Vice volta a falar em acabar com o 13º
Na quarta-feira (03/10), o candidato Bolsonaro, comentando o movimento de alta na Bolsa de Valores e o de baixa no mercado do dólar, disse que isso refletia a confiança do “mercado financeiro” em sua candidatura, mais especificamente, em seu chefe de programa econômico, Paulo Guedes.
Disse Bolsonaro, em uma transmissão no Facebook:
“Isso em grande parte vem da confiança que eles têm no nosso, no que depender de mim, futuro ministro da Fazenda e do Planejamento. Se o mercado reage dessa maneira é porque acredita na pessoa, na vida pregressa, no conhecimento, na capacidade do Paulo Guedes.”
Se esses parasitas do rentismo reagem assim, é porque enxergam em Bolsonaro e Guedes a possibilidade de aumentar a pilhagem sobre o país. Só isso.
A vida pregressa de Guedes é a de qualquer rato do setor financeiro. Literalmente, seu ofício é arranjar formas de ganhar dinheiro sem trabalhar, sem produzir – portanto, às custas da coletividade.
O que não exige muita (nem pouca) imaginação. Com a taxa de juros mantida no espaço pelos governos Fernando Henrique, Lula, Dilma e Temer – portanto, há mais de 20 anos – essa espécie de sanguessuga estufou seus cofres, inclusive como testa de ferro do dinheiro estrangeiro. Não são muitos – aliás, são pouquíssimos –, mas acumulam fortunas obesas com o sangramento do Tesouro.
Se algum leitor perguntar o que o guru de Bolsonaro, esse certo Guedes, fez até hoje na vida, se foi empresário, se sua empresa fabricou alguma coisa – nem que seja um prego ou parafuso, ou, talvez, uma paçoca em rolha envolvida em celofane – descobrirá que não, ele não fez nada disso, jamais produziu nada, jamais foi, a rigor, empresário.
Guedes foi um dos fundadores do Pactual, um banco de segundo andar, depois BTG/Pactual, e de meia dúzia de outros antros financeiros.
O negócio mais produtivo, ou perto disso, em que Guedes se meteu é uma holding que gerencia sites para relacionamentos, tanto heterossexuais quanto homossexuais (os nomes dos sites são uma piada à parte: “Namoro Online”, “Romance Cristão”, “Como Vai”, “Nunca é Tarde para Amar” e “Portal do Amor”).
Porém, não se trata apenas de um especulador, de um rentista cuja atividade antissocial é abocanhar juros, ou de um alcoviteiro internético.
Também é um trapaceiro, ganhando dinheiro com informações privilegiadas e dando golpes em fundos de pensão das estatais. A denúncia, inclusive, parte de alguns bolsonaristas, por exemplo, aqueles da revista Crusoé (v. “Posto Ipiranga” arrombou fundo dos funcionários do BNDES).
Em palavras sintéticas: Guedes não é apenas um parasita comum do “mercado” financeiro. É uma espécie de lúmpen do setor financeiro – portanto, um lúmpen do lúmpen.
O que explica o horror que certos neoliberais manifestam em relação a Guedes – um deles, convidado para um debate com o guru de Bolsonaro, disse que queria “distância desse bandido”. Considerando os critérios morais dos neoliberais, esse Guedes deve ser um fenômeno.
Mas, voltemos à declaração de Bolsonaro.
O que ele está dizendo é que, se for eleito, o “mercado financeiro” estaria no poder.
Não se trata do empresariado, pois Guedes, a quem Bolsonaro quer entregar a economia do país, não representa os empresários – aliás, tem o maior desprezo pela produção.
Em seu discurso na Florida, onde bateu continência para a bandeira americana, Bolsonaro disse que sua preocupação não eram os direitos dos trabalhadores, mas os dos patrões.
No que, aliás, fez lembrar o PT, que fez uma lei do inquilinato para proteger os grandes proprietários de imóveis…
Entretanto, não são os patrões, em geral, o objetivo dos privilégios que Bolsonaro quer estabelecer.
Como ele mesmo disse na entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo, os trabalhadores, na sua opinião, têm que abrir mão de seus direitos, se quiserem ter emprego.
Inclusive, como acrescentou seu candidato a vice-presidente, acabar com o 13º salário e o adicional de férias. Mourão, aliás, repetiu, na última terça-feira, o seu bostejamento da semana anterior, sobre o 13º salário (antes que alguma capivara bolsonarista tenha um ataque de nervos: Bolsonaro não desmentiu o seu candidato a vice; apenas, disse que a atual Constituição impede acabar com esses direitos dos trabalhadores; portanto, se a Constituição for substituída por outra…).
Mas, mesmo se fosse possível acabar com todos os direitos dos trabalhadores, isso não beneficiaria os empresários.
Pois os trabalhadores não são apenas um custo para as empresas; são também os seus consumidores; quanto menos direitos eles tenham, menor o mercado para as empresas.
Parece óbvio, mas é bom frisar: sem poder aquisitivo da população, as empresas não têm para quem vender. Quanto mais baixo o nível de vida – isto é, quanto menos direitos têm os trabalhadores, incluídos os salários – menos as empresas terão para quem vender seus produtos.
O rentista, o especulador financeiro, o pistoleiro que se locupleta com juros e rendimentos de papéis, como Guedes, não acha isso. Mas não acha, exatamente, porque nada produz.
Porém, até ele se verá afetado, no fim das contas, se cai o nível de vida do povo a um ponto extremo, pois, para que se apropriem, sob a forma de juros, de uma parcela do produto social, é necessário que esse produto exista, ou seja, é necessário que exista produção. E ninguém produz sem que haja compradores para seus produtos.
No entanto, diz Bolsonaro, o pessoal que merece ser privilegiado são aqueles que, supostamente, se identificam com Paulo Guedes. Por confiarem na vida pregressa do elemento, é que os outros parasitas reagiram tão bem.
Não deixa de significar algo, que Bolsonaro use, para se referir a Guedes, a expressão “vida pregressa”, que parece saída de um prontuário policial. Não deixa de ser bem escolhido o termo.
Dentro em breve, ele estará falando em “reincidência”, ao invés de repetição, e “folha corrida”, ao invés de currículo.
É a essa malta que ele quer entregar o governo.
Não são os empresários, são os desempresários.
É para eles que Bolsonaro, se eleito, se propõe a governar. Daí a atribuição de Guedes como fantasioso czar da economia.
Já se disse, no passado, que fascismo em país dependente é sempre fascismo dependente, isto é, subserviente aos monopólios financeiros estrangeiros.
É verdade – e até, no caso do grupo de Bolsonaro, diretamente.
As arapucas montadas por Guedes não são outra coisa senão a famosa “gestão” de dinheiro, em geral de origem estrangeira – e, mais importante, dinheiro que, multiplicado, acaba tendo por destino o exterior do país.
É esse então o plano e a equipe de Bolsonaro, com um lúmpen financeiro na Economia, para beneficiar outros lúmpens financeiros, sobretudo externos.
CARLOS LOPES