Jair Bolsonaro já era conhecido como lobista e garoto propaganda da Taurus. Em quase todos os lugares em que comparecia, fazia merchandising da empresa de armas com a sinistra pose de atirador. Prometeu encher o país de armas de todos os tipos e, para regozijo das milícias, liberar a sua venda em todo o território nacional.
Chegou a aparecer num vídeo portando um rifle de assalto da fabricante. Agora, em sua viagem à Índia, assumiu abertamente a condição de lobista internacional da empresa. Levou a tiracolo, entre outros empresários, Salesio Nuhs, dono e presidente da Taurus e um de seus principais financiadores de sua campanha.
Desde o início de seu governo, Jair Bolsonaro já vinha dando bons resultados para seus financiadores da Taurus. Aliás, na verdade, desde antes, os donos da empresa já festejavam sua campanha a favor do armamento geral.
Logo após a sua posse o “mito” assinou decreto para facilitar a posse de armas no Brasil. Com isso ele fez disparar as ações da Taurus, que é o maior fabricante brasileiro de armas de fogo e que responde por 86% do mercado.
Sem nenhum registro oficial e sem nenhuma agenda de atividades, um pelotão de dez empresas brasileiras de armas, munição, equipamentos de vigilância, aviação e inteligência militar foram selecionadas por Bolsonaro para acompanhar a visita oficial à Índia. A viagem aconteceu entre os dias 24 e 28 de janeiro.
Realizaram na segunda-feira (27), “clandestinamente” – ou seja, sem nenhuma divulgação prévia -, um seminário chamado de 1º Brazil-India Defence Industry Dialogue. O evento aconteceu na tarde do dia 27 e foi aberto por Marcos Degaut, secretário de produtos de defesa do governo Bolsonaro, e por Ajay Kumar, secretário de defesa da Índia.
A atuação facilitadora de Bolsonaro nas reuniões e no seminário foi considerada pelos empresários decisiva para o fechamento de negócios. O lobby do presidente era necessário porque as compras na área da Defesa costumam ser exclusivamente governamentais e se destinam ao abastecimento de forças de segurança pública e militares.
A função de Jair Messias Bolsonaro na comitiva foi típica de um lobista: fazer a intermediação entre possíveis compradores – no caso o governo indiano – e os fabricantes que foram selecionados por ele para compor a delegação.
O objetivo dos executivos que viajaram junto com Bolsonaro ao país sul-asiático é ampliar suas exportações e conseguir licenças do governo do primeiro-ministro Narendra Modi para a produção de armas e equipamentos de segurança em território indiano.
A Índia é o segundo maior comprador de equipamentos de defesa do planeta, atrás apenas da Arábia Saudita, e tem o quarto maior orçamento militar do mundo.
No entanto, os indianos não estão interessados em ampliar as importações de armas.
Eles mostraram à delegação brasileira o braço do chamado “Make in India”, um mega projeto bilionário lançado em 2014 pelo primeiro-ministro Narendra Modi para ampliar investimentos internos na indústria indiana em diversos setores.
Um dos principais objetivos do governo indiano é reduzir sua dependência de importações na área de defesa – hoje, Rússia, Israel, França e os EUA são os principais fornecedores do país no setor.
Ao contrário dos indianos que querem garantir que suas empresas estejam em condições de fornecer materiais de defesa ao seu consumo interno, o governo brasileiro está na contramão dessa orientação e quer escancarar o mercado brasileiro para fabricantes estrangeiros de armas.
Tanto isso é fato que o filho de Bolsonaro, o fritador de hambúrgueres e quase embaixador, Eduardo Bolsonaro, que também está na comitiva, gravou uma entrevista à BBC onde defende que as empresas estrangeiras de armas ocupem o mercado brasileiro para, segundo ele, “baratear os preços das armas”. Ele fez lobby também da absurda ideia de que, quanto mais armas forem vendidas no país, menor será o número de mortos por armas de fogo.
Bolsonaro tinha como tarefa concreta pedir ao governo da Índia que acelere a regulamentação para associação de empresas brasileiras com empresas indianas para a produção e venda de armas e munições da Taurus dentro do país. Há negociações em andamento para a criação de uma joint venture com a fabricante de aço indiana Jundal Group.
Principal acionista da Taurus, a CBC (Companhia Brasileira de Cartuchos) recebeu em agosto de 2019 licença para produzir munição junto à indiana SSS Springs. Até 2021, a joint venture deve inaugurar uma fábrica em Anantapur para a produção de munição para uso militar e de caça.
O presidente da Taurus é um bolsonarista de primeira hora. Ele não só aplicou recursos financeiros na campanha de Bolsonaro como patrocinou vídeos de apoio escancarados antes e depois da eleição. “O Brasil está mudando”, anunciava com pompa um vídeo apresentado a acionistas e analistas em 14 de dezembro de 2019.
“Acreditamos neste novo momento (…). Estamos preparados para um novo Brasil”, acrescentava o texto. “[Bolsonaro] vai ser o 38º presidente”, brincava o principal executivo da companhia, Salesio Nuhs, durante essa mesma apresentação. “Isso é um bom sinal”, acrescentava, em referência ao popular revólver calibre 38. Bolsonaro aceitou a dica e escolheu o número 38 para o partido que está tentando criar.