Governadores do Nordeste divulgaram uma carta na sexta-feira (18) em repúdio aos ataques feitos pelo presidente Jair Bolsonaro contra o governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB). A agressão deveu-se ao fato de Câmara ter cumprido sua promessa de campanha e implantado o 13º do Bolsa Família com recursos do Estado antes do governo federal.
O 13º do Bolsa Família para os pernambucanos foi anunciado por Paulo Câmara em 28 de agosto de 2018, durante um debate entre os candidatos ao governo estadual e virou lei ainda em 2018.
Bolsonaro, que havia prometido a medida dias antes do segundo turno das eleições de 2018, só assinou a medida provisória em outubro deste ano, determinando o pagamento da parcela extra em âmbito federal. Numa atitude ridícula e desprezível, Jair Messias Bolsonaro usou as redes sociais na última sexta-feira para chamar Câmara de “espertalhão”.
Ele compartilhou um vídeo criticando uma campanha do governo de Pernambuco sobre o pagamento da 13ª parcela do Bolsa Família com recursos do Estado. No vídeo, um bolsonarista aparece em frente a um outdoor, anunciando o repasse extra com dinheiro do Estado de Pernambuco. Ele acusa, então, Câmara de se apropriar da iniciativa federal.
O governador Paulo Câmara, do PSB, respondeu ao ataque na mesma sexta-feira, dizendo estar surpreso “com um ataque direto do Presidente da República, que, de maneira desinformada, falta com o respeito ao governador e ao Estado de Pernambuco”. Ele acrescentou que essa era uma proposta antiga de seu governo.
O uso de verbas do Estado para pagar a 13ª quota do Bolsa Família em Pernambuco foi uma proposta feita durante a campanha de reeleição, no ano passado – antes de Bolsonaro assinar a medida provisória que determina o pagamento da parcela extra em âmbito federal.
Na nota dos governadores, eles lamentam que a “missão confiada ao atual presidente seja transformada em um vergonhoso exercício de grosserias e, neste caso, também na propagação de falsidades”.
Esta não é a primeira vez que Bolsonaro agride governadores do Nordeste. Em julho, uma fala do presidente foi captada durante uma conversa com o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. No áudio, Bolsonaro diz que “entre os governadores de ‘paraíba’, o pior é o do Maranhão; tem que ter nada com esse cara”.
Na ocasião, a declaração causou revolta entre os governadores, que publicaram, no mesmo dia, uma nota de repúdio. Agora, novamente, Bolsonaro agride a região, através de ofensas a um de seus representantes.
A nota de repúdio desta sexta-feira foi assinado por Belivaldo Chagas (PSD), de Sergipe, João Azevedo (PSB), da Paraíba, Flávio Dino (PCdoB), do Maranhão, Rui Costa (PT), da Bahia, Renan Filho (MDB), de Alagoas, Camilo Santana (PT), do Ceará, Wellington Dias (PT), do Piauí e Fátima Bezerra (PT), do Rio Grande do Norte.
Veja a íntegra da carta
“Nós, governadores do Nordeste, gostaríamos de expressar nossa solidariedade ao colega Paulo Câmara, de Pernambuco, vítima de um descabido e desrespeitoso ataque proferido, hoje, pelo presidente Jair Bolsonaro.
Além de inverídica, a mensagem publicada possui um tom inaceitável, em qualquer situação, tornando-se ainda mais grave ao ser assinada pela mais alta autoridade do Poder Executivo nacional. É profundamente lamentável que a missão confiada ao atual presidente seja transformada em um vergonhoso exercício de grosserias e, neste caso, também na propagação de falsidades.
A verdade dos fatos, apresentada na resposta do governador de Pernambuco, prevaleceu. Mas não poderíamos abrir mão de registrar esta nota de repúdio. O Brasil precisa de seriedade, solidariedade, espírito público e entendimento. O país precisa de reunião de esforços para superar enormes desafios. É fundamental que este compromisso, que todos esperamos ver cumprido pelos gestores públicos, não seja debochadamente ignorado por alguém que deveria ser uma de suas maiores referências.
Continuaremos a postos, unidos, e firmes no trabalho a favor da população, também permanentemente atentos à manutenção de um ambiente que favoreça o diálogo, o respeito às pessoas e o fortalecimento da democracia.”