao norte-americano negro morto asfixiado por policiais e que gerou manifestações gigantescas nos EUA e no mundo em repúdio.
PEDRO BIANCO
Entrevista completa: