
O ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, chamado de mentiroso pelo filho mais novo de Jair Bolsonaro, sinalizou neste sábado que deve ser mesmo demitido na segunda-feira. Ele confirmou que recebeu convite para ocupar um cargo na Itaipu Binacional. Não aceitou e respondeu: “não estou no governo por causa de cargos”.
Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, Bolsonaro já teria assinado a demissão do ministro. A dispensa do auxiliar, agora indesejado, deverá ser publicada no Diário Oficial da União na próxima segunda-feira, dia 18.
A situação tinha ficado em suspenso na sexta-feria (15) porque membros do governo tentaram dissuadir Bolsonaro de demitir Bebianno com medo das repercussões que a demissão terá nas votações de matérias de interesse do governo.
E também porque Bebianno disse que não vai ficar calado. A permanência de Bebianno tinha sido costurada pelo ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni no final da manhã de sexta-feira.
Depois do almoço, entretanto, ao saber mais detalhes de vazamentos de áudios que compartilhou com Bebianno, Bolsonaro se irritou e decidiu contar a história completa para todos os ministros que estavam em Brasília. Chamou a todos, falou dos vazamentos e disse ter havido “quebra de confiança”.
No final do dia, Bolsonaro e Bebianno se econtraram e tiveram uma conversa ríspida. Há quem garanta, como o jornalista Lauro Jardim, que os supostos “vazamentos” de Bebianno não passam de paranoia de Carlos Bolsonaro e seu esquema paralelo de espionagem, esquema esse que contaria com seu primo, conhecido por Léo Índio, que transita solto pelo Palácio do Planalto, apesar de não ocupar nenhum cargo oficial.
Bolsonaro decidiu mudar a decisão inicial, acertada com Onyx, de manter Bebianno no ministério. Queria rebaixar o auxiliar de posto, o que não foi aceito por Bebianno. O ministro teria dito que a oferta era uma demonstração de “ingratidão” do presidente.
Bebianno estava no centro do escândalo sobre desvio de dinheiro público através de candidatas laranja do PSL em Pernambuco e Minas Gerais. As denúncias eram de que o grupo do atual presidente do PSL, Luciano Bivar (PE), criou uma candidata laranja em Pernambuco que recebeu do partido R$ 400 mil de dinheiro público na eleição de 2018. O cheque foi assinado por Bebianno, que exercia a presidência do PSL.
Além disso, segundo a Família Bolsonaro, Bebianno “vazara” o cancelamento de uma reunião, marcada entre ele e o vice-presidente de Relações Institucionais do Grupo Globo, Paulo Tonet Camargo.
A reunião foi cancelada a mando de Bolsonaro. No áudio, dando a ordem, Bolsonaro diz: “como você coloca nossos inimigos dentro de casa?”.
O vazamento do áudio, com esse comentário, para a revista Veja deixou Bolsonaro fora de si.
Ele passou a considerar Bebianno como traidor. O chefe da Secretaria Geral da Presidência teria mostrado também a amigos arquivos de áudio com a voz de Bolsonaro ordenando que ele suspendesse uma viagem de ministros ao Pará.
Bolsonaro não gostou de saber que ele havia convidado um veículo de comunicação (O Globo) para acompanhar a comitiva.
Quando Bebianno deu entrevista neste mesmo veículo de comunicação, dizendo que, na véspera, tinha conversado três vezes com o presidente, Bolsonaro considerou isso a gota d’água e resolveu se desfazer do ministro.
A reação de Eduardo Bolsonaro neste sábado não deixa dúvida. Ele foi para o ataque a Bebianno, à mídia e ao “establishment” e defendeu o irmão, Carlos. “A mídia está defendendo Bebianno. (,,,) Somos levados a concluir que o ministro tem amigos no establishment e que o buraco é mais embaixo. E ainda tem jumento que diz que o Carlos atrapalha o pai. Vocês são idiotas ou o que?”
Carlos Bolsonaro foi o instrumento usado para desmentir e desmoralizar o ministro desafeto. Ele o fez com uma mensagem nas rede sociais. “Ontem estive 24h do dia ao lado do meu pai. ‘É uma mentira absoluta de Gustavo Bebbiano que ontem teria falado 3 vezes com Jair Bolsonaro para tratar do assunto citado pelo Globo e retransmitido pelo Antagonista”.
Logo em seguida, Carlos Bolsonaro acrescentou outra postagem dizendo: “Não há roupa suja a ser lavada! Apenas a verdade: Bolsonaro não tratou com Bebianno (sic) o assunto exposto pelo O Globo como disse que tratou”. E postou um áudio de Bolsonaro para Gustavo Bebianno em que seu pai se recusa a falar com o secretário-geral da Presidência:
“Gustavo, está complicado eu conversar ainda. Então não vou falar, não vou falar com ninguém a não ser estritamente o essencial. E estou em fase final de exames para possível baixa hoje, tá ok? Boa sorte aí”.
Em entrevista ao Jornal da Record, concedida no hospital e exibida na mesma noite de quarta, o presidente disse ter determinado a abertura de inquérito da Polícia Federal sobre o esquema de candidaturas laranjas de seu partido e que, “se Bebianno – que coordenou sua candidatura – estiver envolvido, o destino não pode ser outro a não ser voltar às suas origens”.
Na época em que ocorreram as candidaturas fantasmas, o ministro era presidente interino da legenda e coordenador da campanha de Jair Bolsonaro (PSL). O dinheiro foi liberado pelo então presidente Gustavo Bebianno. Na quarta (13), outra revelação. Bebianno havia liberado R$ 250 mil de verba pública para a campanha de uma ex-assessora, que repassou parte do dinheiro para uma gráfica registrada em endereço de fachada – sem maquinário para impressões em massa.
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