“Nós sabemos que, se a gente reagir depois das eleições, vai ter um caos no Brasil, vai virar uma grande guerrilha, uma fogueira no Brasil”, afirmou o golpista aos seus comparsas em reunião gravada. Vídeo foi obtido pela PF. Falta de apoio nas Forças Armadas frustrou seus planos
Um vídeo apreendido pela Polícia Federal (PF) mostra Bolsonaro dizendo a ministros, numa reunião da alta cúpula do governo feita em 5 de julho de 2022, que era necessário dar o golpe antes das eleições para que o Brasil não virasse “uma grande guerrilha”. “Nós sabemos que, se a gente reagir depois das eleições, vai ter um caos no Brasil, vai virar uma grande guerrilha, uma fogueira no Brasil”, disse Bolsonaro.
REUNIÃO COM MINISTROS E ASSESSORES
Participavam da reunião, ministros de Bolsonaro, como o general Heleno (ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional) e Anderson Torres (ex-ministro da Justiça). Eles foram alvo de buscas na operação de quinta-feira (8). Bolsonaro foi obrigado a entregar o passaporte.
No escritório dele na sede do Partido Liberal (PL), a PF encontrou um documento com argumentos para a decretação de um estado de sítio e da garantia da lei e da ordem no Brasil. A íntegra do vídeo, que estava no computador do ajudante de ordem de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid, ainda não veio à tona.
Assista o vídeo da reunião golpista na íntegra
Para convencer os presentes a aderirem ao golpe, Bolsonaro ataca os ministro do Supremo Tribunal (STF). “Alguém acredita em Fachin, Barroso e Alexandre de Moraes? Se acreditar levanta braço. Acredita que são pessoas isentas, que tão preocupadas em fazer justiça, seguir a Constituição?”, indagou o golpista, dando a entender que as Forças Armadas poderiam agir. “Eles erraram [ao incluir as Forças Armadas]. Para nós, foi excelente. Eles se esqueceram que sou o chefe supremo das Forças Armadas?”, afirmou.
PESQUISAS JÁ APONTAVAM VITÓRIA DE LULA
Naquele momento, as pesquisas já apontavam que Lula estava frente na disputa. “Alguém tem dúvida do que vai acontecer no dia 2 de outubro? Qual resultado que vai estar às 22h na televisão? Alguém tem dúvida disso? Aí a gente vai ter que entrar com um recurso no Supremo Tribunal Federal… Vai pra puta que o pariu, porra. Ninguém quer virar a mesa, ninguém quer dar o golpe… Ninguém quer botar a tropa na rua, fechar isso, fechar aquilo… Nós estamos vendo o que está acontecendo. Vamos esperar o quê?”, esbravejou Bolsonaro.
Não faltaram ataques diretos ao STF, com insinuações de que o órgão não era isento. “O nosso Supremo aqui é um poder à parte. É um super-supremo, ele decide tudo. Muitas vezes fora das quatro linhas. Não dá para gente ganhar o jogo com o pessoal atirando tijolo da arquibancada em cima dos jogadores nossos, com juízes que toda hora dá impedimento… É difícil a gente ganhar o jogo assim”, disse. ‘Estão preparando tudo para o Lula ganhar”. acrescentou.
PRECISAVA DESACREDITAR ELEIÇÃO
O plano de Bolsonaro era desacreditar a eleição e insinuar que haveria fraude. “Agora, alguém tem dúvida que a esquerda, como está indo, vai ganhar as eleições? Não adianta eu ter 80% dos votos. Eles vão ganhar as eleições”, prosseguiu Bolsonaro.
As supostas fraudes eleitorais alegadas por Bolsonaro ao longo de quatro anos de mandato nunca existiram. A lisura do processo e a confiança no resultado foram reafirmadas por autoridades nacionais e internacionais, diversas vezes.
TENTATIVA DE ENVOLVER OAB
Em outro trecho, Bolsonaro conclama aos órgãos do Poder Executivo para que se manifestassem contra as urnas eletrônicas. Insta órgãos, como a CGU, as Forças Armadas e outros a participarem da redação de um documento que afirmasse ser impossível “definir a lisura das eleições” e incluísse elementos externos, como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
“Nós não podemos, pessoal, deixar chegar as eleições e acontecer o que está pintado, está pintado. Eu parei de falar em voto impresso e eleições há umas três semanas. Vocês estão vendo agora que… eu acho que chegaram à conclusão. A gente vai ter que fazer alguma coisa antes”, disse.
Em nota, a OAB desmentiu Bolsonaro e disse que “nunca foi procurada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro ou seus interlocutores para a finalidade mencionada”.
HELENO OFERECEU ABIN PARA ESPIONAR
Na mesma reunião o general Heleno também defende ação golpista antes da eleição. Sua fala não aparece nas imagens, mas sim nas transcrições da PF. “Não vai ter revisão do VAR. Então, o que tiver que ser feito tem que ser feito antes das eleições. Se tiver que dar soco na mesa é antes das eleições. Se tiver que virar a mesa é antes das eleições”, afirmou Heleno na reunião. Até o momento, apenas vídeos das falas de Jair Bolsonaro vieram à tona. A participação de outros convidados na reunião é descrita no relatório da PF, mas ainda não há imagens divulgadas.
BRAGA NETO CHAMOU COMANDANTE DO EXÉRCITO DE “CAGÃO”
O então ministro da Defesa, Braga Neto, confessou que conspirava dentro dos quartéis para manter Bolsonaro no governo. Ele disse que se reunia com comandantes para discutir eleições e reeleger Bolsonaro.
O general Paulo Sérgio Nogueira também falou e confirmou encontros semanais com as Forças Armadas para garantir as ‘eleições como a gente sonha’, com ‘êxito’ na reeleição de Jair Bolsonaro. Em troca de mensagens, Braga Neto aparece protestando contra o comandante do Exército, general Freire Gomes, que foi contra o golpe. Braga o chamou de “cagão”.
Este elemento foi um dos piores seres que nasceu neste país.
A mãe deste sujeito não merecia ter concebido um ser mau como esse.