
Atos e manifestações em todo país o marcaram os 55 anos do golpe de 1964, completados em 31 de março/1º de abril.

No sábado (30), um grupo de pessoas realizou um ato contra o golpe, em frente ao prédio do antigo Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI), no bairro da Vila Mariana, na Zona Sul da cidade de São Paulo. O ato chamou-se “Ditadura nunca mais”. Líderes políticos, jornalistas, intelectuais e dirigentes sociais foram presos e torturados no local.
Uma das reivindicações dos manifestantes é transformar o prédio em um local de memória contra o arbítrio e a ditadura.
Estavam presentes vários representantes de entidades, a exemplo do Instituto Vladimir Herzog (jornalista torturado e morto no local em 1975) e parentes de vítimas da ditadura militar, com cartazes de fotos dos desaparecidos.
A ordem de Bolsonaro para comemorar o golpe de 1964 provocou uma enxurrada de repercussões negativas no Judiciário, no Congresso e nas entidades. Sabe-se que até nos quartéis houve críticas. O constrangimento dentro das Forças Armadas com a ordem foi imenso.
O presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), ao ser questionado sobre a autorização de Bolsonaro acerca do golpe, respondeu: “Sou filho de exilado político”.

Ainda em São Paulo, neste domingo (31), os manifestantes levaram para a Avenida Paulista um boneco “Judas” representando o coronel do Exército, Carlos Alberto Brilhante Ustra (1932-2015), notório torturador durante a ditadura militar. O boneco foi queimado durante ato contra a comemoração do golpe, ordenado por Bolsonaro.
Um outro ato aconteceu no Parque do Ibirapuera, a Primeira Caminhada do Silêncio pelas Vítimas de Violência do Estado. Fotos de pessoas que desapareceram pela ação da repressão durante a ditadura militar foram expostas.
Na quarta-feira (27), Bolsonaro desistiu de fazer uma visita que estava marcada à Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, por causa de uma manifestação de mais de mil estudantes contra a presença dele e o golpe de 64 (ver Bolsonaro desiste de visita ao Mackenzie após protesto de estudantes).

No Rio, uma manifestação reuniu cerca de 5 mil na Cinelândia, região central da cidade. Além de repudiar a ditadura, os manifestantes homenagearam a memória da vereadora assassinada pela milícia, Marielle Franco.
Para a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ), presente no ato, “a obscenidade [de Bolsonaro] ficou clara quando ele negou a tortura, o desaparecimento de pessoas, a censura nas artes e à imprensa, o desaparecimento de pessoas que até hoje são procuradas por suas famílias”. “É desrespeitoso é indigno”, disse Jandira.
“É extremamente grave que o chefe de Estado do nosso país proponha que os quartéis comemorem um golpe de estado, ao qual se seguiu uma ditadura violentíssima da qual não temos nenhuma saudade. Ele [Bolsonaro] não vai reescrever a história. Ele não vai transformar a mentira em verdade. Se o que foi feito em 64 fosse feito hoje, seria crime imprescritível e inafiançável. É o que há de mais grave no Estado Democrático de Direito”, disse o deputado Alessandro Molon (PSB-RJ)
Em Brasília (v. João Vicente, em ato no DF: “eles não vão destruir a história de meu pai) uma manifestação pela manhã reuniu centenas em repúdio ao golpe de 1964. Os manifestantes levaram flores e fotografias de vítimas da ditadura. Gritos de “ditadura nunca mais” e “fora, Bolsonaro” marcaram a passeata que percorreu um trecho da pista do Eixo Rodoviário de Brasília, fechado para automóveis aos domingos.

Um protesto também tomou conta das ruas de Belo Horizonte contra a ditadura militar com cartazes de “ditadura nunca mais”.
Em Porto Alegre, os manifestantes fizeram homenagens às vítimas da ditadura no Parque Marinha do Brasil e no Parque Farroupilha, conhecido como Redenção. O ato teve cartazes, palavras de ordem e performances artísticas.

Houve manifestações ainda contra a ditadura no dique do Tororó, em Salvador, na Praia de Iracema, no Ceará, na Rua Aurora, no centro de Recife, Balneário de Camboriú (Santa Catarina), em Curitiba, em Palmas (Tocantins), em Belém.
Houve também protesto a favor da ditadura, mas em número muito menor de pessoas, como em Goiânia. Na Avenida Paulista, eles só foram notados porque entraram em conflito com os manifestantes contra o golpe.
O movimento negro lembrou que 41 lideranças negras foram assassinadas ou desaparecidas durante os 21 anos de ditadura (1964-1985), com base em informações da Comissão da Verdade de São Paulo e divulgadas pelo portal UOL. Há registros de perseguição à luta antirracista até 1981, quatro anos do fim do regime.


“A repressão a lideranças negras e ao movimento causou a morte e o desaparecimento de nomes importantes na política brasileira, como Carlos Marighella, Helenira Rezende de Souza, Osvaldo Orlando da Costa, conhecido como “Osvaldão”, entre outros”, assinala texto do portal “Alma Preta”.
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