O general bolsonarista Walter Braga Netto, que foi preso no sábado (14), tentou “controlar as informações fornecidas” pelo ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, Mauro Cid, em sua colaboração premiada, mostram mensagens e documentos obtidos pela PF.
Braga Netto foi ministro da Defesa e da Casa Civil de Jair Bolsonaro, além de candidato a vice em sua chapa em 2022. Sua prisão preventiva ocorreu exatamente porque ele queria atrapalhar a investigação e esconder seus crimes.
As mensagens revelam que Braga Netto manteve contato com familiares de Mauro Cid e, possivelmente, até com o próprio colaborador da Justiça para saber o que a PF já sabia.
Em agosto de 2023, quando já era discutida a possibilidade de uma colaboração premiada de Mauro Cid, Braga Netto trocou mensagens e ligou para o pai do ex-ajudante de ordens, Mauro Lourena Cid.
Em depoimento mais recente à PF, Cid contou que quando fechou o acordo “não só ele [Braga Netto] como outros intermediários tentaram saber o que eu tinha falado”.
“Fazia um contato com o meu pai, tentavam ver o que eu tinha, se realmente eu tinha colaborado, porque a imprensa estava falando muita coisa, ele não era oficial, e tentando entender o que eu tinha falado”, continuou.
Os contatos ocorriam por telefone, contou Cid. Ele disse não saber se seu pai e Braga Netto chegaram a se encontrar pessoalmente.
Em agosto de 2023, quando o acordo ainda não tinha fechado, Braga Netto e Lourena Cid tiveram uma “intensa troca de mensagens”. Segundo a PF, desse momento em diante Braga Netto passou a monitorar a possibilidade de colaboração premiada de Mauro Cid.
A Polícia Federal também encontrou na sede do PL, partido de Jair Bolsonaro e Braga Netto, um documento com tópicos sobre depoimentos de Mauro Cid. O documento é em formato de perguntas e respostas e tem itens como “teor das reuniões: o que foi delatado?” e “o que está saindo na imprensa e não foi delatado?”. As respostas, para os investigadores, foram dadas por Mauro Cid ou representantes dele.
Um dos tópicos fala especificamente que Mauro Cid não falou nada sobre os “Gen [generais] Heleno e BN [Braga Netto]”. Segundo a anotação, Cid disse à PF que Braga Netto “não é golpista, estava com pensamento democrático de transparência das urnas”.
A Polícia Federal avalia que essa foi uma tentativa de Mauro Cid “tranquilizar os demais integrantes da organização criminosa de que os fatos relativos aos mesmos não estariam sendo repassados à investigação”.
Já em setembro de 2023, o general Mário Fernandes enviou para um colega uma mensagem mostrando que Braga Netto mantinha contato com a família Cid para saber sobre a colaboração. Fernandes foi idealizador do plano “Punhal Verde e Amarelo”, que previa os assassinatos de Lula, Geraldo Alckmin e Alexandre de Moraes.
No dia 12 de setembro de 2023, Fernandes falou para um interlocutor: “Sobre a suposta Delação Premiada do CID, a Mãe e o Pai dele (CID) ligaram para o GBN [General Braga Netto] e para o GH [General Heleno] informando que é tudo mentira!!!”.
Naquele momento, ao contrário do que os familiares de Cid informaram aos generais, Mauro Cid já havia fechado o acordo com a Justiça.
BRAGA NETTO NÃO É MILITAR
A avaliação da cúpula das Forças Armadas sobre os relatórios da PF que embasaram o indiciamento de Braga Netto e sua prisão preventiva é que ele atuava, naquele período, como político, e não como militar. A informação é de Valdo Cruz, do g1.
Um dos pontos levantados pelos militares é que Braga Netto, durante a organização da trama golpista, despachava da sede do PL em Brasília.
“Ele deixou de ser militar, ele virou um político, Braga Netto passou a ter uma atuação política, comandando um partido político”, falou um militar.
Os militares avaliam que a prisão de Braga Netto impacta negativamente na imagem das Forças Armadas. Para eles, a apresentação da denúncia e consequente julgamento do caso é importante para que haja uma “depuração” dentro das FFAA.
De acordo com a coluna de Valdo Cruz, os militares esperam que “o processo será uma depuração difícil, mas necessária para separar, em outras palavras, o joio do trigo — ou seja, os militares golpistas e os militares que se mantiveram fiéis ao Estado Democrático de Direito”.