Na segunda-feira (20) ao sair do Palácio da Alvorada, Bolsonaro voltou a fazer uma encenação, após exibir sua face nua e crua no domingo (19), para todo o país.
No domingo ele fez um discurso para sua claque de bolsonaristas devidamente organizada, com faixas padronizadas pedindo o fechamento do Congresso Nacional, do Supremo Tribunal Federal (STF) e uma “intervenção militar” contra a democracia.
Na plateia, um dos cartazes dizia: “intervenção militar com Bolsonaro no poder”. Outros tinham escrito “Fora STF”, “Fora Maia” [presidente da Câmara].
Disse ele do alto de uma caminhonete para insuflar seus fãs:
“Nós não queremos negociar nada. Queremos é ação pelo Brasil”; “Chega da velha política! (…) Acabou a época da patifaria. Agora é o povo no poder”.
Na segunda-feira, após a avalanche de críticas de todos os setores, ele posou de vítima e só faltou dizer que quem esteve na manifestação não foi ele, foi um sósia. Ou que esteve lá, mas não viu as faixas pedindo o fechamento do Parlamento, do STF e pedindo “intervenção militar”. Bolsonaro jurou que não é golpista, mas fanático pela democracia.
Como resumiu o jornalista da GloboNews, Marcelo Lins, em seu Twitter: “Depois da mordida, arrancando mais um naco da carne da Democracia, o sopro (com perdigotos). Francamente…”
“Supremo aberto e transparente. Congresso aberto e transparente. Nós, o povo, estamos no governo”, disse Bolsonaro, para logo esclarecer o que ele entende por democracia: “eu, realmente, sou a Constituição”.
Continuando a alternar entre o cinismo e o ato falho, acusou o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), de tramar contra ele. “O meu time não trabalha de madrugada. O meu time trabalha à luz do dia”. Talvez tivesse em mente o “gabinete do ódio”.
E culpou a imprensa por mostrá-lo na manifestação de domingo que pedia a volta da ditadura. “Provocações baixas e rasteiras”, disse Bolsonaro sobre notícias a respeito de seu apoio aos golpistas. “No que depender do presidente Jair Bolsonaro, democracia e liberdade acima de tudo”, afirmou ao deixar o Palácio da Alvorada pela manhã. “Onde vocês estão com a cabeça? Falta um pouco de inteligência para aqueles que me acusam de ser ditatorial”, disse.
Segundo o jurista e ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Carlos Ayres Brito, “a lembrança que se deve fazer ao presidente é essa: a Constituição governa quem governa. Ela governa permanentemente quem governa transitoriamente. Então, um presidente ‘constituicida’ é uma contradição dos termos”.
Ou lembrando Ulysses Guimarães: “Quanto a ela, discordar, sim. Divergir, sim. Descumprir, jamais. Afrontá-la, nunca. Traidor da Constituição é traidor da Pátria. Conhecemos o caminho maldito: rasgar a Constituição, trancar as portas do Parlamento, garrotear a liberdade, mandar os patriotas para a cadeia, o exílio, o cemitério”.
“A persistência da Constituição é a sobrevivência da democracia”.
O ato bolsonarista de domingo em frente ao QG do Exército, em Brasília, no dia do Exército, além de ser uma atentado contra a democracia e o país, foi uma provocação tramada contra as Forças Armadas.
Ao contrário do que Bolsonaro tentou fazer passar, de que “estavam lá saudando o Exército brasileiro”, dias antes, os bolsonaristas já convocavam pelas redes sociais. “Dia 19-04-2020. O Brasil vai parar. 14:00 h. Na frente dos quartéis”, dizia uma das convocações, em verde e amarelo, ao pregar a “deposição” do Supremo e de governadores. Além disso, mensagens de WhatsApp traziam endereços de vários quartéis e batalhões pelo país. O texto era acompanhado das hasthags #abaixo STF e #abaixo Congresso Nacional.
É sintomático que Bolsonaro tenha exibido, na segunda-feira, orgulhoso do seu apoio, um colosso da moralidade como o ex-deputado federal Roberto Jefferson, que chancelou os seus ataques a Rodrigo Maia, num vídeo.
Roberto Jefferson foi condenado à prisão por corrupção, ao confessar que recebeu propina. Jefferson já havia sido da tropa de choque de Fernando Collor. Como se vê, um ícone da novíssima política.
Esse desgoverno é o mais ordinário dos últimos 40 anos, está na hora dos democratas de todo país sejam eles de esquerda, centro ou de direita tomarem posição e darem uma resposta urgente, por que a hiena louca não vai parar de atacar a democracia, que não sejamos covardes.