
No depoimento ao STF, o ex citou indevidamente a Associação Nacional dos Peritos Criminais da Polícia Federal (ACPF), que, em nota de julho de 2022, rebateu a falácia de que as urnas eletrônicas são vulneráveis
A Associação Nacional dos Peritos Criminais da Polícia Federal (ACPF), usada indevidamente por Jair Bolsonaro como suposta razão de sua insatisfação com as urnas eletrônicas, afirmou, em julho de 2022, que perícias ou apurações nunca encontraram “nenhum indício” de fraude nos equipamentos e que mantinha “total confiança no sistema eleitoral brasileiro”.
Jair Bolsonaro prestou depoimento no processo em que é réu por golpe de estado e disse ao ministro relator, Alexandre de Moraes, citando a ACPF, que nenhum sistema eletrônico é imune a fraudes.
O ex-presidente, porém, optou por ignorar o documento em que a ACPF, antes das eleições de 2022, demonstrava “total confiança no sistema eleitoral brasileiro e nas urnas eletrônicas”.
“É importante reiterar que as urnas eletrônicas e o sistema eletrônico de votação já foram objeto de diversas perícias e apurações por parte da PF e que nenhum indício de ilicitude foi comprovado nas análises técnicas”, continua a Associação Nacional dos Peritos Criminais da Polícia Federal.
Afinando diante de Moraes, Bolsonaro alegou que os ataques às urnas tinham como objetivo o aperfeiçoamento do processo democrático no país, buscando ferramentas para que as eleições não fossem “descredibilizadas”.
Para a Procuradoria-Geral da República (PGR), os ataques eram, na verdade, parte da estratégia golpista que vinha se desenvolvendo desde antes das eleições. De acordo com a denúncia, “o grupo registrou a ideia de ‘estabelecer um discurso sobre urnas eletrônicas e votações’ e de replicar essa narrativa ‘novamente e constantemente’, a fim de deslegitimar possível resultado eleitoral que lhe fosse desfavorável e propiciar condições indutoras da deposição do governo eleito”.
O Ministério da Defesa, em seu relatório de fiscalização das urnas eletrônicas, escreveu que não foi encontrado nenhum indício de fraude na eleição de 2022. Segundo o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, o ex-presidente entrou em ação para que o relatório fosse alterado e deixasse em aberto a possibilidade de que fraudes tivessem ocorrido sem que fossem identificadas. Depois de atrasar sua entrega, só mostrando a fiscalização após o segundo turno, a Defesa fez exatamente o que pediu Bolsonaro.