Pelo menos nove estados estão envolvidos na força-tarefa montada para ajudar as cidades baianas. O mandatário segue curtindo suas férias prolongadas em Santa Catarina
O Brasil inteiro está se mobilizando para ajudar os moradores da Bahia que estão enfrentando as maiores tempestades dos últimos trinta anos. São 116 municípios atingidos, cerca de 100 cidades que decretaram situação de emergência, mais de 50 mil desalojados e pelo menos 20 mortos. Para o governador Rui Costa (PT), trata-se “do maior desastre natural da história da Bahia”, que tem várias cidades submersas.
Pelo menos nove estados estão diretamente envolvidos na força-tarefa montada para ajudar às cidades baianas que sofrem com os danos causados pelas chuvas nos últimos dias. Chegaram aos municípios do sul, sudoeste e extremo sul da Bahia, além de militares, equipamentos e aeronaves de fora. O governador do Maranhão, Flávio Dino (PSB), foi um dos que anunciou no sábado o envio de integrantes do Corpo de Bombeiros do Estado para o sul da Bahia.
Já no domingo (26), 36 profissionais do Corpo de Bombeiros e do Comando de Aviação da Polícia Militar de SP desembarcaram em Ilhéus, no sul da Bahia. No mesmo dia, militares do Corpo de Bombeiros e da Coordenadoria Integrada de Operações Aéreas (Ciopaer) do Rio Grande do Norte também chegaram em Ilhéus. Foram enviados 10 policiais do Ciopaer e 8 bombeiros militares, além do helicóptero Potiguar 01, três picapes e dois botes equipados com motor para salvamento.
VERBAS FEDERAIS PARA PREVENÇÃO FORAM INSUFICIENTES
A região sul do estado da Bahia, a mais atingida, havia recebido apenas 2,1% das verbas federais para prevenção de desastres. As cidades que sofrem com as chuvas foram o destino de R$ 15,4 milhões desses recursos, de um total de R$ 722 milhões em todo o país. A Bahia obteve, ao todo, R$ 156,9 milhões. Em seu sobrevoo rápido na região antes de partir para as suas férias no Guarujá, Bolsonaro fez campanha política, atacou o governador e anunciou a liberação de R$ 5 milhões e a antecipação do FGTS para as vitimas das enchentes.
Na ocasião, o governador rebateu o presidente dizendo que não tinha tempo “para politicagem barata”. Ele também criticou o montante anunciado pelo governo federal. “Ele anuncia uma merreca dessas. Eu até recebi uma mensagem no meu celular, que eu vou dizer. O cabra me mandou uma mensagem: ‘governador, diga aí que R$ 5 milhões dá até para comprar mansão em Brasília, mas R$ 5 milhões não dá para reformar 20 cidades no Extremo Sul da Bahia. Avise isso’. E, de fato, é uma vergonha absoluta esse comportamento. É desumano. É cruel. É tripudiar com a vida das pessoas”, afirmou Rui Costa.
“Pior do que ser incompetente para governar, é a pessoa não ter sensibilidade humana, não gostar de gente. Alguém que vem na Bahia, com as pessoas com sua casa no chão, perdendo tudo, às vezes lutaram 10, 20, 30 anos para construir uma casa, montar uma loja, um supermercado, o cabra desembarca aqui e, ao invés de ir lá anunciar investimentos para ajudar as pessoas, vai fazer carreata para fazer campanha política e partidária. É uma desumanidade”, acrescentou Rui.
Com o agravamento da situação e como Bolsonaro continua indiferente, curtindo suas pescarias, mergulhos e aglomerações nas praias do sul, os ministros do governo foram pressionados a tomarem alguma providência. Eles, então, sobrevoaram as regiões afetadas nesta terça-feira (28) e anunciaram a liberação de R$ 200 milhões para todo o Ministério da Infraestrutura, sendo que deste total, R$ 80 milhões serão usados para a reconstrução de estradas na região Nordeste.
A MP de Crédito Extraordinário de R$ 200 milhões será destinada para as estradas no Amazonas, Minas Gerais, Pará e São Paulo e Bahia. Desse total, R$ 80 milhões serão para obras no Nordeste, R$ 70 milhões ao Norte e R$ 50 milhões para o Sudeste. O governo não informou quanto cada estado irá receber, mas apenas a Bahia foi contemplada no Nordeste.
R$ 80 MILHÕES NÃO DÁ PARA RECUPERAR A BAHIA, DIZ GOVERNADOR
O governador Rui Costa disse que o crédito extraordinário aberto é insuficiente para reconstruir as estradas no Estado. “Queria fazer um apelo porque não é possível recuperar as estradas federais com R$ 80 milhões. Não dá para recuperar a Bahia. Então faço um apelo de um aporte direcionado para o Estado da Bahia”, disse o governador, durante entrevista na cidade de Ilhéus, ao lado de ministros do governo.
O chefe do executivo estadual apresentou as demandas emergenciais e informou que os levantamentos sobre os danos causados pelas enchentes na Bahia estão sendo feitos pelos órgãos e secretarias estaduais que integram a força-tarefa nas regiões afetadas. O diagnóstico final será encaminhado assim que o nível da água diminuir e o trabalho das equipes de campo puder avançar. “A extensão da destruição é o que impressiona. Parece que houve uma guerra. As crateras, as barragens que foram levadas, as pontes, o dano à infraestrutura é enorme. Nossos técnicos estão avaliando os danos, mas ainda não temos esse dado concreto”, apontou o governador.
Também na tarde desta terça-feira, o coordenador da bancada da Bahia no Congresso, deputado Marcelo Nilo (PSB), disse que os 200 milhões destinados ao Ministério da Infraestrutura por meio de medida provisória é só o “início”. Segundo ele, serão necessários, no mínimo, 1 bilhão de reais para a recuperação de cidades.
“Isso é para salvar vidas, 200 milhões não vai ser nem 10%, 15% do que é necessário para reconstruir as cidades. Pra recuperar essas cinquenta cidades, é óbvio que tem que ter um estudo, mas no mínimo 1 bilhão”, disse após reunião com o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL). Na ocasião, os parlamentares defenderam a criação de um fundo específico emergencial para ser utilizado em casos de catástrofe.