
O jornalista e escritor de mais de 30 livros de história do Brasil Eduardo Bueno gravou um vídeo explicando quem era Borba Gato e criticou a ação do coletivo “revolução periférica” que incendiou a estátua em Santo Amaro, na zona sul de São Paulo, foi um erro. “O Borba Gato não foi um caçador de índio”, defendeu.
Conhecido como Peninha, o escritor não contesta a violência brutal promovida contra indígenas e negros nas expedições dos séculos 16 e 17, as chamadas bandeiras. Afirma, porém, que Borba Gato não se envolveu em caçadas e na matança.
“Quem botou fogo foi um grupo que assumiu, chamado revolução periférica e bota periférica nisso, porque periférico é aquilo que nunca chega ao centro, nunca chega ao âmago e eles tiveram muito longe de chegar ao âmago ao centro dessa questão com essa atitude deles. Primeiro que eles não levaram em consideração, é óbvio, na sua cegueira, que eles queimaram uma obra de arte. Sim, é uma obra de arte contestatória”, continuou.
A estátua de Borba Gato foi incendiada, no último sábado (24). Segundo a Prefeitura da capital paulista, é necessária uma perícia detalhada para avaliar as condições da estátua e definir qual tipo de reparo será feito.
“A Estátua do Borba Gato foi feita em 1962, por um artista chamado Júlio Guerra e ele, nítida e obviamente resolveu contestar aquela arte estatuária, aquelas esculturas de mármore elegantes, ou algumas de bronze, aquela estatuária ou art déco e arte italiana ou alemã com um modelo genuinamente brasileiro que faz uma ode a um mau gosto ao kit. Ele fez a estátua toda de pequenos cacos de cerâmica, o mesmo tipo de cerâmica e azulejo usado nas áreas de serviço e nos quartinhos de empregada dos prédios de classe média e classe média alta de São Paulo. Além de tudo, ele botou a estátua de costas para a entrada da cidade. Era nítido, era evidente a sua atitude de contestar a estatuária anterior dos anos 20 do século 19, que louvava os bandeirantes”, continuou.
“Além de tudo, além de terem queimado uma obra de arte, evidentemente esse grupo revolução periférica sequer sabe quem foi o Borba Gato. O Borba Gato não foi um caçador de índio, claro que o Barba Gato não é um santo, estava longe de ser um santo, mas ele foi um caçador de esmeralda que nem tinha sido o sogro dele, o Fernão Dias. Além de tudo, ele matou um cobrador de impostos, o cara chegou lá nas minas, e jogou o cara do buraco e por causa disso que era um crime de lesa majestade, ele ficou quase 20 anos homiziado nos sertões junto com tribos indígenas que o tratavam como assim o o rei da cocada preta. Ele teve uma relação bastante estável e bastante fecunda com os indígenas. Ele não era um caçador de índios”, disse o escritor.
Por fim, Bueno afirma que é preciso entender a história para este tipo de ato e que essa ação tirou o foco principal das manifestações de 24 de Julho, que pediam o Impeachment de Bolsonaro.
“Além de tudo, essa história de queimar qualquer estátua de qualquer sanguinário, qualquer contestador sem sequer saber quem ele é, conduz apenas a uma atitude obtusa e nesse caso específico eles ainda desviaram a atenção de um protesto genuíno, autêntico contra o governo de Jair Bolsonaro, desgoverno de Jair Bolsonaro, desviaram a atenção, portanto assim em todos os contextos, foi uma atitude retrógrada, absurda, tola, trouxa e que não conduz a nada nem sequer leva ao debate. Então, eu sugiro pra esse grupo revolução periférica que venha mais pro centro da questão”, concluiu.
Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, Bueno defendeu que é preciso entender quem são essas figuras para realizar um debate na sociedade, antes que coloque fogo nelas. “Eu acho que essas figuras têm que ser discutidas. Você não pode derrubá-las no final sem nem saber quem elas são. É óbvio que eu não sou a favor, nem um defensor do Borba Gato. Só que é o seguinte: o Borba Gato não foi um caçador de índio”, reafirmou.