O ex-presidente Jair Bolsonaro esteve na sede da Polícia Federal, em Brasília, mas ficou em silêncio diante das perguntas sobre as provas de seu envolvimento na tentativa de golpe de Estado para mantê-lo no poder.
Outros 22 envolvidos na operação da PF, deflagrada no dia 8 de fevereiro, também foram intimados a prestar depoimentos sobre o caso. Ao total, foram 14 depoimentos simultâneos em Brasília.
A defesa de Bolsonaro confirmou que ele se manteve calado durante todo o depoimento, mas fala que isso foi feito porque não teve acesso a todo o conteúdo do inquérito, como a delação de seu ex-ajudante de ordens, Mauro Cid.
No fundo, medo de ser preso.
Também prestaram depoimento ex-ministros de Bolsonaro, como Anderson Torres (Justiça), Walter Braga Netto (Defesa e Casa Civil), Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira (Defesa) e Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), o ex-comandante da Marinha, Almir Garnier, o ex-presidente do PL, Waldemar da Costa Neto, entre outros militares e ex-assessores de Bolsonaro.
A Polícia Federal afirmou, em um documento que sustentou a operação, que Jair Bolsonaro recebeu de seus assessores um rascunho de um decreto presidencial “para executar um Golpe de Estado, detalhando supostas interferências do Poder Judiciário no Poder Executivo e ao final decretava a prisão de diversas autoridades”, como os ministros Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
O documento também determinaria “a realização de novas eleições”, apontou a PF.
Jair Bolsonaro então pediu ao seu assessor “que fizesse alterações na minuta”. Após receber o documento alterado, Bolsonaro convocou uma reunião com os Comandantes das Forças Militares “para apresentar a minuta e pressioná-los a aderirem ao Golpe de Estado”.
O depoimento de Mauro Cid, que foi ajudante de ordens de Bolsonaro, ajudou a PF a revelar mais sobre o planejamento do golpe de Estado.
Cid contou que o comandante da Marinha, Almir Garnier, embarcou no plano de Jair Bolsonaro e pôs “suas tropas à disposição do presidente”.
Dois dias depois da reunião, Mauro Cid enviou um áudio para o então comandante do Exército, Freire Gomes, confirmando que Jair Bolsonaro “enxugou o decreto”, tirando “aqueles considerandos que o senhor viu”, deixando o “decreto muito mais resumido”.
No áudio, Cid ainda diz que Bolsonaro queria conversar com o general Theophilo Gaspar de Oliveira, que chefiava o Comando de Operações Terrestres do Exército. Theophilo está entre os depoentes da quinta-feira (22).
A Polícia Federal também descobriu que o ex-presidente Bolsonaro enviou para os Estados Unidos R$ 800 mil para conseguir se manter por lá caso o plano golpista fosse descoberto no Brasil.
EXÉRCITO PREPARA CELAS
O Exército deixou preparadas algumas celas dentro do Quartel General, em Brasília, para o caso de prisões de militares da ativa e da reserva, inclusive do ex-presidente Bolsonaro, serem feitas durante o dia.
Um militar falou à Veja que “a gente precisa se preparar”. “Pela antiguidade da pessoa presa, é preciso que a gente tenha uma estrutura melhor, até porque sofremos inspeção do STF, logo após as prisões”.