Jair Bolsonaro anunciou, na quinta-feira (19), que seu plano para que, supostamente, o preço da carne desça consiste em liberar a criação de gado em terras indígenas.
Somente em novembro, o preço da carne subiu 8,09%, segundo o IPCA, para os brasileiros. Isso acontece por conta da política do governo Bolsonaro de favorecer o mercado externo em detrimento do mercado interno.
“O preço da carne subiu? Temos que criar mais boi aqui. Para diminuir o preço da carne, eles [indígenas] podem criar boi”, disse. O problema do preço da carne não é falta de gado, que no Brasil tem bastante. Sequer passa pela cabeça de Jair Bolsonaro ou de Guedes regular a exportação desenfreada do produto, isso, sim, é o problema.
A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, que é conhecida como “Musa do Veneno”, chegou a falar que o preço da carne antes dessa alta estava muito baixo e, agora que atingiu outro patamar, não vai “voltar ao que era”.
“A carne ficou por 3 anos com valor muito baixo. Isso faz com que o mercado sinta mais essa subida”. “Não tem perigo de voltar ao que era. Mudou o patamar”, declarou Tereza.
Para Bolsonaro, a possibilidade de criar gado ou manter monoculturas, como soja, ou praticar mineração em nas terras indígenas (TI) seria para os povos que lá habitam o que foi a Lei Áurea para os escravos no século XIX.
“Vai ser tudo num projeto só, a ideia é essa”, disse. “Não teve a Lei Áurea? Vamos inventar um nome aí, a Lei Áurea para o índio”.
“Quero dar independência para eles. Se ela [indígena] quer pegar sua terra, arrendar para alguém plantar soja ou plantar milho lá, faça isso respeitando a legislação nossa”. “O índio vai poder fazer tudo na sua terra que o fazendeiro faz na dele. E ponto final”.
A terra indígena, porém, não é propriedade privada de nenhum índio e nem do povo que nela habita, elas são terra da União. O Congresso Nacional pode, inclusive, pedir a devolução das terras indígenas se for do interesse do país.
O plano de Bolsonaro é acabar com as terras indígenas para entregá-las aos latifundiários.
No governo de Bolsonaro, os indígenas têm sido alvos de garimpeiros, madeireiros ilegais e latifundiários.
Só no Maranhão, três índios foram assassinados em pouco mais de um mês.
Segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT), sete lideranças indígenas foram mortas em conflitos no campo esse ano, contra duas mortes em 2018. É o maior número em pelo menos 11 anos.
Não é a primeira vez que Bolsonaro ataca os indígenas. Ao assumir o governo, ele tirou a demarcação de terras indígenas da Fundação Nacional do Índio (Funai), ligada ao Ministério da Justiça, e passou para o Ministério da Agricultura, onde, atualmente, predominam os interesses dos ruralistas anti-indígenas.
O Congresso rejeitou a medida provisória (MP) sobre o assunto e ao tentar reeditá-la, o Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu a MP.
Em julho, ele declarou que estava catando investidores nos EUA para explorar minérios nas reservas indígenas.
“Terra riquíssima (reserva indígena Ianomâmi). Se junta com a Raposa Serra do Sol, é um absurdo o que temos de minerais ali. Estou procurando o ‘primeiro mundo’ para explorar essas áreas em parceria e agregando valor. Por isso, a minha aproximação com os Estados Unidos. Por isso, eu quero uma pessoa de confiança minha na embaixada dos EUA”, afirmou na ocasião em um evento.
Para completar, nomeou Luiz Antonio Nabhan Garcia para secretário de Assuntos Fundiários do Ministério da Agricultura, inimigo das demarcações de terras indígenas e presidente licenciado da União Democrática Ruralista (UDR), entidade acusada de organizar e armar uma milícia para atuar nas regiões rurais do país.