Jair Bolsonaro afirmou que a indicação de seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), para o cargo de embaixador Brasil nos Estados Unidos tem como uma das intenções viabilizar a exploração de minérios nas terras indígenas.
Durante sua participação na formatura anual da turma de novos paraquedistas das Forças Armadas no 26º Batalhão de Infantaria Paraquedista, na Vila Militar, na Zona Oeste do Rio, Bolsonaro citou a reserva Ianomâmi e Raposa Terra do Sol como eventuais alvos de mineração de empresas “do primeiro mundo”.
“Terra riquíssima (reserva indígena Ianomâmi). Se junta com a Raposa Serra do Sol, é um absurdo o que temos de minerais ali. Estou procurando o ‘primeiro mundo’ para explorar essas áreas em parceria e agregando valor. Por isso, a minha aproximação com os Estados Unidos. Por isso, eu quero uma pessoa de confiança minha na embaixada dos EUA”, afirmou.
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Não satisfeito, Bolsonaro ainda continuou: “Vocês acham que eu colocaria um filho meu em um posto de destaque desse para pagar vexame? Quero contato rápido e imediato com o presidente americano”.
A exploração da mineração nas terras indígenas, anunciada por Bolsonaro, tem gerado uma espécie de “corrida do ouro”, com invasões de garimpeiros às reservas indígenas. Inclusive com a execução de líderes das tribos, como ocorrido no Estado do Amapá.
Índios denunciaram às autoridades públicas que garimpeiros invadiram a Terra Indígena Waiãpi, no oeste do Amapá, e que um cacique foi morto a facadas durante a invasão. Os garimpeiros acamparam no interior da reserva e lá permanecem.
O Conselho das Aldeias Waiãpi-Apina disse, na sexta-feira (26), que moradores da aldeia Yvytotô depararam com um grupo de índios não armados, obrigados a sair da sua terra – e avisaram as demais aldeias pelo rádio.
Durante a noite, os invasores entraram na aldeia e ocuparam uma das casas, ameaçando os índios, que fugiram para outras aldeias da região.
FUNAI
Em nota, a Fundação Nacional do Índio (Funai) informou que acionou as autoridades competentes assim que soube da ocorrência, no sábado (27). O órgão indigenista, vinculado ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, deslocou uma equipe para o local, considerado de difícil acesso. Equipes da Polícia Federal (PF) e do Batalhão de Operações Especiais (Bope), da Polícia Militar do Amapá, também estão na região para apurar o ocorrido.
A Procuradoria do Ministério Público Federal (MPF) no Estado instaurou uma investigação criminal para apurar a morte do indígena Waiãpi, no domingo, 28.
Em nota, a Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Direitos dos Povos Indígenas manifestou preocupação com o ataque e a invasão ao território indígena. “Reiteramos a obrigação do Estado brasileiro garantir o direito dos povos indígenas de terem medidas que evitem a prática constante contra a vida e os seus bens e de proteção devida diante da grave violação dos seus direitos, com a repressão e punição dos responsáveis”, destacou a frente parlamentar.
CIMI
O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) divulgou no domingo, 28, nota condenando o ataque de garimpeiros aos índios da etnia Wajãpi e cobrou de Bolsonaro o respeito à Constituição. Segundo órgão, vinculado à igreja Católica, a política de Bolsonaro de incentivo à agressão e ao ódio contra os povos indígenas, contribuiu para o ataque de garimpeiros.
“Esperamos que os órgãos e autoridades públicas tomem medidas urgentes, estruturantes e isentas politicamente para identificar e punir, na forma da lei, os responsáveis pelo ataque aos Wajãpi. Esperamos também que o governo Bolsonaro adote medidas amplas de combate à invasão e esbulho possessório das terras indígenas no país”, aponta a entidade.
“O Cimi exige que o presidente Bolsonaro respeite a Constituição Brasileira e pare imediatamente de fazer discursos preconceituosos, racistas e atentatórios contra os povos originários e seus direitos em nosso país”, destaca a nota.
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