O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) criticou Bolsonaro (PSL) por seus insultos e agressões contra o presidente da OAB, Felipe Santa Cruz.
O atual inquilino do Planalto desrespeitou a memória de Fernando Santa Cruz, pai de Felipe, morto em 23 de fevereiro de 1974, assassinado pela ditadura.
“O presidente despreza os limites do bom senso por sua incontinência verbal”, escreveu FHC em uma das redes sociais.
“Contraria documentos oficiais sobre o pai do presidente da OAB e dá vazão a rompantes autoritários. Prejuízo para ele e para o Brasil: gostemos ou não foi eleito. O que diz repercute e afeta nossa credibilidade”, afirmou o ex-presidente.
Ao atacar a atuação da OAB, Bolsonaro dirigiu sua vendeta contra o presidente da entidade.
“Por que a OAB impediu que a Polícia Federal entrasse no telefone de um dos caríssimos advogados? Qual a intenção da OAB? Quem é essa OAB? Um dia, se o presidente da OAB quiser saber como é que o pai dele desapareceu no período militar, conto pra ele. Ele não vai querer ouvir a verdade. Conto pra ele”, disse Bolsonaro.
Após as críticas às suas declarações, Bolsonaro mentiu dizendo que Fernando Santa Cruz foi morto pelos companheiros da organização a que pertencia.
Ele foi desmentido por documentos oficiais produzidos pela Aeronáutica, outro da Marinha e mais um do Ministério da Defesa.
Fernando Santa Cruz desapareceu no Rio de Janeiro após ser preso por oficiais do DOI-Codi, antro de torturas e sevícias da ditadura.
Na quarta-feira (31), o presidente da OAB protocolou uma interpelação contra Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF), para que ele diga o que sabe sobre o desaparecimento de seu pai. O documento foi assinado por ele e mais 12 ex-presidentes da OAB.
“É imperioso que o Exmo. Sr. Jair Bolsonaro seja interpelado para esclarecer (i) se efetivamente tem conhecimento das circunstâncias, dos autores e dos locais ligados ao desaparecimento forçado de Fernando Augusto Santa Cruz, e (ii) como teve acesso a tais informações”, diz o documento.
A petição pede um “maior detalhamento” da declaração bolsonarista sobre a participação de Fernando Santa Cruz em organização por ele qualificada como “sanguinária”. “Referida afirmação, feita de maneira obscura e superficial, requer maior detalhamento”, diz o texto.
“Meu pai era da juventude católica de Pernambuco, funcionário público, casado, aluno de Direito. Minha avó acaba de falecer, aos 105 anos, sem saber como o filho foi assassinado. Se o presidente sabe, por “vivência”, tanto sobre o presente caso quanto com relação aos de todos os demais “desaparecidos”, nossas famílias querem saber”, diz Felipe Santa Cruz, em nota ao apresentar a petição.
“Lamentavelmente, temos um presidente que trata a perda de um pai como se fosse assunto corriqueiro – e debocha do assassinato de um jovem aos 26 anos”, diz outro trecho do texto.
“O que realmente incomoda Bolsonaro é a defesa que fazemos da advocacia, dos direitos humanos, do meio ambiente, das minorias e de outros temas da cidadania que ele insiste em atacar. Temas que, aliás, sempre estiveram – e sempre estarão – sob a salvaguarda da Ordem do Advogados do Brasil”, acrescenta a nota do presidente da OAB.
“Por fim, afirmo que o que une nossas gerações, a minha e a do meu pai, é o compromisso inarredável com a democracia, e por ela estamos prontos aos maiores sacrifícios. Goste ou não o presidente”, finaliza Felipe Santa Cruz.
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