Bolsonaro conseguiu o que parecia impossível: fazer com que a economia padeça, em simultâneo, com a disparada da inflação e com uma brutal recessão. A inflação, em 10,74%, foi detonada pelo próprio governo ao acabar com os estoques reguladores de alimentos. A inflação elevada também é provocada por aumentos de preços de bens e serviços monitorados pelo governo, como a energia elétrica e a gasolina, que têm os preços atrelados ao mercado internacional e ao dólar.
Em novembro, a taxa da inflação foi puxada pelo aumento da gasolina que subiu 7,4% em relação a outubro e acumulando alta de 50,8% em 12 meses. Dispararam também os preços do etanol,10,5%, do óleo diesel. 7,5% e do gás veicular, 4,3%..
O Brasil está em recessão técnica – dois trimestres seguidos com crescimento do PIB, soma de tudo produzido no país, negativo. Segundo o IBGE, houve uma retração de 0,1% do PIB no terceiro trimestre deste ano, depois de cair 0,4% no segundo trimestre. A indústria caiu 4,1% em relação fevereiro de 2020.
Como o que está ruim sempre pode piorar, o governo teve a brilhante ideia de apagar o incêndio inflacionário com a gasolina da taxa de juros. Na quarta-feira, 8/12, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) elevou a taxa básica de juros da economia (Selic) em 1,5 ponto percentual, de 7,75% para 9,25% ao ano — maior patamar desde julho de 2017. De março para cá, o Copom já aumentou por sete vezes seguidas a Selic.
A ideia, se é que se pode chamar isso de ideia, é, com os juros na Lua, atrair capital estrangeiro especulativo, valorizar o real, baratear as importações e forçar a redução dos preços dos concorrentes nacionais, em plena recessão. Só que, com a insegurança que o governo Bolsonaro exala, ninguém, nem mesmo os especuladores, se atreve a arriscar seus dólares.
Se o plano funcionasse, Bolsonaro ia tocar fogo no que resta de atividade econômica no país.
CARLOS PEREIRA