O ex-presidente Jair Bolsonaro desinformou ao dizer que o inquérito que investiga a tentativa de golpe de estado já “foi concluído” e que, por isso, a prisão de seu aliado e ex-ministro, o general Walter Braga Netto, foi irregular.
Mesmo tendo indiciado 40 pessoas, entre elas Jair Bolsonaro e Braga Netto, o inquérito conduzido pela Polícia Federal continua aberto.
Segundo o advogado criminalista Antonio Pedro Melchior, ouvido pelo site UOL, o indiciamento é uma medida do delegado para apontar indícios de autoria de crimes, mas isso não impede que ele peça novas providências, incluindo prisões, na mesma investigação.
A PF identificou que Braga Netto estava agindo para obter informações sobre depoimentos da colaboração premiada do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid. Segundo a corporação, ele tentou “controlar as informações fornecidas” pelo delator.
Por esse motivo, o general da reserva foi preso preventivamente.
Em suas redes sociais, Jair Bolsonaro tentou defender o aliado: “Há mais de 10 dias o ‘Inquérito’ foi concluído pela PF, indiciando 37 pessoas e encaminhado ao MP. Como alguém, hoje, pode ser preso por obstruir investigações já concluídas?”.
Bolsonaro tem falado a pessoas próximas que considera a prisão “descabida” e “extemporânea”, de acordo com Bela Megale, do Globo.
Mensagens obtidas pela PF revelam que Braga Netto manteve contato com familiares de Mauro Cid e, possivelmente, até com o próprio colaborador da Justiça para saber o que a PF já sabia.
Em depoimento mais recente à PF, Cid contou que quando fechou o acordo “não só ele [Braga Netto] como outros intermediários tentaram saber o que eu tinha falado”.
“Fazia um contato com o meu pai, tentavam ver o que eu tinha, se realmente eu tinha colaborado, porque a imprensa estava falando muita coisa, ele não era oficial, e tentando entender o que eu tinha falado”, continuou.
Os investigadores também encontraram na sede do PL, partido de Jair Bolsonaro e Braga Netto, um documento com tópicos sobre depoimentos de Mauro Cid. O documento está em formato de perguntas e respostas e tem itens como “teor das reuniões: o que foi delatado?” e “o que está saindo na imprensa e não foi delatado?” As respostas, para os investigadores, foram dadas por Mauro Cid ou representantes dele.