
Marinha quer transformar Complexo de Itaguaí em uma “Embraer do mar”
Reportagem desta semana da revista Sociedade Militar afirma que as Forças Armadas brasileiras estudam buscar novos blindados na Europa em função das tensões entre Brasil e Estados Unidos. Segundo a matéria, “o Brasil atravessa um momento de redefinição estratégica em sua Defesa. A relação com os Estados Unidos, abalada desde a gestão de Donald Trump, expôs fragilidades históricas e colocou em pauta a necessidade de ampliar parcerias fora do eixo tradicional”.
A análise do periódico é baseada em informações publicadas pelo jornal O Estado de S. Paulo (Estadão), que destacou como as Forças Armadas enxergam essa mudança de rota. Entre os planos, estão a aposta em submarinos nucleares, a renovação da frota de blindados do Exército com tecnologia europeia e um fortalecimento da integração regional no Mercosul.
A situação ganhou contornos políticos após a Polícia Federal concluir um inquérito que envolvia Jair Bolsonaro e seu filho Eduardo, acusados de tentar obstruir processos no STF em aliança com interesses empresariais ligados a Trump. Para os militares, ficou claro que as pressões americanas sobre o Brasil não obedeciam ao pragmatismo histórico da diplomacia de Washington, mas a cálculos políticos de desgaste ao governo Lula.
A Operação Formosa 2024, tradicional exercício de grande escala dos Fuzileiros Navais no Cerrado, foi a última edição realizada antes do cancelamento em 2025, decisão do governo brasileiro em resposta ao agravamento das tensões políticas e militares com os Estados Unidos. Na sequência, o Brasil anunciou o fim da participação internacional na Operação Formosa, dos Fuzileiros Navais, e da Operação Core, do Exército, realizada na caatinga.
A percepção de que os EUA intensificavam sua presença militar perto da Venezuela, com 4 mil fuzileiros navais deslocados para a região, reforçou a leitura de que o Brasil deveria evitar dependência excessiva de Washington. Essa mudança de postura também encontrou respaldo na sociedade. Uma pesquisa Genial/Quaest revelou que 5% dos brasileiros já demonstram preocupação com a possibilidade de o País se envolver em uma guerra, um dado inédito e que pressiona por investimentos internos em Defesa.
Dentro do Exército, cresce a defesa por parcerias que extrapolem os EUA sem, no entanto, ceder à dependência chinesa. Itália, Alemanha, França, Suécia e Turquia são vistas como opções de médio prazo. O desafio, porém, é competir com a alta demanda dessas nações, que priorizam suas próprias forças armadas em meio à rearmamentação global.
A Marinha do Brasil aparece em posição relativamente mais confortável, fruto de sua parceria de longa data com a França no âmbito do Prosub. A ambição da Força Naval é transformar o Complexo de Itaguaí em uma “Embraer do mar”, produzindo embarcações não apenas para uso interno, mas também para exportação a países da América do Sul. Para viabilizar essa meta, o BNDES deve ser acionado como principal financiador.