Até o “especialista” em informática que ele levou no programa era uma farsa. Isolado e com medo das urnas, ele usou a live para fazer ameaças à democracia
Para quem, como Jair Bolsonaro, já mentiu 1.682 vezes no ano de 2020, segundo a organização não-governamental Relatório de Expressão da Artigo-19, divulgado esta quinta-feira (29), ou seja, 4,3 mentiras por dia, não há nenhuma novidade no fato de que ele tenha usado sua live desta quinta-feira para mentir mais uma vez. Desta vez sobre as urnas eletrônicas.
A MONTANHA PARIU UM RATO
O problema é que Bolsonaro anunciou que hoje apresentaria provas bombásticas de fraudes nas urnas eletrônicas. No final, a montanha pariu um rato. O máximo que ele conseguiu fazer foi requentar alguns vídeos já amplamente desmentidos, “denúncias” que foram consideradas falsas pela Polícia Federal, boatos e narrativas conspiratórias. Levou até um seguidor a tiracolo, fantasiado de “especialista”, para dar um ar de seriedade à encenação.
O problema é que o currículo do “especialista”, divulgado pelo Planalto, não informa qualquer especialização na área de programação ou segurança da informação por parte de Eduardo Gomes da Silva, que é coronel do Exército. Ou seja, o “especialista” em informática, apresentado por Bolsonaro, não é especialista. Mais uma farsa para desmoralizar a apresentação bombástica de Bolsonaro. A explicação saiu pior que o soneto.
“A pessoa que viria fazer a demonstração aqui demonstrou muita preocupação pela sua exposição. É um civil. E resolveu então passar as informações para o Eduardo, de modo que ele explanasse aqui. De nada diminui o serviço prestado pelo Eduardo, porque a mesma coisa seria apresentada pelo outro cidadão. Se ele se garantir seguro no futuro, pode ter certeza que ele participará de momentos outros como esse”, contou Bolsonaro.
VÍDEOS REQUENTADOS
A insinuação de que votos no 17, que era o número de Bolsonaro em 2018, eram transformados em 13, de seu adversário, foram descartadas pelas investigações de vídeos onde pessoas diziam que isso havia ocorrido. Na época, o TRE de Minas Gerais comprovou que os vídeos, requentados novamente agora por Bolsonaro, eram montagens. Um perito do TRE-MG demonstrou, utilizando um programa de edição de imagens, como foi feita a montagem.
O vídeo apresentado, mostrando um suposto programador simulando alterações em urnas, não leva em conta que os programas das urnas são muito mais complexos do que foram mostrados e possuem mecanismos de proteção que impedem que o sistema funcione com um arquivo modificado. Ou, se teoricamente, fosse possível fazê-lo, a fraude seria atomizada, ou seja, teria que ser feito urna por urna, porque os equipamentos não são interligados. Em suma, haja teoria da conspiração.
O próprio TSE já havia respondido a essa acusação, que já tinha sido apresentada em anos anteriores e que foi agora requentada novamente por Bolsonaro. “Em termos de dispositivo de hardware, a urna é um computador. Porém, não é um computador comum de mercado, mas sim projetado conforme exigências estabelecidas pelo TSE para garantir a segurança de seu hardware”, explica o Tribunal Superior Eleitoral, em nota.
Outra afirmação mentirosa de Bolsonaro é que a contagem dos votos seria feita de forma secreta. A apuração, na verdade, é pública. Ela é feita de forma eletrônica, primeiro em cada urna e depois os resultados são enviados a um sistema por meio de uma rede privada de satélite. Os votos são somados neste sistema eletrônico, mas, cada urna emite um boletim com o resultado que é afixado em todas as salas de votação, ou seja, o resultado é amplamente público e passível de conferência.
RESULTADOS NAS SALAS DE VOTAÇÃO
Além de serem afixados nas salas de votação, as urnas eletrônicas emitem boletins a partir dos RDVs (Registros Digitais do Voto), e os boletins são disponibilizados para partidos políticos e organizações, como a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e o Ministério Público Eleitoral. Cada partido pode fazer a própria contagem dos votos e comparar com o resultado final computado pelo maquinário do TSE. A auditagem da votação é, portanto, perfeitamente realizável, o que mostra que esse é um pretexto esdrúxulo, arranjado por Bolsonaro para criar um clima de ameaças à democracia.
Apesar de toda a cena, pesar de ter anunciado que apresentaria uma “bomba” em seu programa, nada de novo foi apresentado. Nesta semana, Bolsonaro havia prometido apresentar provas contundentes de que as eleições de 2018 foram fraudadas. Não apresentou absolutamente nada. Ou seja, pura palhaçada.
Mais do que isso, ele próprio foi obrigado a admitir que “não tem como comprovar que eleições foram fraudadas”. Isso mesmo, apesar de toda encenação, ele afirmou que não tem provas. “Temos indícios”, confessou. “Não temos provas, vou deixar bem claro, mas indícios que eleições para senadores e deputados podem ocorrer a mesma coisa. Por que não?”, admitiu mais uma vez.
Como não tem o que mostrar, ele inverteu os papéis. Disse que o país é que tem que provar que não houve fraude nas eleições. “Os que me acusam de não apresentar provas, eu devolvo a acusação. Apresente provas de que ele não é fraudável”, declarou Bolsonaro em determinado momento do circo. Em suma, a live anunciada como “bombástica”, não passou de encenação para ameaçar a sociedade e a democracia.
SE NÃO APRESENTAR PROVAS TERÁ COMETIDO DELITO
Especialistas e até o ministro Luiz Roberto Barroso, que preside o TSE, já tinham advertido, e, agora, outro ex-ministro do STF, Ayres de Brito, também disse que “se ele não apresentar provas do que diz, estará cometendo um crime”.
“É possível, sim, que ele [Bolsonaro] responda por uma afirmação que não é correta. Ele está sendo interpelado para provar o que alegou. Se ele não provar, certamente estará em curso em alguma figura delituosa e a Justiça Eleitoral saberá tomar as providências”, disse Ayres de Brito. “Quem coloca um órgão do Poder Judiciário em dúvida tem que responder por isso”, acrescentou o ex-ministro.
“Eu não sei qual a verdadeira intenção do presidente da República ao dizer isso, mas eu temo… estou no plano da especulação… que se prepare a sociedade brasileira para esse trauma democrático. Essa irresignação absolutamente inadmissível sem que se recorra aos meios que a própria Constituição e a lei indicam”, afirmou. “Eu espero estar enganado nessa avaliação subjetiva.”
O restante da live foi recheado de ataques às instituições democráticas, aos ministros do STF e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), aos governadores, à oposição, aos países vizinhos, ou seja, a tudo e a todos. Um discurso bem característico de quem está isolado e que já vê se aproximando o castigo implacável do povo nas urnas por seu fracasso.
DISCURSO DE QUEM NÃO ACEITA A DEMOCRACIA
Ele quer jogar a culpa por seu desastroso governo, da tragédia que está sendo sua passagem pelo Planalto, nos outros. Como disse o presidente do TSE, ministro Luiz Roberto Barroso, nesta quinta-feira, “o discurso de ‘se eu perder houve fraude’ é um discurso de quem não aceita a democracia”.
até um rato tem mais “dignidade” que bolsonaro.
somente 57 milhões de alienados mentais poderiam ser enganados por um IDIOTA com a estatura moral de bolsonaro .