Um aumento de 168,3% na comparação com o quarto trimestre de 2022
O Bradesco anunciou lucros de R$ 4,3 bilhões no primeiro trimestre de 2023. Um aumento de 168,3% na comparação com o quarto trimestre de 2022. O resultado ficou 17% acima da média das projeções, conforme o consenso Refinitiv. As informações estão no Relatório dos resultados do trimestre divulgado na quinta-feira (4).
O resultado foi obtido apesar da Provisão de Devedores Duvidosos (PDD) em R$ 9,517 bilhões, praticamente o dobro sobre o mesmo período do ano passado. O PDD do trimestre impactou o lucro do período e explica em grande parte a queda de 37,3% na comparação ante o igual período do ano anterior.
Em 12 meses, o PDD aumentou 96,8%, a reserva para risco de inadimplência praticamente dobrou, proteção considerada alta.
As provisões deduzem do lucro, reduzem o pagamento de impostos, permanecem no caixa do banco e funcionam como um colchão para fazer frente a possíveis perdas com inadimplentes.
O nível das provisões feitas pelo Bradesco deixam o banco coberto frente às incertezas da inadimplência e a distribuição de proventos seja feita com segurança.
O patrimônio líquido do banco é R$ 155,321 bilhões, alta de 2,8% em um ano. O retorno sobre o patrimônio líquido no primeiro trimestre foi de 10,6%, baixa de 7,4 pontos porcentuais em um ano, mas uma alta de 6,7 p.p. em um trimestre.
A satisfação dos acionistas no trimestre está informada também no relatório (Análise Gerencial dos Resultados). No dia 02/05/23 foram distribuídos 2,9 bilhões de Juros sobre o Capital Próprio.
Todo 1º dia útil do mês os dividendos, Juros Sobre o Capital Próprio (JCP) ou outros valores estão presentes nos calendários de distribuição de proventos. Faça sol ou faça chuva, o Bradesco não deixa de remunerar os seus acionistas. Valores na casa dos bilhões, que não se sabe a destinação.
Por outro lado, há sinais de que setores produtivos, na indústria, no comércio, no setor de serviços não financeiros, tendem a priorizar as aplicações na ciranda financeira, muito atraente, no atual piso de 13,75% ao ano. Ganho seguro, realizado com alguns cliques, colocando o dinheiro do aplicador “para trabalhar”.
Esses resultados espetaculares, infelizmente, não podem ser compartilhados, praticamente, por ninguém mais.
As empresas, entre elas as varejistas, cujas as dificuldades estão mais visíveis, idem a indústria automobilística, estão dizendo que as vendas estão caindo, enquanto ao atual presidente do BC diz que os juros estratosféricos são necessários para conter a demanda (?).
A situação das famílias está péssima. Alto e persistente desemprego, baixa renda, e as famílias endividadas chegam a 78,3%. Com dívidas em atraso, 29,1%. A cada 100 consumidores inadimplentes em abril, 45 estavam com atrasos por mais de três meses.
A produção industrial do país deu mais um passo para trás em fevereiro, ao recuar -0,2% frente a janeiro, obtendo o terceiro mês consecutivo de resultado negativo, acumulando nesse período uma queda de 0,6%. Há décadas, a participação do setor no PIB vem ladeira abaixo, com sério agravamento nos últimos anos.
A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) estima uma queda de 4,1% no volume de vendas no comércio varejista para o Dia das Mães, a segunda data mais importante para o setor. A taxa média de juros para as famílias nas suas compras a prazo encerrou o primeiro trimestre deste ano com os alucinados juros de 58,26% ao ano.
O setor de Serviços, que responde por 70% do PIB, teve um forte recuo no início do ano, com as atividades caindo em 3,1% em janeiro. O desaquecimento dos serviços, vilão pelo Banco Central por pressões inflacionárias, vai forçar ainda mais Campos Neto a baixar a taxa de juros.
J.AMARO